Celebra-se em 29 de maio o 56.º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Apresento um conjunto de reflexões sugeridas pela mensagem do Papa Francisco para este dia, cujo tema é «escutar com o coração». Os textos entre aspas são citações textuais.
1. Ouvir e escutar não são sinónimos. A escuta exige disponibilidade, atenção, paciência. A consciência de que posso receber do outro alguma coisa. A capacidade de me surpreender com o que o outro diz.
«A escuta requer sempre a virtude da paciência, juntamente com a capacidade de se deixar surpreender pela verdade – mesmo que fosse apenas um fragmento de verdade – na pessoa que estamos a escutar».
Na sociedade do ruído ouvimos muito mas talvez escutemos pouco.
Quase só nos lembramos do que escutamos. Esquecemos muito do que ouvimos.
Acontece de podermos estar com o telefone no ouvido mas a pensar noutra pessoa ou a fazer outra coisa. Pode dar-se o caso de estarmos com o telefone no ouvido e os olhos fixos na televisão.
«A escuta é uma dimensão do amor».
«Ouvidos, temo-los todos; mas muitas vezes mesmo quem possui um ouvido perfeito não consegue escutar o outro. Existe uma surdez interior, pior do que a física».
«A verdadeira sede da escuta é o coração».
2. A escuta é elemento fundamental para o diálogo. Não dialogo se não presto atenção ao que o outro me diz.
Às vezes usa-se o diálogo para levar o outro a aceitar as nossas opiniões. Com o a que chamam diálogo (acontece com frequência no jornalismo televisivo) põe-se nos lábios do outro não o que quer dizer mas o que eu pretendo que diga. O mesmo interlocutor responde ao que perguntou.
Escutar é deixar-se surpreender pela verdade.
Dialogar não é partir para a conversa com preconceitos.
«A escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação».
«Em muitos diálogos, efetivamente não comunicamos; estamos simplesmente à espera que o outro acabe de falar para impormos o nosso ponto de vista».
3. A escuta na atividade jornalística. Para informar tenho de estar informado. Acontece de ter de informar de coisas que não vi nem ouvi.
Escutar quem pode dizer a verdade. Quem se põe em bicos de pés para prestar declarações pode não ser a melhor fonte de informação. Pode acontecer de aproveitar a oportunidade não para dizer a verdade mas fazer passar a sua verdade; a versão que lhe convém.
«Não se comunica se primeiro não se escutou, nem se faz bom jornalismo sem a capacidade de escutar».
O Papa recomenda a escuta de várias fontes, o que «garante credibilidade e seriedade à informação que transmitimos».
4. A escuta na Igreja.
Nem tudo é dogma de fé. Há liberdade de opinião. O Papa fala numa «Igreja sinfónica, onde cada um é capaz de cantar com a própria voz».
A Igreja é constituída por todos os batizados e não apenas pelos elementos da hierarquia. Todos devem participar. Todos devem poder ouvir e ser ouvidos.
A unidade que se pretende não é sinónimo de uniformidade. Respeita o direito à legítima diversidade. «Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia».
Quem dirige não tem o dom da infalibilidade. Este, só o Papa, e em circunstâncias muito concretas. Quem manda e decide tem o dever de saber escutar.
Há o direito e o dever de discordar, mas é necessário saber discordar.
A sinodalidade é o reconhecimento do direito/dever de falar e de ouvir (escutar). É uma ocasião «de escuta recíproca».
5. O apostolado do ouvido. A pastoral da escuta. No dia a dia. Escutar o doente que quer expor os seus problemas. Escutar quem vive em solidão e pretende desabafar; pretende ser ouvido.
«Oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade».
Autor: Silva Araújo