Imolação por amor. Assim se intitula um interessante livro que, há muitos anos, li sobre Edith Stein (Santa Teresa Bendita da Cruz), cuja Memória Litúrgica se celebra amanhã, dia 9 de agosto. O livro foi escrito por Eduardo Gil Muro e editado, em parceria, pelo Apostolado da Oração (Braga) e pelas Edições Carmelo (Oeiras), no já distante ano de 1989. O seu título parece evocar uma das afirmações mais categóricas da pessoa em questão: “A essência mais íntima do amor é a doação”.
A vida e as circunstâncias da morte de Teresa Benedita da Cruz revelam uma mulher de um caráter extraordinário, de uma grande inteligência e de uma fé profunda que importa conhecer melhor e propor como modelo de vida cristã.
Edith Theresa Hedwig Stein, de ascendência judaica, nasceu na cidade alemã de Breslau (a atual cidade polaca de Wroclaw), a 12 de outubro de 1891, festa judaica do Yom Kippur (Dia do Perdão ou da Reconciliação). Filha dos comerciantes judeus Siegfried e Auguste Courant Stein, era a mais nova de uma família de 11 irmãos. Perdeu o pai com apenas dois anos e, ainda jovem, perdeu também a fé em Deus.
Em 1911, entrou na Universidade de Breslau para cursar alemão e história, mas a sua grande paixão era a filosofia, em que veio a doutorar-se, na Universidade de Freiburg, com a tese Sobre o problema da empatia. Tornou-se, então, assistente do mais conceituado filósofo do seu tempo, Edmund Husserl, o pai da Fenomenologia, e foi a primeira estudiosa a pedir oficialmente que as mulheres recebessem o estatuto de “Professoras”, apesar de o não conseguir em virtude de ser mulher.
Quando, em 1921, leu o Livro da Vida, a autobiografia de Santa Teresa de Ávila, Edith Stein converteu-se ao catolicismo e foi batizada a 1 de janeiro de 1922, assumindo um novo nome: Teresa. A 14 de outubro de 1933, decidiu tornar-se freira carmelita descalça, no mosteiro de Colónia, adotando o nome de Teresa Benedita da Cruz. Quando algumas pessoas influentes a tentaram demover da sua decisão, com o argumento de que era mais útil na Universidade do que no Convento, Edith Stein respondeu que “não é a atividade humana que nos há-de salvar, mas a Paixão de Cristo. Tomar parte nela é a minha aspiração”.
Com a ascensão do Partido Nazi e a perseguição aos judeus, Edith e sua irmã Rose, também ela convertida ao Catolicismo, são enviadas para o Carmelo da Holanda. A divulgação de uma carta da Igreja da Holanda a criticar o nazismo desencadeou uma perseguição aos cristãos de origem judaica, sendo Edith e a sua irmã sinalizadas pela Gestapo e pouco depois capturadas. Terão sido essas e outras circunstâncias que a levaram a afirmar: “Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o coração à luz que vem do alto”; “Quem pertence a Cristo, deve viver a vida inteira de Cristo, deve atingir a maturidade de Cristo, deve, finalmente, abraçar a cruz, encaminhar-se para o Getsémani e o Gólgota”.
Faleceu a 9 de agosto de 1942, com 50 anos de idade, nas câmaras de gás do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, repetindo o que já antes escrevera: “Não sou nada e nada valho... quero oferecer-me ao Coração de Jesus como vítima pela verdadeira paz. Que seja derrubado o poder do Anti-Cristo e a ordem se volte a estabelecer”.
Foi beatificada em Colónia, a 1 de maio de 1987, e canonizada a 11 de outubro de 1998, em Roma, pelo Papa João Paulo II.
No sentido de melhor conhecer os seus pensamentos e ensinamentos, apresentamos três das frases que melhor os exprimem e sintetizam:
- “Quanto mais alguém está imerso em Deus tanto mais deve sair de si, isto é, ir para o mundo a fim de levar a este a vida divina”;
- “Quanto mais é elevado o grau de união amorosa ao qual Deus destina a alma, tanto mais profunda e persistente deverá ser a sua purificação”;
- “A Igreja é inabalável justamente porque une a absoluta defesa da verdade eterna a uma inigualável elasticidade em adaptar-se às situações e exigências de cada tempo”.
Caráter extraordinário, grande inteligência e fé profunda são as três expressões que melhor caraterizam Teresa Bendita da Cruz e fazem dela uma referência para a Igreja Católica e particularmente para o continente europeu, de que foi declarada co-padroeira pelo Papa que a canonizou.
Autor: P. João Alberto Correia