A ilusão
De vez em quando, sobretudo quando é útil para justificar situações menos claras, surgem uns estudos, encomendados e pagos pela parte interessada (Clube), que direcionam, obviamente, para os resultados pretendidos.
Recentemente, e após a entrada de um novo investidor, o SC Braga apresentou, de forma inopinada, um trabalho encomendado a uma empresa externa cuja conclusão vai de encontro ao pretendido, ou seja, serve para justificar a inevitável tomada do clube por uma entidade estrangeira, possuidora de fundos inesgotáveis – mas pouco recomendável.
Tal estudo aponta, como seria de esperar, que para ser possível imiscuir o SC Braga na disputa do título nacional é imperiosa a injeção de muito dinheiro.
Será que estou equivocado e que não ouvi a promessa, há cerca de três anos, de que o nosso clube iria ser campeão, e que, futuramente, com a centralização dos direitos televisivos, as receitas iriam aumentar substancialmente, nada mais sendo necessário para colocar o clube num patamar superior? Penso que ouvi e li estas declarações, como todos os braguistas.
De acordo com as regras da UEFA, que vão ser mais apertadas, e, mais cedo ou mais tarde, haverá aplicação das mesmas pela Liga de Futebol, em Portugal, não será possível injetar-se dinheiro indiscriminadamente, uma vez que os patrocínios fictícios não serão tolerados, sendo (previsivelmente) cada vez mais difícil contornar as regras do fair-play financeiro, estando igualmente previstas penalizações mais pesadas para quem não cumprir.
Portanto, não se iludam aqueles que pensam que o dinheiro gera automaticamente campeões, pois é fundamental uma gestão eficiente e equilibrada, tendo como missão principal a sustentabilidade do clube no médio e no longo prazos.
Existem excelentes exemplos de grandes clubes europeus que pertencem e sempre pertencerão aos seus sócios, como o Bayern Munique, o Real Madrid, o Barcelona, entre tantos outros, sendo também relevante o facto de nas últimas dez competições da Champions League oito terem sido ganhas por clubes que pertencem totalmente, ou na sua grande maioria, aos sócios.
Assim sendo, a teoria de que os campeões só existem com investidores externos cai completamente por terra.
Por fim, é importante referir a contestação cada vez mais notória, de diversos países, insurgindo-se contra a realização do Mundial de Futebol no Qatar, e a forma como foram/são atropelados os direitos fundamentais dos seres humanos, pelo que seria interessante uma contestação mais forte e enérgica, por parte dos bracarenses, à venda da SAD do SC Braga a este tipo de investidores – precisamente do Qatar.