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“Ligeireza par(a)lamentar”

Porque será que só os defensores da vida pugnam por mais e melhores cuidados paliativos e continuados, enquanto os da eutanásia quase omitem falar nisso? Não se lhes ouvindo qualquer denúncia da falta dos cuidados imprescindíveis a todos aqueles que têm o direito de viver com dignidade até ao termo da sua existência. Será para darem satisfação ao seu espírito tacticista de verem o país a não carregar o ónus da despesa, com esses doentes em fase terminal, que a maioria dos nossos deputados aprovaram a Lei na Assembleia da República? Sim, porque hoje em dia tudo são números, percentagens, finanças e economia nem que seja para estoirarem o dinheiro em banalidades, ou alimentar a corrupção.

Então, se não é para isso, por que razão Governo e partidos políticos se permitiram dar prioridade à morte em vez de proteção à vida? Decidindo-se por esta mórbida via, em vez de se afoitarem a reformar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), deixando que chegasse ao presente caos: sem gestão capaz e onde se deixam morrer crianças ao nascer e até as próprias mães. Sim, porque há 38 anos que não ocorria tão elevada taxa de mortalidade materna.

Com efeito, o que vemos são Hospitais do SNS – não os do privado – a fecharem urgências por falta de pediatras, obstetras, ginecologistas e onde escasseiam os de outras especialidades; se deixam doentes sem exames de diagnóstico e se restringem os mais dispendiosos; se esperam meses, e até anos, por uma consulta de especialidade ou cirurgia e se deixam os portadores de cancro em ‘stand-by’.

Neste país, em que muito se discute e pouco se faz em prol da vida: corta-se nas listas do apoio alimentar aos mais carenciados; na ajuda económica às crianças do ensino especial; não se fomenta a vigilância ao funcionamento dos Lares da Terceira Idade e se deixam os idosos entregues à sua sorte, etc., o que diz o Presidente Marcelo? Desdramatiza, beijando a barriga de uma grávida. Medo de Costa? Parece. Só falta sabermos o que irá fazer com a Lei da Eutanásia, não se augurando qualquer veto presidencial.

Esta é uma Lei que, a ser posta em prática, também carece de uma Justiça rápida e eficaz e não como a que temos. Pois se, porventura, alguém investido do poder de matar o fizer em benefício próprio ou de terceiros, mediante meios compensatórios, pouco ou nada fará. É que nos dias de hoje tudo é possível, tal é a falta de escrúpulos e de dinheiro que grassa por aí. Ademais, é uma Justiça que tem sido branda com os criminosos – devoradores das finanças públicas e outros – e inacessível à tal “arraia miúda”, de que falava Marcelo no último 10 de junho, isto é, àqueles cujos parcos recursos não dão para pagar a um causídico de topo.

Quando há olhares repletos de medo e incerteza quanto ao destino da humanidade, a que urge dar-se-lhe atenção, em vez disso, os militantes da incompetência, indolência e das causas fraturantes andam é a servir o programa ideológico da sua agenda política, ocultando os seus verdadeiros interesses à nação.

Porque se quisessem, realmente, ajudar à prosperidade do país já teria sido construído o novo Aeroporto da capital do reino, há décadas sem solução. Aqui, também, a bem da economia e do bom nome de Portugal é que deveria ser utilizada a “ligeireza par(a)lamentar” com que foi aprovada a morte medicamente assistida. E o que vemos? Cidadãos em largas horas de espera nos aeroportos – em filas no SEF – a passarem uma péssima imagem ao exterior e um Primeiro-ministro, PS, a atirar a decisão da localização da infraestrutura para o novo líder do PSD quando, em tempos, havia afirmado que no primeiro dia em que precisasse dele, se demitiria.

Ora, sem instituições públicas credíveis, ágeis e funcionais, a eutanásia não tem razão de ser. Antes dela, os nossos deputados deveriam era esforçar-se por forçarem o Governo a reestruturar o ministério e o estafado SNS, a fim de que os utentes nele se sintam confiantes e tratadas com políticas de vida, não de morte.


Autor: Narciso Mendes
DM

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27 junho 2022