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Que nova ordem mundial se perfila no horizonte?

O sistema de poder mundial gerado pela II Guerra Mundial sendo perverso, era fácil de entender e relativamente seguro. O fim da II Guerra Mundial deu origem a duas conceções ideológicas, políticas, económicas e militares diametralmente opostas e, apesar de um “equilíbrio do terror”, todos sabiam com o que podiam contar e quais eram as linhas vermelhas.

De um lado tínhamos o Ocidente alicerçado maioritariamente em sistemas democráticos pluripartidários, liberdade de expressão e direitos cívicos, economias de mercado desenvolvidas. Do outro, chamado de Bloco de Leste, o modelo era baseado em regimes socialistas de partido único, economias planificadas de direção central e muitos limites à liberdade de expressão. Estes dois sistemas que dividiam a Europa através de uma cortina de ferro e estendiam amplos tentáculos um pouco por esse mundo fora, eram liderados pelas superpotências claramente vencedoras da II Guerra Mundial: Estados Unidos da América e URSS. NATO e Pacto de Varsóvia foram as duas organizações político-militares criadas por elas para estruturar as respetivas esferas de influência, utilizando para o efeito amplo chapéu de chuva nuclear que, paradoxalmente garantia a paz. O ex-chanceler alemão Helmut Schmidt (1974/82) chegou a afirmar à época que os sobreviventes de uma III Guerra Mundial teriam inveja dos mortos. O que sobrava, e não sobrava muito, foi englobado numa categoria de países autodesignados de Terceiro Mundo, que também dividia o Mundo em Norte (rico, desenvolvido e colonizador) e Sul (pobre, subdesenvolvido e colonizado).

Com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a implosão do Bloco de Leste, do ponto de vista político-militar o mundo tornou-se subitamente unipolar, com os EUA como o grande polícia mundial.

Terá havido nesses anos a oportunidade para criar uma nova ordem mundial: trazer para a ribalta as novas potências emergentes (China, India e Brasil, por exemplo), reformar a ONU (a organização internacional herdeira da defunta Sociedade das Nações que tem como grande objetivo preservar a paz mundial) e lançar as bases de um verdadeiro desenvolvimento à escala global, sustentável, porque os problemas ambientais não começaram ontem. Contudo, verdadeiramente, nada foi feito. Os EUA não se envolveram verdadeiramente num processo de reequilíbrio do poder à escala global. Os diferentes países que se encontravam um pouco por esse mundo fora enquadrados pela bipolaridade, foram deixados um pouco à sua sorte e muitos não tardaram a ser capturados pelos novos poderes que, de forma silenciosa e insidiosa foram aparecendo. Rapidamente, foram ressurgindo velhos e novos conflitos religiosos e disputas territoriais ou por recursos. O terrorismo global fez a sua aparição e a Al-Qaeda, O Estado Islâmico, entre outras, foram aproveitando todo o espaço dado pelos EUA que, nunca conseguiram lidar com as questões do mundo muçulmano, muito pelo contrário agiram quase sempre de forma desastrada.

Entretanto, depois da ressaca da queda do bloco de Leste, a Rússia, que não foi devidamente apoiada pelo Ocidente nas suas tentativas de democratização após a perestroika, acordou e apoiada em velhos e novos oligarcas procurou recuperar alguma influência junto dos territórios que fizeram parte do Bloco de Leste e da ex-URSS. Por outro lado, o Ocidente não se coibira de avançar para Leste, celebrando acordos e abrindo as portas das instituições económicas (União Europeia) e militares (NATO) a muitos países que, anteriormente integravam o falecido Pacto de Varsóvia (e COMECON).

A Ucrânia constitui para a Rússia uma espécie de joia da coroa que não tencionam perder. Este país, após o fim da URSS e da Comunidade de Estados Independentes (CEI) que lhe sucedeu, tem oscilado internamente entre governos pró-russos e anti russos. Putin terá afirmado em 21 de fevereiro deste ano que “A Ucrânia moderna foi inteiramente criada pela Rússia” e que “nunca teve uma tradição consistente como uma verdadeira nação”. No dia 24 desse mês dá-se início à invasão da Ucrânia pelo exército russo, designada pela Rússia como uma “operação militar especial”.

Ninguém sabe ao certo como terminará a guerra na Ucrânia, mas a forma como terminar será decisiva no redesenhar de uma nova ordem mundial que se avizinha.

Alheio ao desenrolar deste imenso jogo de xadrez (e não nos esqueçamos que os russos são bons a jogar xadrez), existem milhões de pessoas que estão a morrer, a ser mutiladas, a perder as suas casas e o seu modo de vida. Escrever sobre o passado é fácil, mas alguém arrisca dizer como será o mundo em 25 de junho de 2023?


Autor: Fernando Viana
DM

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25 junho 2022