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UMinho ajuda a preservar monumento indígena nos EUA

UMinho ajuda a preservar monumento indígena nos EUA
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Publicado em 10 de novembro de 2022, às 11:40

A equipa de Paulo Lourenço é, de acordo com a UMinho, uma referência mundial na alvenaria histórica e no risco sísmico, e foi chamada para avaliar os sistemas construtivos de Wupatki.

Uma equipa da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (EEUM) esteve envolvida na preservação de parte do Monumento Nacional de Wupatki, um ícone da cultura nativa dos Estados Unidos da América (EUA). Em comunicado, a Universidade do Minho explica que foi aplicada uma mistura natural de pedra e terra no processo de preservação. A aplicação é inovadora nos EUA e num caso de estudo desta importância, pois a maioria das aplicações do género é laboratorial. O trabalho insere-se num projeto de 1.3 milhões de dólares financiado pela Fundação Getty e pode vir a ser aplicado no futuro a outros patrimónios culturais e naturais em risco devido às alterações climáticas. Paulo Lourenço, professor catedrático do Departamento de Engenharia Civil da EEUM e diretor do Instituto de Sustentabilidade e Inovação em Engenharia de Estruturas (ISISE), afirma que “o aquecimento global acelerou a deterioração do monumento, que revela uma significativa experiência humana na terra”. A equipa de Paulo Lourenço é, de acordo com a UMinho, uma referência mundial na alvenaria histórica e no risco sísmico, e foi chamada para avaliar os sistemas construtivos de Wupatki. O trabalho de campo iniciou-se em 2022 e, até 2024, junta professores, estudantes e indígenas para desenvolver métodos sustentáveis de mitigação do risco. No trabalho de avaliação das estruturas – algumas delas frágeis – foi utilizada tecnologia laser e modelos 3D. Depois, a equipa da UMinho, que inclui os investigadores Rui Silva e Laura Gambilongo, injetou argamassa fluida em fendas e juntas onde a água encontrou caminhos para erodir o material. A nova mistura natural aplicada baseia-se em solos locais, com adição de pó de calcário. Nas últimas décadas, já tinham sido tentados vários tipos de estabilização que pareciam funcionar por um tempo, mas nem sempre eram ambientalmente e estruturalmente adequados. Isso levou a retomar o uso de materiais naturais e menos invasivos. Eventos extremos como as chuvas intensas de 2018 são uma ameaça maior do que o calor e a seca, pois sobrecarregam os sistemas terrestres de rocha e solo de Wupatki. A par dos monumentos vizinhos de Sunset Crater Volcano e Walnut Canyon, Wupatki destaca-se pela preservação das ruínas, pela importância ancestral e pela diversidade geográfica. Além da paisagem de rocha vermelha povoada por coelhos, coiotes e águias, o parque de 90 quilómetros quadrados no Arizona possui mais de 5000 sítios arqueológicos indígenas. O coração deles, Wupatki Pueblo, é um complexo de 900 anos com paredes em alvenaria de pedra, que abrigou as tribos Hopi, Zuni, Navajo, Yavapai, Havasupai, Hualapai, Apache e Paiute. Recebe 200.000 visitantes por ano, mas está vulnerável face a séculos de instabilidade sísmica, inundações, deslizamentos e, hoje, eventos climáticos extremos.

O convite à Escola de Engenharia da UMinho surgiu pelo professor Frank Matero, do Centro de Conservação Arquitetónica Weitzman da Universidade de Pensilvânia. O responsável recebeu a verba da Fundação Getty para coordenar um plano de gestão e conservação do monumento nacional indígena, o qual celebra 100 anos em 2024, integrado no Serviço Nacional de Parques dos EUA. Este projeto une ainda o Programa de Recursos Culturais Wupatki, o Programa de Tesouros Desaparecidos, o Centro Ocidental de Preservação Histórica e o Corpo de Conservação de Terras Ancestrais dos EUA, pois prevê-se igualmente ações de formação sobre os valores e práticas indígenas e oportunidades de carreira para jovens descendentes das tribos do Arizona.

“Esta ampla parceria científico-cultural é exemplar na mitigação, adaptação e valorização do património natural e construído, numa fase de aceleração das alterações climáticas”, realça Paulo Lourenço. A metodologia, na qual se espera obter soluções inovadoras, pode servir de modelo para locais similares nos EUA e no mundo. Este é o terceiro projeto com Paulo Lourenço que é apoiado pela Fundação Getty – sediada em Los Angeles (EUA) e dedicada à preservação da arquitetura –, após a Estação Central da Beira (Moçambique) e as Piscinas das Marés (Leça da Palmeira/Matosinhos), a que acrescem projetos com o Instituto Getty de Conservação no Peru, nos Emirados Árabes Unidos e em Myanmar.


Autor: Redação