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A solidão dos idosos

1. Li com muita atenção o recente documento da Conferência Episcopal Portuguesa intitulado «Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal».

Hoje proponho-me refletir sobre quanto se escreve nos números 10, 11 e 12.

Fala-se, muito particularmente, da atenção que os idosos merecem. Todos os idosos.

Ali se recorda que os idosos são pessoas e não objetos descartáveis. Um idoso não é comparável a um guardanapo de papel que, uma vez usado, se deita ao lixo.

Ali se alerta para o drama da solidão vivido por muitos idosos.

Ali se recorda que, para os idosos, o lugar ideal é a família.

Quando esta, por qualquer motivo, não tem condições para lhes prestar a atenção que merecem surgem os lares, a que agora, pomposamente, se chama ERPIs (Estruturas Residenciais Para Idosos). Na minha perspetiva são um mal necessário. A solução de último recurso. Mas, já que necessário, que esse mal se converta em bem.

2. Como funcionam, de facto, os lares de idosos?

Começo por manifestar o meu apreço e o meu aplauso pelos lares de idosos que são verdadeiros lares. Espaços onde o idoso encontra um ambiente acolhedor e beneficia do que a família, pelas razões mais diversas, lhe não consegue prestar. Há quem lhes chame hotéis de cinco estrelas. Que o sejam. Não tanto pelo aparato exterior como pelo ambiente que neles se respira e pela qualidade do serviço que proporcionam.

Parabéns aos responsáveis por tais lares. Parabéns a tantas pessoas que dedicadamente ali servem. Beijo-lhes a mão.

3. Se, por hipótese, o que se chama lar de idosos funcionar como arrecadação de pessoas; se for algo semelhante a uma prisão de onde o idoso sai apenas quando o levarem para o cemitério, às vezes com uma passagem pelo hospital; se não proporcionar aos utentes uma alimentação adequada; se não tomar iniciativas que os ajudem a viver alegremente o tempo que Deus lhe dá mas se virem condenados a vegetar diante de um aparelho de televisão; se der mais importância ao parecer do que ao ser, fazendo passar para a opinião pública uma imagem que não corresponde à realidade; se der maior valor às coisas do que às pessoas, é evidente que um espaço destes não é digno de se chamar lar de idosos. Que lhe ponham outro rótulo. O de lar, não.

4. Manter devidamente um lar de idosos tem o seu preço. Não deve ser oportunidade de negócio mas serviço às pessoas. A verdade, porém, é que tal serviço tem custos. Nestes incluída a justa remuneração às pessoas que ali trabalham.

Se o utente não tem possibilidades para arcar com o total das despesas (quem aufere de reformas pequenas é um ser humano como os outros), alguém deve prover à sua sustentabilidade. Também para isso existe a Segurança Social. É umas das exigências da propalada justiça social.

Cabe, aqui, uma reflexão séria sobre a correta gestão dos dinheiros da comunidade. À hora de elaborar orçamentos há que prevenir as verbas necessárias para que os idosos possam viver com dignidade. Sem luxo mas também sem lixo. Que entre as pessoas e as coisas se dê a prioridade às pessoas.

O direito à vida passa pelo direito à saúde e às necessárias condições para que os idosos possam viver como seres humanos que são. Sem se sentirem um peso. Sem se sentirem arrumados.

5. Talvez seja de investir mais no apoio domiciliário e no serviço dos cuidadores informais, cujo estatuto foi aprovado em 06 de setembro de 2019.A portaria que define os termos e as condições de implementação dos projetos-piloto previstos no referido estatuto foi publicada em Diário da República a 10 de março de 2020, com identificação dos valores do subsídio de apoio, dos 30 concelhos para o arranque do projeto-piloto (com a duração de 12 meses).


Autor: Silva Araújo
DM

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7 janeiro 2021