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Caminhamos ou não para o fim da ilusão?

Foi certamente muito contestado, mas sempre porque alertava para o mais que provável colapso das finanças públicas e vivia também preocupado com as pessoas e o seu país.

Advogado e ex-ministro das Finanças, o falecido Dr. Medina Carreira, escrevia já em 2008 sobre a necessidade imperiosa de levar a cabo uma transformação profunda do País, para prosseguir rumo ao progresso. O Fim da Ilusão, é pois uma obra onde ainda hoje encontramos o retrato em grande parte da nossa realidade, talvez por isso e porque entendo oportuno, ouso agora referir parte de um texto da época, afinal ainda tão atual, que deve servir-nos de reflexão. ...

"Sem mais economia só pode haver menos social.É certamente viável redistribuir melhor, discriminando positivamente. Mas não se redistribui mais.São já conhecidos os setores e os vícios que mais afetam a nossa economia. Os que se situam na área pública ou que do Estado dependem só por ele poderão ser solucionados, através de medidas e de reformas que diminuam ou reduzam as suas consequências negativas. Mas numa economia internacionalizada, como é a atual, tudo o que pode exigir-se ou esperar-se é a criação das condições indispensáveis à atração dos investimentos que nos convém: os de mais rápida reprodutividade, destinados às exportações e à substituição de importações. É por isso surpreendente que entrem e saiam governos, ficando sempre tudo na mesma ou quase. Sem caráter exaustivo, é óbvia e imperiosa a necessidade de mudar muito no ensino, o nosso maior reprodutor de mediocridade e que está a hipotecar o futuro daqueles que finge promover; na formação passa-se o mesmo, fazendo-se crer na possibilidade de aprender em poucos meses aquilo que só se pode aprender em alguns anos; na justiça permanecem as demoras sem fim e sem previsão, que a tornam, em grande parte, desacreditada, inútil e aleatória; o sistema de impostos é pesado, complicado sem vantagens, sempre instável, por vezes abusivamente agressivo e iníquo devido ao elevado peso da tributação indireta; a Administração Pública continua sem reorganização, requalificação, rejuvenescimento e reequipamento, porque quase tudo isso passa ao lado... a grande burocracia está cristalizada, como se confirma com a existência dos Projetos de interesse Nacional, necessários só para quem o governo entende contemplar; a grande corrupção está para ficar e mesmo para crescer, indiferente às medidas com que apenas se simula querer combatê-la... a multidão dos licenciados sem trabalho não encontra qualquer resposta que os reconverta profissionalmente; o mercado de arrendamento continua a não existir e nada se faz aí com consequências relevantes. Sem tempo, sem verdade e sem qualidade na política, como até aqui, nenhum Governo conseguirá realizar em Portugal a obra que o futuro nos impõe. Se a verdade nos assusta em vez de nos mobilizar, resta-nos apenas a capitulação perante os sofistas que temos tido e perante os seus herdeiros. Só haveremos, então, de queixar-nos de nós próprios."

O Fim da Ilusão pode ser uma obra polémica, mas parece evidente que continua em parte atual no contexto político e económico em que vivemos. Por outro lado, já Economistas como Daniel Altaman, na sua obra " A Crise Mundial", creio em 2011, alertava para o que seriam as próximas décadas com enormes riscos, tendências e oportunidades, dando particular relevância ao aquecimento global e suas consequências, às políticas de imigração, às dificuldades das estruturas políticas para resolver os maiores problemas da humanidade.

Convirá estarmos atentos perante tantos desafios que vamos ter de enfrentar, porque infelizmente o futuro está cada vez mais cheio de incertezas. Fazemos parte de uma Europa que também não está só no mundo e que se defronta com inúmeros problemas, mesmo para manter a tão desejável coesão entre países. É realmente preciso ter muita fé e acreditar que seremos capazes de vencer os obstáculos que vamos ter de ultrapassar. Portugal pode não estar só, mas tem de fazer bem a sua parte, nomeadamente apoiando os seus cidadãos e tentando encontrar soluções para os seus problemas.

Destaque

Portugal pode não estar só, mas tem de fazer bem a sua parte, nomeadamente apoiando os seus cidadãos e tentando encontrar soluções para os seus problemas.


Autor: J. Carlos Queiroz
DM

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10 agosto 2022