twitter

Solenidade do Corpo de Deus

1. Celebramos amanhã a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, vulgarmente conhecida pelo nome de Corpo de Deus, numa má tradução de Corpus Christi. É uma solenidade particularmente dedicada à Santíssima Eucaristia, cuja instituição a Igreja recorda no dia de Quinta-Feira Santa. Tem por finalidade celebrar a presença misteriosa de Deus no meio dos homens. É uma oportunidade para refletir sobre a Santíssima Eucaristia, dar graças a Deus por este Dom e anunciar aos homens que a Santíssima Eucaristia é a única força capaz de transformar e unir a humanidade. 2. Celebrar o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é, antes de mais, convite a que façamos um ato de fé na presença real de Jesus na Santíssima Eucaristia (Lucas 22, 14-20; João 6, 22-58). Sob as espécies do pão e do vinho é Jesus que está presente. É convite a que pensemos no lugar que a Missa ocupa na nossa vida cristã. Na forma como a celebramos, na forma como nela participamos, na forma como a vivemos, na influência que ela exerce em cada um de nós, os crentes. É convite a que, ao entrar na igreja, tenhamos como primeira preocupação saber onde está o sacrário com a Santíssima Eucaristia. A que não deixemos de visitar Jesus escondido, como dizia o pastorinho São Francisco Marto, e de O adorarmos. 3. Há duas outras presenças de Jesus para que chamo particularmente a atenção. Está presente nas comunidades cristãs. Ele o afirmou: «onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles (Mateus18, 20). Esta presença é convite a que pensemos na nossa oração comunitária. Na oração em casal e em família. Ele está presente também nos outros, particularmente nos mais fragilizados. «Tive fome e destes-me de comer… tive sede e destes-me de beber… sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mateus 25, 31-40). «Eu sou Jesus, a quem tu persegues», disse Cristo a Saulo, quando este ia a caminho de Damasco (Atos dos Apóstolos 9, 5). Celebrar a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo também é prestar atenção a Jesus presente em cada ser humano, procurando que todos vivam com a dignidade a que têm direito, respeitando o próprio corpo e o corpo dos outros, atendendo também às necessidades materiais das pessoas. A devoção à Eucaristia não se esgota na devoção ao Senhor do sacrário, mas deve levar à prática da caridade fraterna. 4. O Dia do Corpo de Deus tem sido assinalado, em muitas localidades, com uma solene procissão eucarística. Este ano, em Braga, não se realiza por causa da pandemia do Coronavírus. Após a concelebração da Eucaristia, na Sé, na parte superior da galilé é dada a Bênção do Santíssimo Sacramento aos fiéis que se encontrem na Rua D. Gualdim Pais. Para quem tem fé Jesus anda na rua ao longo de todo o ano. Uma das procissões que se podem fazer é ir visitá-lO nos doentes e nos que vivem sós. 5. Em Portugal a procissão do Corpo de Deus data já dos últimos anos do reinado de D. Afonso III e constituiu a festividade nacional por excelência, como escreveu Alexandre Herculano («O Monge de Cister», cap. XVII). Já era popular no tempo de D. João I. Foi a partir daí que se tornou costume levar no cortejo a imagem de S. Jorge, padroeiro do Reino, a cavalo, vestido de guerreiro, o que deixou de se fazer. Em Lisboa tomava parte nesta procissão a melhor sociedade do tempo. O Rei e o Príncipe seguravam as varas do pálio, debaixo do qual o Patriarca levava o Santíssimo Sacramento. Juntaram-se-lhe, porém, manifestações teatrais e jogos de danças que a desvirtuaram, e houve que pôr termo ao que desviava da atenção ao Santíssimo Sacramento.
Autor: Silva Araújo
DM

DM

10 junho 2020