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Símbolos da cultura judaica

Desde 1996 que se celebra, a 4 de setembro, o Dia Europeu da Cultura Judaica. Portugal associou-se a esta celebração dezoito anos mais tarde, em 2014. O objetivo deste dia é “dar a conhecer melhor a cultura judaica e as suas tradições nos países europeus, através de atividades relacionadas com esta cultura”. É também com este objetivo que damos início a algumas crónicas dedicadas a este assunto, começando pelos símbolos mais significativos da cultura judaica: a menorah, a estrela de David, a mezuzah, o kipah, os tefilin e o talit.

A menorah1 é um candelabro com sete braços (uma alusão aos sete dias da criação) e uma base de sustentação, chamada shabat, fundamento do judaísmo. O primeiro foi construído segundo as instruções de Ex 25, 31-40. Colocado, em primeiro lugar, no tabernáculo, foi posteriormente levado para o Templo de Jerusalém. O objetivo deste candelabro é iluminar, numa referência às passagens bíblicas em que se afirma que o povo judeu iluminará toda a humanidade. Na atualidade, este candelabro é exibido nas sinagogas, mas não nas residências particulares.

A estrela de David é um símbolo judaico que apenas começou a ser usado por altura da Reforma Protestante. Foi popularizado nos meados do século XX, em virtude de Hitler a ter usado para marcar e estigmatizar os judeus. Juntamente com a menorah, aparece na bandeira de Israel, exatamente para lembrar que a fundação do estado judaico, em 1948, tem muito a ver com os seis milhões de judeus que morreram nos campos de concentração do regime nazi, por altura da Segunda Guerra Mundial.

A mezuzah (“umbral, batente”) é um mandamento da Lei que ordena que seja afixado nas portas um pequeno rolo de pergaminho que contém dois importantes textos da Lei: Dt 6, 4-9 (“Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único!...”) e Dt 11, 13-212. Os judeus colocam-na na entrada da sua residência para lembrar a Lei e a aliança perpétua com Deus.

O kipah (“cobertura”) é um chapéu, boina ou touca que os judeus utilizam como símbolo da sua religião e do temor a Deus. É usado sobretudo nas cerimónias e nas ocasiões mais solenes e serve para dizer publicamente que quem o utiliza segue os preceitos da Lei e teme a Deus.

Quando reparamos nos judeus ultraortodoxos, percebemos que eles têm atado no braço esquerdo ou na cabeça (mais precisamente na testa) umas pequenas caixas de couro, dentro das quais está contido um pergaminho com quatro trechos da Lei em que se baseia este uso (Ex 13, 1-10; 13, 11-16; Dt 6, 4-9; 11, 13-21). São os tefilin (“orações”), conhecidas também, em português, como filactérias, palavra de origem grega que significa “lugar avançado”, “fortificação” ou “proteção”. Assim se explica o uso destes objetos como proteção ou amuleto.

Ao participar no barmitzvah3, pelos 13 anos, os meninos judeus recebem do avô ou do pai um manto que os acompanha durante toda a vida. Chama-se talit e é um acessório religioso, em forma de xaile, feito de seda, lã ou linho, com franjas nas extremidades. Representa o isolamento do mundo, em ordem à intimidade com Deus, e visa criar um ambiente de igualdade entre os que, na sinagoga, estão a rezar. É usado nos momentos de oração e no casamento, podendo ainda servir para envolver o corpo de um judeu que falece.

Conhecer e saber decifrar os símbolos da cultura judaica não acrescenta nada à fé cristã, mas ajuda a superar preconceitos, em ordem ao respeito e ao diálogo com os judeus, de quem herdamos boa parte das escrituras vetero-testamentárias e uma vasta tradição. Assim o recomenda o Concílio Vaticano II (cfr. Nostra Aetate, n.º 4) e tantos outros pronunciamentos da Igreja que têm em vista uma maior aproximação ao mundo judaico e a clara condenação do antissemitismo, de que estão eivadas a história e a cultura europeias, a ponto de ter sido necessário instituir este Dia Europeu da Cultura Judaica.

1 Há um outro candelabro, de nove braços, chamado hanukiah, utilizado durante a Festa das Luzes (hanukah), com que se comemora a libertação e dedicação do Templo de Jerusalém do domínio grego, no ano 164 a. C., por Judas Macabeu.

2 O termo mezuzah é hoje usado não apenas para o mandamento, como também para o objeto que contém os referidos textos da Lei

3 O termo significa “filho do preceito” e é usado para designar a cerimónia na qual os meninos judeus se tornam participantes regulares da sinagoga e leitores assíduos da Palavra de Deus.


Autor: P. João Alberto Correia
DM

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12 setembro 2022