twitter

Senhores políticos, não dêem cabo da democracia!

É sabido que a democracia é um regime frágil e manipulável. Sujeito a habilidades. À mercê de lobbies. Mal amanhado pelos boys e com ajustes directos para os amigos. A práticas esquisitas. Aqui pode encaixar-se a máxima churchilliana para tentar justificar a sua debilidade congénita: “a democracia é a pior forma de governo excepto todas as demais”.

1 - Para a democracia ser funcional e responder satisfatoriamente à sua vocação política e social de estar ao serviço da liberdade, das instituições e do país, exige de cada cidadão um elevado grau de consciência cívica e crítica para se defender da trama partidária (propaganda, fantasias, ilusões) e acautelar-se dos políticos de meia tigela que vendem promessas ao desbarato, mas que se desmazelam com os negócios públicos. (O caso das “Golas anti-fumo” é paradigmático desta falta de responsabilidade e de decoro, perante a coisa pública que é agravada ainda pela contratação de advogados suportados pelo erário público pela via travessa).

Se por um lado, a corrupção, a arrogância, o nepotismo, pecados do poder, fragilizam o regime, por outro lado, a pobreza e as desigualdades são dois “emblemas” socialmente degradantes que a caracterizam, tornando-a ainda mais vulnerável, insegura e desacreditada. E a verdade é que, ao fim de 48 anos de democracia, há pobres a mais e desigualdades demais. E este retrato social não fica bem. O que se vê na sociedade nacional de hoje prova que a democracia não tem sido eficiente, nem tem funcionado com diligência.

Quando uma democracia entra na fase da estagnação, das rotinas e das fantasias, indicadores sérios de alerta e sinais evidentes de desgaste e de desnorte, o botão de pânico deveria ecoar pelos corredores do poder para obrigar os políticos a repensar verdadeiramente na caminhada encetada, nos resultados obtidos e, consequentemente, na vitalidade do regime. Esta tomada de consciência dar-lhe-ia outra importância, outra respeitabilidade e outra razão.

2 - Estamos num tempo de poder absoluto. A democracia, na sua génese, não gosta muito do absoluto, porque dá azo a abusos de toda a espécie, à arrogância e ao favoritismo, como está a acontecer com esta vaga socialista que se julga a dona disto tudo. As contratações polémicas para os gabinetes ministeriais e os ajustes directos pouco transparentes e irritantes levados a cabo neste reinado são o corolário destas práticas completamente fora do tempo e do espaço.

Quando o poder absoluto é exercido com a arrogância, do género, “o governo cairá, quando precisar do apoio do PSD”, demonstra inequivocamente a vesguice política que agora se vive e se sente. Neste tempo de crise, o governo está sem rumo definido e à deriva. Assim o quer!

3 - A democracia tem imperfeições, é verdade. Precisa, por isso, de ser trabalhada, reflectida e enriquecida. Assim, evitaria acomodar os erros grosseiros e repetidos que se vão cometendo e não pactuaria, de modo nenhum, com os autores pelo declínio do país. Como resultado final, estes pactos e acomodações degradam e ferem a confiança dos cidadãos, levando-os a desinteressarem-se da coisa pública. Em contra ponto e é salutar referir que a democracia é ainda aquele regime que prima, fundamentalmente, pela liberdade e pela tolerância.

4 - Os alicerces democráticos assentam na liberdade, na tolerância, na diferenciação ideológica. E também na responsabilidade. Nesta linha, não compete ao Estado ser o controlador da vida das pessoas e das empresas privadas. Não pode ser metediço ideologicamente. As opções dos cidadãos e das empresas devem ser livres e respeitadas, estando o Estado num patamar bem acima e deixar a sociedade fluir, viver, conviver com normalidade. Quando mete bedelho, e a esquerda faz isso com frequência, a prepotência surge e chega até a roçar a intencionalidade persecutória como aqueles “argumentos infelizes” proferidas pelo dr. Costa à Endesa a propósito de um “anúncio televisivo” exposto pelo presidente dessa operadora eléctrica.

5 - Quando as coisas chegam a este ponto de “ameaças veladas”, as relações institucionais azedam e os conflitos ganham corpo que se revertem, depois, em inutilidades que só trazem problemas para o bem estar e tranquilidade empresarial e, naturalmente, para o investimento privado. Nesta rota cinzenta, a democracia nacional não se afina por padrões de liberdade, de concorrência e de respeito pelo papel desempenhado pelos parceiros sociais. Segura-se, antes por gavinhas ideológicas que se agarram e se entrelaçam a conveniências retrógradas e anti-desenvolvimentistas e a interesses partidários mesquinhos.

É caso para se dizer: senhores políticos, não dêem cabo da democracia! Deixem-na em paz!


Autor: Armindo Oliveira
DM

DM

18 setembro 2022