twitter

PUTIN, UM POLÍTICO QUE COLABOROU COM A DEFUNTA KGB

A nossa Semana Santa está decorrendo com uma guerra dolorosa, que já afastou definitivamente deste mundo algumas dezenas de milhares de seres humanos, entre militares e população civil. O líder do Kremlin que a organizou parece ser um governante sem piedade, que faz desaparecer quem julga nocivo ao seu poder e às suas concepções sobre o homem. Este só deve existir, enquanto não choca com o que o chefe russo considera fundamental para a soberania e a primazia do povo que o tem como chefe supremo e indiscutível. Vale tudo. O que importa é vencer e aniquilar. O soldado invasor deve, com a sua conduta, intimidar tudo e todos, de modo a que a resistência se torne ineficaz. Destruir casas, instituições, violar mulheres e até crianças, deixar como rasto cadáveres, enfim, esmagar e vencer. Tanto quanto parece, o que julgava ser uma entrada fácil e uma ocupação sem problemas tornou-se num teatro de violação dos direitos humanos, de desrespeito pelo povo ucraniano, que se não pode resistir à força bélica do imperialismo russo com as mesmas armas, a verdade é que tem dado provas de uma coragem e de uma capacidade de resposta assinaláveis. Putin nunca terá pensado que a sua iniciativa iria custar tanto em perda de material de guerra e em mortandade entre os seus soldados. Decerto que os países ocidentais têm auxiliado e animado a resistência ucraniana com ajuda humanitária e de material de guerra. Até que ponto ela fará a Ucrânia não claudicar? Pelo menos, a sua experiência de custos e de surpresas levarão o promotor desta invasão a pensar duas vezes antes de proceder a iniciativas semelhantes noutros países, como se diz já morarem na sua mente, com maior razão se eles aderiram à NATO e podem dar origem a uma guerra alargada e muito mais complicada. Putin talvez não supusesse que a sua ocupação suscitasse a atenção do mundo livre e o prevenisse de que o actual líder russo, que trabalhou na KGB (polícia com finalidades semelhantes à nossa antiga PIDE in illo tempore), é pessoa de vagos sentimentos humanitários e se habituou a lidar com a realidade como se ela fosse um alvo a dominar de um modo duro e persecutório, como aprendeu nessa instituição a que deu o seu apoio profissional e que, provavelmente, lhe permitiu subir no escalão da política e do poderio no seu país. O mundo ocidental tem de estar agradecido à Ucrânia, porque, quer Putin queira ou não queira, lhe está a ensinar que não basta ter hegemonia bélica para fazer o que entende. Talvez ainda mantenha a ideia de que o poder é algo discricionário, que exige apenas força de quem manda e a obediência de quem é mandado. Assim ocorria nos tempos do comunismo soviético, de que o actual chefe de Moscovo foi aluno e praticante fervoroso (ou não tivesse sido membro da KGB, repete-se), até que o viu cair de podre, como uma realidade ultrapassada e bafienta. Putin não pode esquecer também que o Ocidente é uma realidade humana em que cada cidadão está acostumado à liberdade, que lhe permite exprimir sem retraimento e medo ao cárcere as suas ideias, a criticar quem manda e detém o poder, a concordar ou a discordar – embora obedecendo às leis -– às determinações de quem, com autoridade reconhecida democraticamente, pode decidir. E que não entende que quem detém o poder possa prender ou fazer desaparecer os que se lhe opõem, numa sociedade fechada e delimitada às regras de obediência forçada, que é capaz de cometer injustiças brutais, sem temer a crítica e a repulsa dos cidadãos. Putin tem de entender que as coisas, por cá, não são apenas diferentes. São mais justas e respeitadoras de um ser racional dotado de inteligência, vontade e afectividade, que o torna livre e, por isso mesmo, opositor óbvio de quem visa abafar esta sua condição natural.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

DM

17 abril 2022