A propósito do papel da mulher na Idade Média
O papel da mulher na Idade Média é o tema central das II Jornadas Históricas em Guimarães, marcadas para o próximo dia 19 de junho, no âmbito da “Afonsina 2021”, cuja feira não pode realizar-se devido à pandemia. Em vez disso, segundo a vereadora da Cultura da autarquia vimaranense, Adelina Pinto, será realizada uma exposição retrospetiva das II Jornadas Históricas, visando “a necessidade de continuar a estudar, a pensar e refletir e dar a conhecer a história desta época em que se celebra a formação de Portugal… para que esta nossa fundação, este nosso sentido não seja fundado em mitos, mas seja fundado, cada vez mais naquilo que a investigação nos vai dando sobre este período que tanto nos interessa…”. O programa inicia-se com uma conferência sobre “D. Teresa e o governo da Terra Portucalense” (cf. Diário do Minho, de 25.05.21).
Certo é que em história, o erro, uma vez cometido, voluntária ou involuntariamente, por autor com alguma ou muita audiência, vai-se inveterando, passa de livro em livro, de geração em geração e a partir de certa altura torna-se extremamente difícil corrigi-lo.
Um exemplo muito frequente da transmissão do erro verifica-se através do romance histórico onde se mistura história e ficção, ou seja, onde se constrói ficticiamente acontecimentos, costumes e personagens históricas.
É o que acontece, por exemplo, com “O Bobo” (Dom Bibas), da autoria de Alexandre Herculano, ao colocar o enredo do romance no castelo de Guimarães, em 1128, pouco antes da batalha de S. Mamede. Tal facto criou a convicção, na mente de alguns autores, que era aí no castelo que se situava o palácio real de D. Henrique e D. Teresa. Ora, a doação de um campo que D. Teresa outorgou, em 1121 ou 1111, a favor dos irmãos Tibaldos, franceses de origem e moradores em Guimarães situa, com clareza, o palácio real (palatium regale) junto da igreja e do mosteiro de Mumadona (cf. DMP – doc. nº 55 ).
Outro exemplo de erro encontra-se no romance histórico com o título “D. Teresa – uma mulher que não abriu mão do poder”, da autoria de Isabel Stilwell. Neste romance, a Autora, depois de colocar D. Afonso Henriques a nascer em Viseu, colocou também, três folhas a seguir à pag. 384, uma imagem de D. Afonso Henriques com a seguinte legenda:
“Terá sido em Viseu, segundo a tese de José Mattoso, que nasceu D. Afonso Henriques..”
Ora, não é verdade que o historiador José Mattoso seja a favor da tese de Viseu. E tanto é assim que criticou e censurou, severamente, todos os que pretenderam associá-lo a tal opinião.
Com efeito, perante o aproveitamento das suas palavras, escritas na obra sobre a biografia de D. Afonso Henriques, decidiu esclarecer a sua posição sobre a matéria. E fê-lo, solenemente, no dia 14.12.09, no Centro de História da Faculdade de Letras de Lisboa, na abertura de um colóquio, ao dissertar sobre “D. Afonso Henriques e as Origens do Reino de Portugal”. E fê-lo também perante conferencistas nacionais e esrageiros queparticipavam nesse colóquio, demarcando-se totalmente da teoria do historiador Almeida Fernandes e todos os que tentaram “encostá-lo” a uma tese que nunca defendeu, até porque nos seus escritos sempre aceitou Guimarães como a cidade berço de Afonso Henriques. Os esclarecimentos de José Mattoso levaram ao convencimento de que tudo não passou de manipulação de dados para dar consistência à tese do historiador Almeida Fernandes.
A afirmação não teria importância se a Autora mencionasse a sua própria opinião ou então afirmasse que a “tese” de Viseu se encontra apoiada no historiador Almeida Almeida Fernandes.
Do exposto, e salvo o devido respeito que me merce a Autora, a substituição do nome de Almeida Fernandes por José Mattoso parece ter origem num estudo menos cuidado da questão em análise
Logo que adquiri o livro, em junho de 2015, tomando conhecimento do erro, logo informei a Autora para que, numa eventual segunda edição – se assim o entendesse – fosse corrigido o erro, minimizando os, deste modo, seus efeitos junto dos respetivos leitores.