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As origens da diocese de Braga Metropolita

No passado domingo, dia 10 de julho, na Sé Catedral de Braga, D. José Cordeiro recebeu o Pálio dos Arcebispos das mãos do Núncio Apostólico em Portugal. Esta cerimónia ocorreu em Braga, em vez de Roma, em consequência da descentralização operada, em 2015, pelo Papa Francisco, relativamente aos arcebispos metropolitas, na qualidade de autoridades e coordenadores de todas as dioceses da Província Eclesiástica. Mas, para chegarmos às suas origens, temos de recuar até ao período da Fundação de Portugal. As questões dos bispos, relativas à divisão eclesiástica e a atribuição das dioceses às diferentes províncias eclesiásticas ocuparam, na época da Fundação, o primeiro lugar nas relações de Portugal com o papado. A instabilidade existente no âmbito político da época existia também no âmbito eclesiástico. Na verdade, paralelamente à situação política, no plano eclesiástico “lutava-se” por uma igreja nacional, dependente da primazia bracarense e não de Toledo ou de Compostela. Três arcebispos de Braga estiveram na linha da frente desta luta: S. Geraldo (1096-1108), D. Paio Mendes (1118-1138) e D. João Peculiar (1138-1175). Na defesa dos direitos da metrópole bracarense, os três referidos arcebispos tiveram de sustentar longas e corajosas “lutas” com os bispos de Compostela e Toledo pelo facto de o primeiro lhes querer usurpar as dioceses sufragâneas e o de Toledo pretender sujeitá-los à sua obediência. A luta pela primazia girava à volta da diocese de Toledo, ocupada pelo arcebispo D. Bernardo, legado apostólico e D. Diogo Gelmires, bispo de Compostela. Do lado de Braga, como se disse, estiveram nessa “luta” S. Geraldo, D. Paio Mendes e D. João Peculiar. Logo que foi confirmado como arcebispo de Braga e sagrado em Sahagun por D. Bernardo, bispo de Toledo, S. Geraldo lançou-se nas reformas, nomeadamente na instrução do clero e na reforma do Cabido da Catedral, bem como lutando pela restauração da Metrópole de Braga, adquirindo a dignidade que outrora possuía, ao ser a Metrópole da província da Galiza. A Bula do papa Pascoal II que concedeu a restauração da Metrópole bracarense terá sido lida no Concílio de Palência (1100-1101) por S. Geraldo, obtendo aí a anuência de todo o Concílio (cf. Mons. Augusto Ferreira - Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga - Tomo I, pag. 213-215). Em 1113 obteve a confirmação da jurisdição sobre o Porto, Coimbra, Viseu e Lamego. A autonomia eclesiástica de Braga seria o prenúncio da independência do Condado Portucalense. Morto o papa Gelásio II, D. Diego vira-se para o seu sucessor, Calisto II, para conseguir os seus intentos, mas também desta vez teve enérgica reação de D. Paio Mendes, levando Diego Gelmires a desistir da pretensão da transferência da Metrópole de Braga e virar-se para a Igreja de Mérida, ainda não restaurada. Além disso, com receio das eventuais reivindicações do seu “adversário” de Compostela, D. Paio consegue de D. Urraca a confirmação do senhorio da cidade de Braga e seu Couto ampliado, para com mais força negociar junto do Papa Calisto II. Entretanto, Calisto II, em 26 de fevereiro de 1120, expediu a Bula “Omnipotentis dispositione”, concedendo à Sé de Compostela a dignidade de Metropolita e dando-lhe por sufragâneos os bispados que no tempo dos Visigodos dependiam de Mérida. Com tudo isto, estava salva a metrópole de Braga, mas perdia-se a unidade entre as dioceses existentes em Portugal, perdendo-se o que o Conde D. Henrique e o arcebispo Geraldo tanto desejavam: uma Igreja Portuguesa. (cf. Carl Erdmann - in O Papado e Portugal no Primeiro Século da História Portuguesa). Atualmente, a Arquidiocese de Braga tem como sufragâneas as dioceses de “Bragança-Miranda, Vila Real, Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Lamego, Viseu e Coimbra” (cf. DM - ed. de 10.07.22).
Autor: Narciso Machado
DM

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13 julho 2022