1. A Covid 19 fez-nos parar. Fez-nos refletir. Fez-nos alterar planos. Uma coisa era a vida antes desta epidemia e outra desde que ela veio, Deus queira que não para ficar.
Uma das áreas em que se fez sentir foi a da celebração das festas religiosas. Foram – e na minha perspetiva muito bem – reduzidas ao essencial. Expurgadas de números que nunca deviam ter entrada nos seus programas.
Houve festas cristãs que de cristãs quase só tinham o nome. Pouco mais. Eram pretexto para divertimentos pagãos onde, com o dinheiro angariado a pretexto de homenagear um santo, se programavam dias de diversão, com animadores bem pagos e canções que se não eram brejeiras andavam muito por perto. À sombra da homenagem ao santo dava-se largas à folia.
2. Verdade seja dita que a vivência cristã não é incompatível com a diversão e as manifestações de alegria. De forma alguma.
Uma das tarefas do cristão que o é de verdade é a de ser semeador de alegria. Criar bom ambiente. Contribuir para que já nesta fase terrena da vida as pessoas se sintam felizes, tanto quanto é possível sê-lo. Documentos importantes do Papa Francisco fazem ressaltar a alegria. A começar pelos títulos.
Uma coisa, porém, é a alegria de quem se sabe ser filho de Deus-Amor e irmão de todos os homens e outra, a alegria barulhenta que se paga a tanto por minuto.
3. A pandemia convida a rever os programas das festas religiosas. A fazer delas momentos fortes de evangelização. A dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. A separar as águas, não misturando o sagrado com o profano, e a não preencher o maior espaço do programa de festas ditas cristãs com atividades exclusivamente pagãs.
Reduziram-se as festas ao essencial e neste essencial, penso, ao mínimo dos mínimos. Quase se limitou a festa à Missa e ao sermão. Não se poderia ter ido mais, utilizando o benefício das redes sociais, que os têm e devemos usá-los?
Peço desculpa se estiver errado e agradeço que me corrijam. Este pode ser um tema de diálogo entre pessoas interessadas. E será proveitoso, por certo.
4. Outra área onde a COVID fez das suas foi a da celebração do casamento.
Refiro-me ao casamento-sacramento. Ao casamento religioso devidamente preparado, celebrado e vivido.
Não quero ofender ninguém mas estou persuadido de que cristãos menos esclarecidos identificam o sacramento com a festa. Porque não pôde haver festa também adiaram a celebração do sacramento.
5. Não deixa, no entanto, de merecer reflexão a forma como casamentos religiosos são celebrados. A forma como algumas pessoas se submetem à ditadura da sociedade de consumo, reduzindo a cerimónia religiosa a um número secundário do programa da festa. Os gastos desnecessários, desde a forma dos convites aos excessos do banquete e aos anexos do bailarico!
Não será possível celebrar o sacramento do matrimónio sem tanto espalhafato e sem tanto desperdício?
Esta é uma questão sobre que os cristãos conscientes devem refletir, com seriedade e com calma. Tendo a coragem de resistir aos ditames da moda. Que cada um forme bem a consciência, atue de harmonia com ela e se não deixe influenciar pelo receio de parecer mal.
O que parece mal é fazer asneiras ou dar ensejo a que outros as façam. É legítimo esperar dos cristãos testemunho de simplicidade e sobriedade. Festa, sim. A celebração do matrimónio merece festa. Mas sem exageros. Festarola, não.
6. Já agora, há perguntas incómodas que não deixo de fazer, batendo também no próprio peito.
A COVID 19 não será convite a que pensemos no que tem sido o nosso trabalho de evangelizadores? Não terá posto a descoberto lacunas da pastoral do espetáculo? Temo-nos empenhado, realmente, em contribuir para a formação de cristãos adultos?
DESTAQUE
A pandemia convida a rever os programas das festas religiosas. A fazer delas momentos fortes de evangelização. A dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.
Autor: Silva Araújo