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Novo parque eólico… e no melhor de Tras os Montes

  1. Ressuscitado” um projecto do tempo de Sócrates, em 2008). Entre Murça e Mirandela há uma serra, das mais belas de todo o Portugal, chamada “dos Passos” ou “do Orelhão”, ou “do Franco”, por força de a seu lado existirem 3 aldeias assim designadas. Há quem a chame também, “de Sª. Comba” por, no seu ponto mais alto, um emblemático cabeço arredondado, haver uma capela dessa santa. A boscosa serra acompanha a norte, por 15km, a actual A24, construída (sem ser enterrada, como devia, para proteger a paisagem) em cima do anterior e famoso IP4. Lembre-se a propósito, que esta auto-estrada caríssima, é uma das célebres “PPPs” de Sócrates (e os nossos impostos hão de a pagar por muitas décadas). Ora, segundo o “Mensageiro de Bragança” de 30-6-2022 (pág. 20), a pres. da câmara de Mirandela, Júlia Rodrigues, do PS (não tendo em conta o valor paisagístico e simbólico do local), licenciou finalmente o projecto eólico. Aliás, na sequência de demorada decisão da Direcção Geral da Energia e Geologia (do fiel socratista Galamba), datada de Dezembro de 2019. Dado o óbvio impacto (visual, ecológico, paisagístico, turístico), as reticências dos governos socialistas duraram 14 meditabundos anos, a ser “ultrapassadas”. Inclusive porque tiveram que ter em conta a nova “lei dos baldios”, congeminada há anos contra os terrenos tradicionalmente comuns, do Interior do nosso país. Permitindo que eles sejam “desviados”, pagando meia-dúzia de tostões, para projectos do “grande capital”, nacional ou estrangeiro.

  2. Caixotes do lixo”?). Com uma população bastante inculta (e de parcos rendimentos), Portugal é com frequência encarado pelos políticos, financeiros e capitalistas que comandam a Europa, como uma espécie de “caixote de lixo”; no sentido de aceitar no seu território aquilo que os eleitores de países como França, Grã-Bretanha, Alemanha, Suíça, Áustria, Itália, Suécia, etc., dificilmente aceitam na terra deles. É o caso dos eucaliptais (que prevalecem em mais de 60% das nossas “florestas”) e dos sempre impunes (e “misteriosos”) fogos-postos. É o caso das pedreiras (que às vezes destroem serras inteiras). Ou dos inúmeros rios, que em Portugal são transformados, por barragens, em lagos artificiais de água insalubre; mesmo que o seu caudal seja insuficiente para produção eléctrica lucrativa (casos típicos, o Sabor e o Tua). E se a Europa descobriu um “caixote” desses em Portugal, o mesmo Portugal também descobriu os seus caixotes. Depois do 25 de Abril de 74, as Beiras (e o Noroeste) foram-no para o eucalipto e pasta de papel (fábricas em Deocriste, Cacia, Figueira da Foz, Constância). Com Sócrates e as PPPs, quase tudo quanto era rio natural desapareceu, inclusive o Tâmega (entregue aos espanhóis) e o Guadiana. Neste rio, o contestado represamento resultou em rega; mas não da produção tradicional. Mas sim, de novos e vastos latifúndios para os estrangeiros virem cá fazer anti-ecológias e imensas mono-culturas de olival e amendoal; ou estufas. Ambas eliminando os pastos, o montado de sobro e azinho, os rebanhos, os trigais (e a guerra da Ucrânia lembra-nos que devíamos ser auto-suficientes nesses produtos). Já as nossas serras viram a sua sacralidade destruída pelas incontáveis eólicas de Sócrates, Mexia e Galamba. Bem para lá das nossas necessidades (e prejudicando a paisagem, biodiversidade e turismo rural). Tras os Montes também tem sido “caixote de lixo” no que respeita a barragens, amendoal, olival e aos absurdos “cedros do Bussaco”. As eólicas principais têm sido nas serras do Marão, Alvão e Padrela (muitas); na central serra de Bornes; e na do Reboredo (Moncorvo).

  3. Destruindo o potencial turístico da região). Não exagero. Eu conheci a “Terra Quente” de há 20 anos atrás, onde (como no Alentejo) ainda predominavam os pastos, sobreiros, matos, pinhais, campos de centeio. E sem barragens ou eólicas. Hoje, é como disse atrás… Mesmo assim, a ideia criminosa de semear a emblemática serra dos Passos e do Franco com impactantes ventoinhas (que se vêem a 30 kms de distância…) é um abuso, que qualquer analfabeto perceberá. É que, o magestoso desfiladeiro do Tua corre ali quase ao lado, emparedado do lado sul pela igualmente emblemática e sagrada serra do Faro (ou da Snrª. da Assunção, em Vila-Flor). Já o “remoto” D. Dinis (no séc. XIII!) baptizara de “Vila Flor” essa antiga “Póvoa de além-Sabor” (outra vila da mesma ímpar região), homenageando a grandeza da paisagem local. Hoje, pelos vistos, quem manda são os Sócrates, os Galambas e os Mexias; mesmo que indiciados ou suspeitos de delitos vários…

  4. Já no 25 de Abril tentaram eucaliptizar essa serra). Porém, havia mais gente nova e houve quase uma guerra. Há filmes disso. Na altura, os povos ganharam. A serra eleva-se a ca. de 1.000 mts de altura e o seu impacto visual é muito maior desde o lado de Valpaços, a norte; onde o dito cabeço da St.ª Comba parece mesmo um nutrido seio de mulher. É curioso que as aldeias das famílias de Sócrates, Durão Barroso e Mª José Morgado ficam a pouca distância. E estes personagens não obstarão ao sacrilégio?.

  5. Um caso de “mulheres na política”?). Nem por isso… A grande Marine Le Pen obteve (em Maio) quase 42% nas “presidenciais” francesas opondo-se firmemente ao progredir das eólicas na França. A supra-referida actual autarca mirandelense decretou também, há meses, a contestada (e estúpida) demolição de um belo prédio de andares à beira-rio; em vez de procurar uma (penso que justa) indemnização ao dono de uma vivenda que o prédio tapou, há 20 anos. O “coutinhismo” vianense pontifica na desprevenida região transmontana…


Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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12 julho 2022