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Braga: cidade quente, cidade fria

A cidade de Braga, no verão, tem sido acompanhada por temperaturas tórridas. De facto, a cidade tornou-se, há uns tempos, uma fornalha e bem ardente. Situação bastante anómala para uma região verde e influenciada, de alguma maneira, pela aragem fresca do mar.

1 - O problema não se fica só pelo calor estival, mas também pelo frio que se faz sentir no inverno. Este fenómeno climatérico, já por si suficientemente concreto, presente e preocupante, deveria fazer repensar os autarcas da urbe para agirem e bem depressa com medidas efectivas de forma a atenuar os efeitos reais daí provenientes. Ainda não é bem sabido qual o grau de incidência das alterações climáticas no seu possível agravamento. Em todo o caso, convinha ter esta realidade bem presente, enquanto se tem tempo para actuar. Outro fenómeno, natural ou produto de mão criminosa, que tem decorrido em larga escala no todo nacional, e também se sente na região minhota, os fogos, vem acelerando o aquecimento global e a destruição da massa arbórea com as consequências desastrosas para os sistemas ecológicos.

Neste assunto, estamos entendidos: a cidade está mais quente no verão e mais fria no inverno. Disso não restam dúvidas.

2 - A Braga-política continua anestesiada pelas “festas e festinhas”. E não há volta a dar a esta agenda de enrolamento de actividades “ruidosamente culturais” que dimanam do “Gabinete de Propaganda da Câmara Municipal” - (GPCM). A verdade é que o GPCM não tem regateado esforços para oferecer bons dias de folia, uns enrolados noutros, para mobilizar os festeiros a aderirem em peso aos eventos que se vão realizando nas ruas, praças e esplanadas da urbe. Todo o motivo é motivo de montar palcos para depois os desmontar. Montar e desmontar, tudo num frenesim bipolar que causa assombro. Às vezes, insuportável. Todo o motivo é motivo para encher espaços de gente e fazê-los agitar numa estratégia discutível de chamar ainda mais gente para apresentar números retumbantes de milhares de visitantes e se baterem recordes. Marcas interessantíssimas para a História “cultural” da cidade e para o bom viver dos bracarenses. Aparentemente. E só aparentemente.

É de louvar esta mobilização para levar as pessoas a divertirem-se, dar ao capacete, consumir doses industriais de “comes e de bebes” para animar o comércio local. Só que tudo isto é efémero e um tanto oco. Até bizarro. Mas, é isso que temos e é isso que querem dar em força, como oferta cultural para entreter o pessoal.

3 - Enquanto se canalizam todas as energias e muito dinheiro para o sector lúdico, as outras “necessidades” da cidade e do concelho ficam estagnadas nos arquivos dos quereres e das intenções. E lá acaruncham. De vez em quando, nos momentos chave, naqueles momentos de fragilidade política, as gavetas dos quereres são abertas para fazer novos (velhos) anúncios. Assim, o caruncho se espalha pelos órgãos de comunicação social e os “ataques” da oposição se diluem para se voltar a engavetar tudo e voltar um pouco mais tarde a anunciar os velhos quereres. É o que tem acontecido com o malfadado “Parque das Sete Fontes’, zona verde, já famosa pelos sucessivos adiamentos, negociações, projectos e execuções fictícias. E, depois, mais promessas. Tudo se repete numa cadência exasperante. Entretanto, do outro lado da cidade, o GPCM avança com mais uma festinha para animar a malta. E a malta até vai gostando. E alinha, porque o tempo é de festa e para festas. E nesta festança, os autarcas batem palmas. E sorriem.

4 - É indiscutível que Braga precisa de investir fortemente na construção de novas áreas verdes de tamanho considerável na sua periferia. Mesquita Machado prometeu o Parque Norte. Não foi construído. Ricardo Rio, já lá está há nove anos, prometeu um Picoto arborizado e seguro. Prometeu um “Sete Fontes” excelente. Prometeu a requalificação das zonas ribeirinhas. Prometeu zelar e vivificar as linhas de água do concelho. Promessas e mais promessas por se cumprirem na sua totalidade. É ponto assente: Braga precisa de amortecedores climáticos. Ou seja, de espaços arborizados, para enfrentar os estios quentes e os invernos frios. Braga precisa de ser verde, muito verde para ser a cidade verde no futuro. Braga precisa de investir na aquisição de terrenos para construir espaços, bons espaços, sempre arborizados, de convívio, de lazer, de vida. Braga precisa de um Parque da Cidade. Não é, nem será com festas que o problema climático na cidade se resolverá. Pela certa!

Investir fortemente no ambiente é o mais inteligente. E o mais sensato. E dá animação! E futuro.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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11 setembro 2022