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Alunos/Atletas (e professores) de Alto Rendimento

O Ministério da Educação (ME), às vezes, lembra-nos aqueles jogadores que tão depressa conseguem uma exibição de encher o olho — como se diz na gíria — como passam 90 minutos sem uma jogada convincente, ou a serem lembrados pelos piores motivos.

Exibição de excelência, lembro concretamente as Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE) que tiveram o seu início em Montemor-o-Velho em 2009, possibilitando a criação de turmas com atletas que se encontram na via para o alto rendimento, permitindo-lhes uma gestão diária de um tempo ótimo de aprendizagem na escola com igual preocupação no tempo de treinos e competições.

Resultados divulgados recentemente mostram-nos que o número de alunos/atletas (AA) que usufruem deste programa tem vindo a crescer de forma sustentada com a adesão de inúmeras novas escolas, o que possibilitou, neste ano letivo, a existência de mais de oito centenas de AA de diferentes modalidades em mais de duas dezenas de escolas no país - quatro no nosso distrito - a beneficiarem destes apoios.

Obtiveram-se resultados muito positivos no desempenho académico (95,6% de sucesso) e na parte desportiva em competições nacionais e internacionais. (fonte - O Jogo)

O secretário de estado da juventude e desporto ao ter conhecimento do sucesso destas UAARE, afirmou: “os últimos resultados internacionais do país com jovens atletas devem-se a este programa”. Pedindo desculpa antecipadamente, mas quando o assunto se refere ao ME, tendo a discordar, convictamente também, digo: “não, sr. secretário de estado, os excelentes resultados desportivos obtidos por jovens atletas já aconteciam antes deste programa existir e, como habitualmente, à custa do esforço dos AA, pais, clubes, associações e federações desportivas. Este programa ajuda-os e é muito importante, principalmente no sucesso académico. E sabe quem os treina, aí? Não deve imaginar, mas eu digo-lhe, são professores de alto rendimento também, que para cumprirem com tudo o que é solicitado e para que nada falte a estes alunos - possibilitando-lhes estar de “cabeça limpa” em treinos e competições - abdicam de muito do seu (merecido) tempo de recuperação. Sim, porque não sei se tem conhecimento, mas não são apenas os atletas que têm de recuperar para depois atingirem novos e mais altos patamares de excelência nas provas e competições em que participam, aos professores acontece o mesmo. Sabe porquê? Todos somos humanos.

Carl Sagan escreveu “se não podemos pensar por nós mesmos, se não estamos dispostos a questionar a autoridade, somos apenas massa de manobra nas mãos daqueles que detêm o poder”.

É por isso que nós, professores, não nos devemos deixar intimidar nem cair no conformismo e, assim como valorizamos a excelência das escolas UAARE, conseguimos dizer que abominamos a forma como o poder político tem (des)tratado a profissão docente e desinvestido na educação que é, queiramos ou não, o que define a curto, médio ou longo prazo, o futuro de um país.


Autor: Carlos Mangas
DM

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6 janeiro 2023