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JOSÉ, O HOMEM QUE SEMPRE FAZ O QUE DEUS LHE PEDE

Nestes tempos complexos, em que uma guerra nos apoquenta diariamente a nossa atenção, não podemos deixar de pensar naquelas pessoas que, ao longo da história, ocupam um lugar de relevo. Nem sempre por razões louváveis, porque o seu comportamento não foi exemplar. É diferente pensar em Hitler ou Estaline, que a mente não consegue compreender bem ou enaltecer, ou darmos a nossa atenção a quem foi virtuoso e deixou atrás de si um rasto de boa memória pelo seu exemplo comportamental.

Assim é o caso do santo que celebramos a 19 de Março e, também, naquele dia que abre o mês de Maio, lembrando que ele foi um trabalhador normal e corrente, que, com o seu esforço laborioso diário, sustentou a sua família. Falamos, obviamente, de S. José.

A sua vida não chama a atenção por se tratar dum personagem que realizou uma obra visível e notável, como um grande artista plástico, um escritor de renome, ou um famoso político. Pelo contrário: é uma pessoa normal, que não nos deixou nenhuma palavra em discurso directo, como que para nos ensinar que o que importa é a conduta que levamos e não as palavras que dizemos.

Efectivamente, este descendente do rei David ensina-nos, nas diversas situações da sua vida, a fazer o que se deve, de modo muito simples, calado e pronto. Nunca atrasa o que não deve ser atrasado, nem nunca se precipita a fazer juízos sobre quem conhece bem. E mais: ama.

Neste último caso, admiramos a sua prudência e fortaleza, quando vê regressar da localidade onde vivia uma sua prima, mulher de Zacarias, Maria, sua esposa, com quem ainda não vivia no mesmo tecto. Ela está grávida e José surpreende-se. Mas a sua atitude não é a de repúdio público, imediato, que deixaria em muitos maus lençóis, como costuma dizer-se, a mulher que havia de gerar Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada.

Certamente que fica surpreendido. Mas não pensa em difamá-la, ou dela separar-se como se tratasse duma mulher de má conduta. Pondera a situação. E decide sair de cena sem dizer nada a ninguém. O Evangelista S. Mateus explica-nos que “José, sendo justo e não a querendo expor a infâmia, resolveu desvincular-se dela secretamente” (Mt. 1, 19). Ou seja: continua a manter sobre Maria um bom conceito, mas tem consciência de que qualquer palavra ou atitude menos recatada que pudesse tomar, seria para a sua esposa uma condenação pública da sua honra e da sua honestidade. Este repúdio em silêncio é heroico, na medida em que passaria a ser mal visto por quem não percebesse as razões da sua fuga ou desaparecimento. E suscitaria, com toda a lógica, uma má ideia das comadres e gente conhecida, pensando em José como um inconsciente que, à hora da gravidez da sua mulher, quando mais necessita da sua ajuda, a abandona, porque não quer assumir a responsabilidade que um pai deve assumir quando gera um descendente.

A situação é tão complexa para o esposo de Maria, que Deus premia a sua atitude tão ponderada com uma indicação que o sossega e lhe dá a solução para o seu problema de homem justo. “(...) apareceu-lhe, em sonho, um anjo, que lhe disse: “José, filho de David, não temas receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem tu porás o nome de Jesus” (Mt. 1, 20-21). Sendo ao pai que competia dar o nome ao filho – recordemo-nos da cena da apresentação de João Baptista no templo, nascido há pouco tempo, quando pedem a Zacarias, seu progenitor, para confirmar o nome que a sua esposa propusera (Lc 1, 62-63) – José já pode apresentar-se nessa condição perante a sociedade.

Noutras circunstâncias, igualmente difíceis, pouco depois da natividade de Jesus, e acabando de acomodar-se com Maria e o seu Filho em Belém, José é avisado de que deve fugir imediatamente para o Egipto, porque Herodes quer matar o Menino. O nosso homem não hesita: faz o que Deus lhe encomenda, modificando completamente a sua vida, e confiando que a vontade divina, em qualquer situação, seja inesperada ou dura, é para se fazer. O país é por ele desconhecido, como desconhecida é a sua língua e o seu povo. Deus pede-lhe esse sacrifício. E José, sem hesitar, e assumindo toda a responsabilidade do êxito da fuga apressada, obedece e só regressa, de novo, a Israel, quando Deus assim lhe solicita (Mt 2, 19-21). No entanto, pondera a situação: na Judeia, onde se situava Belém, cidade que possivelmente o vira nascer, reinava Arquelau, filho de Herodes. Não era um lugar seguro. Por isso, com prudência extrema, resolve passar a viver em Nazaré, na Galileia, onde a jurisdição do novo governante que temia não chegava (Mt. 2, 22-23). E para lá se desloca. E é ai onde Jesus vai crescer e fazer-se homem.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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19 março 2022