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A propósito de embalagens de plásticos

Há cerca de meio século atrás, não se utilizavam embalagens de plástico para bebidas em Portugal, nem sequer de alumínio. As bebidas eram embaladas em garrafas e garrafões de vidro e estes eram, na sua grande maioria reutilizáveis. O consumidor adquiria 6 cervejas numa mercearia, por exemplo, pagava a bebida e a tara da garrafa (a não ser que levasse seis garrafas vazias), cujo valor, quando devolvidas as garrafas, era entregue ao consumidor. Na minha infância era assim. Nesta área, o país era incomensuravelmente mais amigo do ambiente do que é hoje.

Posteriormente, foi introduzido o plástico (sob o tipo polietileno tereftalato, ou PET) como embalagem para bebidas, não reutilizável. Compramos uma garrafa de água, que invariavelmente é vendida embalada em plástico (mas também é usada para sumos, refrigerantes ou bebidas alcoólicas). Após beber a água a garrafa vai para o lixo (consumidores mais conscienciosos depositam estas garrafas no ecoponto amarelo, destinado às embalagens. Se consumirmos 100 garrafas de água por ano, estamos a falar de 100 embalagens não reutilizáveis. Se multiplicarmos por 10.000.000 de consumidores estamos a falar de 1000.000.000 de embalagens de plástico não reutilizáveis, só em Portugal. Para além do plástico, há o volume que o plástico ocupa. Há quem amasse as garrafas de plástico para diminuir o volume, mas a esmagadora maioria não é sequer amassada. Estamos literalmente a plastificar o planeta. Conhece a anedota do consumidor que vai à peixaria comprar peixe e pede um saco de plástico e a peixeira responde: Está dentro do peixe? Pois, se calhar não é bem uma anedota.

Em determinados casos, pode justificar-se o acondicionamento de água neste tipo de embalagem. Imagine-se uma região ou um país privado de água potável devido a uma catástrofe natural. A distribuição de água de emergência pela população pode ser feita em embalagens de plástico não reutilizável. Na maior parte dos casos não se justifica.

Em 2018, foi criado um projeto-piloto de incentivo à devolução de embalagens de plástico não reutilizável, com vista a garantir o encaminhamento dos resíduos destas embalagens para reciclagem. Basicamente, trata-se de, em meia dúzia de grandes superfícies comerciais que aderiram ao projeto-piloto, criar um mecanismo que permite aos consumidores devolverem as embalagens de plástico não reutilizáveis, recebendo em troca um prémio. Há dias, o Governo anunciou a prorrogação do projeto-piloto até junho deste ano, considerando o êxito obtido (16 milhões de embalagens de plástico não reutilizáveis recolhidas). A lei que introduz este projeto-piloto é de finais de 2018, dando um prazo de um ano para iniciar a sua implementação (finais de 2019), pelo que, em termos práticos, o projeto foi implementado nos dois últimos anos, período no qual foram recolhidas os 16 milhões de embalagens.

Muito sinceramente, 16 milhões de embalagens de plástico recolhidas em dois anos parece-nos pouco, considerando o universo de embalagens de plástico não reutilizável que terão sido colocadas no mercado.

Mas, se o Governo considera que o projeto-piloto foi um êxito, então estamos à espera de quê para implementar o sistema definitivo que determine a possibilidade de recolher a maior parte das embalagens de plástico não reutilizável utilizadas para vender água, sumos, refrigerantes e bebidas alcoólicas? Entre a publicação da lei e o desenvolvimento do projeto-piloto e agora a sua prorrogação, já vamos a caminho de quatro anos.

Mais, estamos à espera de quê para implementar sistemas de embalagem deste tipo de líquidos em embalagens reutilizáveis, eliminando ou pelo menos reduzindo drasticamente a utilização de plástico não reutilizável?


Autor: Fernando Viana
DM

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15 janeiro 2022