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Respeite-me, por favor

Na verdade eu não lhe devia pedir por favor para usar máscara. Não é um favor que me faz, é, quando a não usa, uma falta de respeito por mim. É muito confrangedor ter que ser a Assembleia da República o obrigar, por lei, aquilo que deveria ser um imperativo de sua consciência social! Uma sociedade que só obedece batendo-lhe nas costas ou na carteira, é uma sociedade na fase primária de cidadania. Quando passo por alguém que não usa máscara, depois da comunicação social ter anunciado os números de mortos ou infetados pela pandemia, penso que estou perante alguém que se esquece que os outros existem e podem ser infetados pela sua teimosia. Não pensa esta gente nos outros e olham com petulância para quem a usa, como se tivessem toda a razão por si. E não são apenas os mais velhos que resistem, são, também, e em grande número, os jovens. Um destes dias, passou por mim, na Avenida da Liberdade, um grupo de adolescentes, –pela gralhada era bando de pardais à solta, e nenhum deles tinha máscara, nem entre si respeitavam a distância recomendada. Fiquei-me a pensar que algum deles será um dia governante da minha autarquia, quiçá do meu país! Se eles não são capazes, com esta idade, de respeitar os outros, interrogo-me, como se farão respeitar um dia? Dizem-me que é a verdura dos anos, a inconsciência da juventude, a rebeldia própria da idade. Tudo isto pode ser, mas respeito pelos outros não é. Quando se convencem que eu uso a máscara pelo respeito que tenho pela sua saúde? Também por minha segurança, embora esta seja insignificante em relação a outra. É inconstitucional, dizem os peritos na leitura e interpretação da Lei, das leis. E será constitucional andar a infetar os outros? Mas eu não tenho qualquer sintoma, afirma outro rebelde. Mas o perigo espreita por esse postigo, o grupo dos assintomáticos são a propagação silenciosa e, por isso, o grupo perigoso da disseminação. Então que razão me leva a respeitar os outros, quando os outros não me respeitam? Para não nos compararmos na irresponsabilidade. Podia retaliar, tirando a máscara que me incomoda a respiração e encolher os ombros perante o perigo que criava para os outros. Mas a minha consciência cívica estaria a dizer-me, és um falso porque dizes uma coisa e afinal és como os outros. Não queira pertencer aos réprobos, use a máscara nem que lhe custe porque na verdade se não custasse usá-la não havia qualquer laivo de sacrifício. Mas valerá sacrificarmo-nos pelos outros? Nunca tanto se falou nos outros como irmãos e com tristeza o digo, nunca houve tanto desinteresse para com eles! Tanto púlpito para tanta gente e afinal a doutrina do nós, não passa da doutrina do eu. Há falta de formação ou falta de formadores? Quem formava cidadãos eram os princípios sociais e os religiosos. Todos eles foram esquecidos por um egoísmo a que chamam relativismo. O homem deve caminhar de pé, mas igualmente nunca esquecer que outros há na companhia que têm o mesmo direito. A seara nunca pode ser boa se a vessada não for bem lavrada. Parece-me que faltam também bons semeadores. Uma pergunta e uma admiração: se eu o respeito porque uso máscara por que razão não me respeita usando a sua?!!!


Autor: Paulo Fafe
DM

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26 outubro 2020