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Serenamente…obrigado!

Caro amigo, camarada, Monsenhor,

Todas as palavras que possa escrever esquecerão, inevitavelmente, muito dos predicados que lhe são merecidos, mas manda a razão dos factos, que me cinja, nesta curta mensagem, a destacar a sua nobreza de princípios e de valores tão caros à Democracia e à Liberdade de Expressão que, não o fazer, seria incomportavelmente, um ato de injustiça. O mesmo homem, sereno, vertical, respeitado, que vi na homenagem que lhe foi prestada, na passada sexta-feira, é o mesmo que conheci há cerca de quarenta anos. Numa evocação dos seus méritos, ocorrida na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, no âmbito do ciclo de conferências mensais “Conhecer Braga: suas instituições, seus ilustres bracarenses e seu património”, muito foi dito e muito ficou por dizer, desde logo, porque Braga deve-lhe a ele e a muitos jornalistas da sua geração, a defesa inabalável da verdade como fio condutor do profissional que foi. Regresso, por momentos, aos anos 80 e às dificuldades sentidas por todos e, particularmente, para um iniciado como eu nas lides das redações, quando recebi, pela primeira vez, o apoio de um decano ao trabalho de um jornalista de facto, mas não de direito, nas famosas rádios pirata. Foi através de Monsenhor e da preocupação manifestada pelo então Arcebispo, D. Eurico Dias Nogueira, com o fenómeno das rádios locais, que recebi um convite para estar pela primeira vez presente no convívio anual da classe com o prelado, na evocação do Dia consagrado pela Igreja à Comunicação Social. Até aí, tudo era difícil: o acesso a conferências de imprensa e a cerimónias públicas que pediam a presença de jornalistas, era um martírio. Contei sempre com a sua ajuda e compreensão e, se não fosse por mais nada, bastaria esse gesto, para um profundo reconhecimento do seu papel no equilíbrio das expectativas. Mas isso é pouco se quisermos ser justos. Como bem evocou Eduardo Jorge Madureira, na cerimónia de homenagem, o seu rigor era de tal forma reconhecido, que ninguém ficava indiferente, tornando-se ele próprio fonte fidedigna: “pude testemunhar a sua presença nas reuniões da Câmara Municipal de Braga, na altura pelo Diário do Minho. Fazia-o com extrema competência e, quando havia divergências entre os partidos, não era à ata que se ia buscar a argumentação, mas ao texto que ele tinha escrito e que saía no jornal no dia seguinte”. Silva Araújo, com quem trabalhei de perto, na minha passagem pela Rádio Renascença (1986-1987), trabalhava incansavelmente como se o tempo jogasse a seu favor sempre que era confrontado com as dificuldades, incompreensões, ameaças várias e queixas muitas de quem o olhava como demasiado independente para fraquejar aos desmandos dos que lhe apontavam a espada, esperando um encosto da sua parte à parede. Tiveram azar! Evocar a sua liberdade de pensamento e ação é, também, uma homenagem ao seu legado que muitos dos seus camaradas de redação no Diário do Minho e fora dele, não esqueceram. Há cerca de um ano, quando foi criado o Movimento de Cidadania Contra a Indiferença, entrei em contacto com Monsenhor para o convidar, na qualidade de cidadão, a ser um dos primeiros subscritores do Manifesto Contra a Indiferença. Confesso, hoje, que estava cético e que iria ouvir um rotundo Não. Nada disso, ouviu-me e serenamente disse que sim. A sua sintonia com os objetivos do documento ajudaram-me nesta longa batalha comum pelo exercício da Cidadania política ativa e pelo combate à Abstenção. Tornou público o seu apoio ao Movimento, ajudando a que outros se convencessem da justeza do seu enunciado. São parcos exemplos, aqui registados, uma experiência que nunca esquecerei. O alcance da sua ação como Homem da Liberdade e da Democracia está registado. Uma herança plena de bons exemplos para as novas gerações, assim estas sejam capazes de se inspirarem no seu exemplo. Nunca quis medalhas nem estatuto distinto no seu percurso como sacerdote e jornalista. Foi e é o que é. Serenamente… Obrigado Silva Araújo.


Autor: Paulo Sousa
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25 setembro 2022