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Votar com a razão não com o coração

Porque as eleições legislativas antecipadas estão à porta, é tempo de pensarmos seriamente em quem vamos escolher para governar; e a escolha não é fácil, pois não deve obedecer a interesses partidários ou de grupos, mas em quem mais e melhor se preocupa com as pessoas, os seus problemas e necessidades e, obviamente, com o futuro do país.

Todavia, olhando com olhos de ver para o rumo que a vida política nacional tem levado ao longo dos tempos, o saldo não é positivo; e, assim, facilmente se conclui que nos têm faltado autênticos políticos, verdadeiros estadistas que se dediquem com mais empenho, competência, seriedade, solidariedade e justiça no tratamento e resolução dos inúmeros problemas que nos afligem.

Agora, mais importante do que tudo isto é chamar a atenção aos candidatos a primeiros-ministros para as soluções de governação que os resultados eleitorais exijam; e que, face à fragmentação partidária existente, não sendo facilmente alcançável a maioria absoluta por nenhum partido, a formação de um governo estável, competente e coeso não está ao alcance de um clique.

Depois, tendo o país saído de uma governação aos repelões, sobressaltos e chantagens sustentada por uma geringonça de esquerda e extrema-esquerda mais difícil será encontrar uma solução coerente e sólida; e, somente, a boa vontade, doação e sentido de Estado dos candidatos a primeiros-ministros podem, perante os resultados saídos das umas, buscar a desejada solução de governo.

Ademais, e segundo Pedro Adão e Silva (jornal Expresso, 13 de novembro) o que se passa na maioria dos países da União Europeia (EU) é uma resposta política diversa, à esquerda e à direita, dominada por coligações e, excecionalmente, por governos de maioria absoluta ou maioritários; e mesmo estas soluções beneficiam de algum tipo de acordo parlamentar.

Voltando à nossa situação partidária, é um erro pensarmos que, após as eleições de 30 de janeiro e na ausência de mecanismos constitucionais que protejam governos minoritários, seja viável repetir um governo minoritário sem coligações ou acordos parlamentares; a menos que queiramos uma aproximação ao presente modelo italiano que, não conseguindo entendimento para governar, teve de se recorrer à formação de um governo presidido por um independente e formado por 24 ministros oriundos de uma coligação de nove partidos que vão da extrema-direita à extrema-esquerda.

Assim, podemos concluir que na maioria dos governos da EU há de tudo um pouco: coligações, executivos maioritários e, até, coligações entre coligações, mas governos minoritários não são comuns e, apenas, o foi no nosso país onde o Partido Socialista que saiu das eleições de 2015 vencedor, governou em minoria durante seis anos, apoiado numa geringonça com o PCP e o BE que nunca deu garantias de entendimento e estabilidade concludentes.

E, se pensarmos que dos nove partidos existentes no Parlamento sete são pouco representativos, a fragmentação partidária é evidente; e a dispersão de votos que originam tem sido um sério entrave à formação de maiorias, sejam do PS, sejam do PSD; e somente podem em determinadas situações negociarem, a seu contento, os seus votos no Parlamento, como sucedeu num governo de António Guterres com o voto negociado com um deputado do CDS que ficou conhecido por voto do queijo limiano.

Perante estes factos. só temos uma única saída que garanta alguma estabilidade e governabilidade necessárias ao país: concentrar a votação ou no PS ou no PSD, em busca de uma maioria absoluta; mas mesmo que, assim, ela não seja alcançada por nenhum deles, ao menos que nos reste a esperança de que o partido ganhador forme governo e venha a ter o apoio parlamentar do outro partido sempre que as circunstâncias o exijam e deste que estejam em causa questões fundamentais para a vida do país e só esta solução mostra a não cedência a ideologias, interesses partidários ou de grupos, aceitação de privilégios e mordomias, definindo o sentido cívico e de Estado que anima os dirigentes de ambos os partidos.

Mas, para tal desiderato ser alcançado, o nosso voto deve depender mais da razão e menos do coração.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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19 janeiro 2022