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Turismo do Porto e Norte prepara plano para impulsionar a retoma

Turismo do Porto e Norte prepara plano para impulsionar a retoma
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Publicado em 08 de fevereiro de 2021, às 17:20

Entrevista a Luís Pedro Martins, presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal.

Luís Pedro Martins assinalou na passada sexta-feira, 5 de fevereiro, dois anos à frente da Comissão Executiva da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal com uma homenagem à capacidade de superação das dificuldades de um setor que está praticamente parado devido à pandemia de Covid-19. Com um orçamento de cerca de 4 milhões de euros, este organismo espera um reforço de verbas, especialmente para a promoção internacional do destino. Diário do Minho (DM) – Faz agora dois anos que assumiu a liderança da região de turismo, numa das suas piores fases. Entretanto, veio a pandemia. Não têm sido dois anos fáceis... Luís Pedro Martins (LPM) – Não têm, de facto, sido dois anos fáceis. Mas são dois anos que também me dão motivação para continuar a trabalhar. Aliás, é nestas alturas difíceis que temos oportunidade para fazer a diferença. No primeiro ano tivemos uma dedicação muito grande à organização, uma vez que era necessário motivar todos os recursos humanos e fazer passar a nossa visão. A nossa visão é muito regional, consistindo em dar maior força àqueles subdestinos que tinham menor capacidade de reter turistas, como Trás-os-Montes, Minho e Douro. Acho que é exemplar o que acabámos por fazer e que o conseguimos demonstrar na prática. Dou como exemplo o conjunto muito interessante de press trips e fam trips que organizámos, todas elas exclusivamente para esses subdestinos. Também conseguimos realizar em tempo recorde algo que nós considerávamos absolutamente vital para o sucesso da região, sem imaginar que íamos ter uma pandemia, porque com a pandemia ainda se tornou mais importante esse trabalho. Em pouco mais de um ano, conseguimos concretizar o alinhamento estratégico e operacional entre as duas grandes entidades ligadas ao turismo na região, a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte e a Associação de Turismo do Porto (ATP) – Agência de Promoção Externa da Região. Conseguimos concretizar esse processo em outubro de 2020 e neste momento estamos a alinhar as áreas de promoção, comercialização, comunicação e marketing. Todo o nosso plano de retoma já está a ser feito em alinhamento. Agora é enfrentar esta terrível pandemia. Estou convencido que a enfrentaríamos com maior dificuldade se não tivéssemos realizado o trabalho que enunciei. O que temos que fazer é esperar que o mercado volte a abrir para podermos voltar a receber turistas. Para isso, estamos a desenvolver um conjunto de ações que possam facilitar o regresso dos turistas. DM – Qual é o ponto da situação na região? LPM – Começámos 2020 muito bem, melhor era impossível, a crescer 10% acima da média nacional. No mês de janeiro tínhamos crescido 15% em comparação com janeiro de 2019, que já tinha sido um ano fora de série. No mês de fevereiro crescemos cerca de 22% em relação ao período homólogo. Tudo indicava que seria um ano recorde. Depois veio a pandemia e levou estes números para valores de que já não havia memória. Neste momento, temos o setor do turismo praticamente parado, com quebras muito grandes na área da hotelaria, à volta de 70%, e da restauração, acima dos 60%. Noutros setores, como as agências de viagens, a animação turística, a organização de eventos, as quebras estão acima dos 80%. DM – Há zonas geográficas mais afetadas do que outras? As cidades estão a ser mais afetadas do que as zonas interiores? LPM – Tivemos um verão em que os subdestinos de baixa densidade conseguiram ter um balão de oxigénio, Minho, Douro, Trás-os-Montes. Tivemos taxas de ocupação acima de 80%, embora tenha sido apenas no verão. O Porto foi mais penalizado, com taxas de ocupação a rodar os 30%, porque vivia muito do turismo internacional e dos eventos profissionais, que deixaram de existir, e porque as pessoas procuraram territórios em que tivessem a perceção de segurança e tranquilidade, levando-as para produtos como o turismo de natureza. No entanto, apesar de tudo, acabou por ser melhor do que Lisboa, que teve ocupações à volta dos 15%. Entrados no outono, todos estes territórios caíram e diria que não há grandes diferenças porque, por um lado, os turistas nacionais estão impedidos de viajar e, por outro, não há turistas internacionais por força desta conjuntura. Turismo espera verbas da “bazuca” europeia DM – Como é que se planeia 2021 com toda esta incerteza? LPM – Estamos a fazer muita futurologia quando falamos do que aí vem. Criámos um plano de retoma do turismo no Porto e Norte alinhado entre a Entidade Regional e a ATP, trabalhando de perto com os municípios, as comunidades intermunicipais e a Comissão de Coordenação da Região Norte. Entre todos estamos a delinear um plano de retoma que passa por um conjunto de ações, que vão ser realizadas dentro e fora do país. DM – Há verbas que cheguem para isso? LPM – As verbas não são as ideais. Nós não podemos estar a trabalhar em 2021, para um período de retoma tão importante como este, com as mesmas verbas que trabalhávamos quando tudo corria dentro da normalidade. Sabemos que os outros destinos nossos concorrentes estão a passar pelo mesmo, ou seja, todos caíram para patamares insignificantes em termos de turismo. Todos eles vão querer fazer um esforço forte de promoção dos seus territórios, sendo que têm orçamentos maiores que o nosso, nomeadamente Espanha, Itália ou França, que são concorrentes diretos. Estamos a tentar reforçar essas verbas, quer através de candidaturas a fundos europeus, quer junto do Turismo de Portugal. Esperemos também que a bazuca tenha uma atenção especial a este setor, para aumentar o apoio às empresas e os orçamentos destinados ao Turismo de Portugal e às entidades regionais para o reforço da sua promoção externa. Este é um setor que representava 15% do PIB do país, que tanta notoriedade deu a Portugal e que consegue ter uma grande capacidade de arrastamento positivo de outras áreas. Havia muitos setores a viver do sucesso do turismo nos últimos anos. São muitas as razões que justificam uma atenção especial a um setor que conseguiu a criação de emprego em territórios onde era difícil que assim acontecesse, nomeadamente os territórios de baixa densidade, um setor que é transversal a todo o país e que já tem mais de 400 mil empregos diretos. Na promoção, vamos entrar numa batalha muito feroz e temos que ter meios que não serão iguais aos dos outros, mas esperamos que pelo menos não sejam tão desproporcionados. DM – Em Portugal, vai-se conseguir fazer a articulação para não sermos concorrentes de nós próprios? LPM – Sim. Somos suficientemente pequenos para não andarmos a competir entre regiões, mas suficientemente diversos para nos podermos complementar. Temos felizmente um bom relacionamento entre as cinco regiões do continente e também Madeira e Açores. Temos um trabalho de grande proximidade com o Turismo de Portugal e com a Secretaria de Estado do Turismo. O ambiente que se vive neste momento é de grande solidariedade entre todos, que acho que se vai conseguir manter, até porque muitos dos produtos são transversais ao território. Quando falamos de Caminhos de Santiago, podemos começar no Sul, atravessar o Centro e vir ao Norte, por isso faz sentido que os estejamos a promover em conjunto, potenciando uma travessia pelos diversos territórios. Há muitos produtos que faz sentido que sejam promovidos em conjunto. Quando estivermos a fazer as nossas apresentações internacionais, faz todo o sentido que o possamos fazer juntos. Aqui a escala é importante, pois quanto maior for aquilo que oferecemos maior facilidade temos de comunicar e de ter sucesso. DM – Recentemente já fizeram iniciativas relacionadas com as termas e o turismo industrial. Que outras áreas poderão ser a chave para o relançamento, como o turismo de natureza, com o Parque Nacional? LPM – Entre os produtos que permitam alavancar de novo a região temos o turismo de natureza, o enoturismo, com a gastronomia e o vinho, o turismo religioso, o turismo industrial e o turismo náutico. Braga sem programação da Semana Santa é um golpe muito forte no turismo da região DM – A continuar este cenário, Braga poderá ter o segundo ano consecutivo sem a programação tradicional da Semana Santa. Será um golpe para o turismo da região? LPM – É um golpe muito forte no turismo da região. O Porto e Norte sempre apoiou fortemente a Semana Santa, não é do meu mandato, justiça seja feita, mas eu dei continuidade a esse trabalho. A Semana Santa é importante para Braga e para a região. Em termos de turismo religioso é, porventura, o momento mais alto da região. A Semana Santa tem dado uma ajuda muito forte ao crescimento do número de dormidas em Braga. DM – Se Braga for considerada o melhor destino europeu, isso pode ajudar a captar turistas quando houver a retoma? LPM – Essa distinção, a exemplo de outros territórios que a conseguiram, é de facto uma ajuda muito importante. Estamos a trabalhar a notoriedade do destino de Braga, mas também da região. Não é por acaso que o Porto e Norte também tem dado uma grande visibilidade a este prémio e estamos a apoiar a comunicação para que o máximo de pessoas possa votar porque ajuda Braga, mas ajuda também toda a região. Estes prémios ajudaram a que o Porto e Norte e Portugal tivessem conseguido atravessar a pandemia sem prejudicar a imagem que os turistas têm de nós porque permitem manter a comunicação. Costuma-se dizer que quem não aparece, esquece. É muito importante aparecer e ainda por cima por boas razões, como é o caso de Braga, se conseguir, e espero que consiga, obter este prémio. Norte quer saber qual a importância que a TAP vai dar à região DM – Que papel é que o Norte espera que a TAP venha a desempenhar na retoma? LPM – A região gostava de perceber qual é a importância que a TAP dá ao Norte. A TAP é importante para o Norte. Foi importante ao longo destes anos, nomeadamente na nossa ligação com aqueles que são os nossos principais mercados emissores, não só os de longa distância, como o Brasil, mas também com os mercados da Europa. Queremos obviamente continuar a receber a TAP, mas também temos dito que, se por alguma eventualidade a TAP não quiser dedicar ao Porto e Norte aquilo que outras companhias estão a dedicar, desde que consigamos ter meios para ajudar a captar outras companhias e outras rotas, também não há dramas. Não podemos é não ter TAP e não ter verbas para captar outras companhias. DM – O Norte ficaria dependente dos aeroportos de Lisboa ou de Espanha... LPM – Depois do primeiro confinamento, quando se iniciou a operação, nós até entendíamos que o principal esforço fosse colocado em Lisboa, uma vez que é lá que está a maior parte dos custos da companhia. Nós queríamos é que fosse respeitada a percentagem que era dedicada ao Porto, embora fosse bem inferior a Lisboa, mas por razões de mercado perfeitamente compreensíveis. No primeiro plano de retoma nós, de facto, éramos muito prejudicados. Com o agravamento da pandemia, ficámos todos prejudicados, porque a TAP deixou de ter turistas, tal como as outras companhias. Entretanto, já há uma nova vida na TAP, tudo mudou. Estamos a aguardar com expectativa, quando houver a retoma, qual é a importância que a TAP vai dar ao Norte. DM – Querem ter uma voz ativa, em vez de serem confrontados com factos consumados? LPM – Na fase final já tínhamos sido chamados pela comissão executiva. Esperemos que esse trabalho agora não se perca e que continuemos a ter a possibilidade de ir articulando com a TAP aquilo que é o conhecimento que vamos tendo dos mercados, nomeadamente os relacionados com o turismo. Quando se fala da importância da TAP para o Norte não é apenas relacionada com o turismo, é também com a indústria, com um setor muito forte no Norte do país de empresas exportadoras, por isso não foi só a Entidade Regional que foi chamada, mas também as associações empresariais. É bom que esse trabalho continue porque estávamos no bom caminho. [Entrevista publicada na edição impressa do Diário do Minho de 5 de Fevereiro] Destaques
  • O presidente do Turismo do Porto e Norte ambiciona «voltar a ter em 2023 seis milhões de turistas, 11 milhões de dormidas e que o aeroporto Sá Carneiro registe os mesmos valores, que eram 13 milhões de movimentos de passageiros. Conseguir, em dois anos e meio, recuperar tudo o quefoi perdido em 2020». O Turismo do Porto e Norte registou, em 2019, 11 milhões de dormidas e, em 2020, teve uma quebra de seis milhões.
 
  • A região vai ter em 2022 um observatório regional de turismo para dar informações do setor em tempo útil a operadores e investidores. Luís Pedro Martins explicou que está em curso a criação de uma plataforma de “business intelligence” (certificação de base de dados), com o Turismo de Portugal e com a Riptur (Rede de Instituições Públicas do Ensino Superior Politécnico com cursos de turismo), para conceber um observatório regional de turismo no Norte de Portugal, uma ferramenta que nunca existiu na região.
 
  • Até 2022, a TPNP ambiciona ter estruturados dois novos itinerários por estradas. À semelhança da EN2, Luís Pedro Martins quer ter a EN103 e a EN222 estruturadas.
 
  • A TPNP vai criar a 1.ª “Gala do Turismo do Porto e Norte” para reconhecer os «melhores do Porto e Norte», evento que deverá acontecer no final do ano e serve para distinguir aqueles que «têm as melhores práticas» na área do turismo na região.
 
  • O plano de recuperação estratégico e de marketing para os próximos dois anos e meio conta com um investimento de cerca de 10,5 milhões de euros.
 
  • Luís Pedro Martins, 52 anos, ex-diretor executivo da Torre dos Clérigos do Porto e licenciado em ‘design’ pela Escola Superior de Artes e Design, em 1995, foi eleito presidente da TPNP em janeiro de 2019 com a maioria dos votantes, tendo tomado posse do cargo a 5 de fevereiro de 2019 no Palácio da Bolsa, no Porto.
Redação/Lusa
Autor: Luísa Teresa Ribeiro