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Missão possível

Esta semana comemorou-se, simbolicamente, o “Dia Mundial do Professor”. Esta profissão, a par de outras, tem assumido nestes tempos de pandemia, uma missão de enorme relevo social. Sem menosprezar as outras profissões, ser professor é uma actividade de elevado risco. No entanto, e fruto das circunstâncias os professores conseguiram ser seres que conseguiram adaptar-se nobremente às circunstâncias que a pandemia nos obrigou e hoje expõem-se, com coragem, em nome de uma causa maior. Ser professor é assumir riscos. É muito evidente a importância que tem, e sempre teve, o papel dos professores na Educação, na construção da personalidade e no crescimento de todos nós, mas nem sempre tem sido uma profissão bem tratada. Eu sou, orgulhosamente, professor! Costumo dizer que ser professor é uma actividade a tempo e a corpo inteiro. Ser professor não tem toque de saída.

A verdade é que nem sempre gostei da escola, nem sempre tive sucesso escolar, nem sempre gostei dos meus professores, nem me lembro de todos, nem todas as matérias foram marcantes e nem todos os trabalhos foram realizados com a mesma intensidade e empenho. Mas a escola e muitos dos meus professores foram influenciadores e marcantes na minha vida. Escolhi esta profissão por causa deles. Hoje, assumo esta missão e compreendo melhor o papel determinante que a Escola teve e tem.

Ser professor é partilhar, dar e assumir. Ser professor é ter o compromisso com a missão de conjugar esforços, fazer compreender, ajudar a encontrar caminhos e a ensinar a importância de persistir. Enquanto professor, já tive mais receio de errar, mas esse sentimento nunca me fez paralisar os valores que defendo para a Educação e que tento que sustentem a minha acção pedagógica. Tenho alguma mágoa que algumas políticas e os pensamentos de muitos se percam mais com as matérias, com as burocracias, com os resultados ou com os conteúdos, em vez de valorizar os processos e tudo aquilo que estes representam.

A aula tem que ser um momento formal. Por isso, não pode haver bonés, pastilhas elásticas, atrasos ou faltas de respeito. É um momento extraordinariamente rico, em que todos temos aprendizagens que sustentam a vida, hoje e no futuro. A aula é muito mais que instrução, porque não é só o cérebro que vai à Escola. As aulas servem para aumentar o espírito crítico, para socializar, para alargar a nossa adaptação e o conhecimento. A tarefa nobre de ministrar uma aula é algo que qualquer professor deve valorizar e os alunos devem entender. Uma aula é, pois, o melhor meio de criar o futuro.

Ninguém nasce a bom a nada. Nas primeiras cantorias ninguém acerta todas as notas. É a persistência de tentar, errar e tentar de novo, que nos cria a possibilidade de saber aplicar. Ser professor é criar os meios de aquisição de competências, confiança, para enfrentar o futuro com segurança e muita insatisfação. A Educação que anseio é que os nossos alunos saibam trilhar, com responsabilidade, os seus próprios caminhos. Que acreditem, firmemente, no seu futuro e que a sua Educação o ensine a sonhar e, acima de tudo, conquistar. Que lhes faculte os pilares emocionais, de consciência e reflexão para criar o seu próprio espaço. Que adquiram o talento, a força, a competência e a inteligência para enfrentar os problemas impostos pela vida.

Ser professor é muito mais que debitar matéria, realizar tarefas, elaborar sumários e cumprir as burocracias. Continuo a querer aprender a ser professor, já que serei aluno toda a vida.


Autor: Carlos Dias
DM

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9 outubro 2020