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Que vai ser da «Igreja de massas»?

  1. Não há como negar. À semelhança do que acontece com tudo o resto, também a Igreja está a passar por uma reconfiguração.

O novo coronavírus não altera – obviamente – a sua identidade. Mas é um facto que está a interferir bastante com a sua moldura expressiva.

  1. A Igreja nunca deixará de ser o que é: novo Corpo de Cristo. Mas a sua expressão pode sofrer alterações significativas.

Tais alterações, aliás, não começaram agora. Estarão, sim, a sofrer uma aceleração que até agora poucos ousariam prever.

  1. Nas celebrações, para nos sentirmos minimamente próximos, temos de ficar um pouco mais distantes.

E até para vermos os rostos parcialmente, há que tapar o rosto (quase) completamente.

  1. O cenário – ditado pelas normas de segurança e pilotado por algum medo – foi fazendo o seu caminho.

A participação é muito mais condicionada e as assembleias tornaram-se mais reduzidas.

  1. A «Igreja de massas», cujo final era antecipado há décadas, anuncia eclipsar-se por bastante tempo.

Há cinquenta anos, o teólogo Joseph Ratzinger entrevia já o surgimento de uma «Igreja mais pequena» – e «dos pequeninos» –, a ter «de recomeçar tudo de novo».

  1. Essa Igreja não terá condições «de poder encher muitos dos edifícios que construiu quando a conjuntura era favorável».

Perderá igualmente «muitos dos seus privilégios na sociedade». Vai exigir «de modo muito mais marcante a iniciativa dos seus membros».

  1. Nem tudo, porém, é negativo ou deprimente.

«A Igreja de Jesus Cristo permanecerá», reencontrando «aquilo que lhe é essencial: a fé no Deus uno e trino, em Jesus Cristo e a assistência do Espírito, que perdurará até ao fim».

  1. Aliás, segundo o futuro Papa Bento XVI, «a crise da Igreja resultou do abandono do essencial».

Em muitos âmbitos, subsistiu «uma mera luta pelo poder. Essa luta já existia abundantemente no mundo, pelo que não precisamos dela na Igreja».

  1. Não podemos, pois, alimentar a nostalgia do regresso a uma Igreja como antes. Temos de trabalhar – todos – para renascermos, em Igreja, melhores que antes.

Contemos entretanto «com fortes abalos». Contudo, a «Igreja da fé» não soçobrará. Ela não será certamente «a força dominante da sociedade». Mas «florescerá de novo e tornar-se-á para os homens a pátria que lhe dará vida e esperança».

  1. Ainda há quem não tenha percebido. Ainda há quem insista numa presença intermitente, soporífera e desenquadrada do que é central.

Ainda há quem proponha celebrações sacramentais para acomodar ocorrências sociais cujo número de participantes excede o normativamente permitido. A situação mudou. Façamos tudo para melhorar!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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22 setembro 2020