A oposição na Câmara Municipal de Caminha acusou esta sexta-feira a maioria socialista de «brincar com o erário público». Em causa está a encomenda de um parecer de 20 mil euros para o pavilhão multiusos que decidiu não construir.
«Não entendemos o porquê desse parecer se já revogou [o contrato para a construção do Centro de Exposições Transfronteiriço (CET)] (…) Não estamos a falar de um parecer de mil ou dois mil euros. Estamos a falar de 20 mil euros. Isto é, no mínimo, surreal», afirmou Liliana Silva, vereadora eleita pela coligação “O Concelho em Primeiro” (PSD/CDS-PP/Aliança/PPM).
Contactada pela Lusa a propósito da notícia avançada pelo jornal Público sobre um contrato da Câmara de Caminha para a elaboração de um parecer, de 19 mil euros (mais IVA), depois de o executivo ter decidido, por unanimidade, a resolução do contrato de construção do CET, Liliana Silva considerou «não fazer qualquer sentido» aquela decisão. «Este CET, a brincar, a brincar, já fez com que a Câmara de Caminha deitasse fora mais de 400 mil euros. Isto é brincar com o dinheiro dos caminhenses», salientou Liliana Silva.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Caminha, Rui Lages, justificou a elaboração do novo parecer com o «compromisso» que assumiu perante o executivo municipal. «Seja qual for o resultado, pode ser-nos útil na estratégia jurídica a seguir em diante», adiantou.
No dia 16, a Câmara de Caminha aprovou, por unanimidade, a resolução do contrato promessa de arrendamento para fins não habitacionais celebrado, em 2020, entre o ex-presidente daquela autarquia e ex-secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves, e a sociedade comercial por quotas Green Endogenous, de Ricardo Moutinho, para a construção do CET.Segundo o Público, Rui Lages assinou na segunda-feira um contrato com uma sociedade de advogados que tem como objeto a elaboração de um parecer sobre uma matéria que já foi decidida por proposta do próprio autarca. O parecer jurídico, que vai custar 19 950 euros (mais IVA), foi encomendado à Sérvulo & Associados e deverá ser emitido no prazo de 30 dias por Rui Medeiros, professor da Universidade Católica e sócio daquela sociedade de advogados.
O anúncio do pedido de parecer foi feito por Rui Lages, em reunião camarária, no passado dia 2.Nessa sessão, além do parecer, o autarca informou o executivo municipal que o promotor Ricardo Moutinho estava disponível para pagar uma caução ou fazer uma hipoteca para construir o CET, o que nunca aconteceu e que motivou a resolução do contrato aprovada pelo executivo municipal no dia 16.Na ocasião, Rui Lages adiantou que iria «acionar os mecanismos legais para que a Câmara Municipal tenha em seu poder o dinheiro que foi adiantado a título das rendas do 25.º ano do contrato de aluguer do CET e de todos os demais procedimentos necessários».
Em abril de 2021, o município adiantou ao promotor uma verba de 369 mil euros para a concretização da obra, que nunca avançou e que está a ser investigada pelo Ministério Público (MP). Daquele montante, 300 mil euros serviram como adiantamento das rendas relativas ao 25.º ano do arrendamento e os 69 mil euros são relativos ao pagamento do IVA.
Autor: Redação/Lusa