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Aprender com a pandemia

Como as duas faces de qualquer moeda, também a pandemia consigo arrasta uma face boa e uma face má, aquela definida nos avanços da ciência e da tecnologia em busca de respostas e armas de combate e esta concretizada nos milhões de vítimas e nas catástrofes económicas que consigo arrasta; e, ao longo da História das Nações, esta realidade sempre esteve presente, fosse na Peste Negra (1343/1363 - 35 milhões de mortos) e na Varíola (1796/1840 – 300 milhões de mortos), fosse na Tuberculose (1850/1950 – 1 bilião de mortos) e na Pneumónica ou Gripe Espanhola (1918/1940 – 100 milhões de mortos).

E, para além desta verdade, as pandemias sempre são acompanhadas de sérios avisos ao Homem de que certas ações que ele enceta causam desequilíbrios e agressões ambientais e ecológicos, estimulando consequentes manifestações de defesa; pois, se olharmos à nossa volta, a atual luta pela manutenção de um Ambiente Sustentável é bem o exemplo do convívio conflituoso e permanente entre o Homem e a Natureza.

A atual pandemia é, sem dúvida, um medir de forças entre um ser minúsculo, invisível e traiçoeiro – o SARS – COV – 2 – e o Homem que manipula, agride e destrói; e, como todos os vírus, a Covid-19 tem a caraterística de ser imortal, porque não haverá medicamento que o elimine, mas quando muito que atenue os seus efeitos, bem como a vacina que seguramente aparecerá, apenas garante e não a 100% proteção e prevenção.

Ora, para além destes malefícios a que se juntam a angústia, o isolamento e o medo, a Covid-19 abriga-nos a comportamentos e atitudes coletivas de segurança e cria, recria e põe a uso vocabulários e conceitos inusitados e novos; e, mais objetivamente, aguça o engenho e a arte de criadores e artistas que, assim, dando asas à sua imaginação e inovação, criam um conjunto de artefactos que indispensáveis são na luta contra os malefícios do vírus, como por exemplo: ventiladores, viseiras, máscaras, separações de acrílico e, até, óculos com camada hidrofóbica e pinças para hóstias.

Agora, se nos debruçarmos sobre a aprendizagem que todos diariamente fizemos para enfrentar a pandemia, quer vencendo as etapas de emergência e de calamidade, quer chegando à de contingência e à de alerta, concluímos que são mais as perdas do que os ganhos; e que a regra de oiro a assumir por todos nós é a de não vacilar, não dar espaço, não baixar o alarme e manter permanentemente uma vigilância ativa.

Assim, por exemplo, aprendemos com a pandemia a confinar e desconfinar, isto é, fazer, numa primeira fase, a necessária reclusão domiciliária e, em fases posteriores, começar a sair à rua para lentamente regressarmos à normalidade vigiada e controlada, mantendo ainda um rigoroso distanciamento social, evitando os contactos entre pessoas, familiares incluídos e guardar uma distância de dois a três metros, circulando ou convivendo, na rua e em lugares e estabelecimentos públicos.

Depois, um conjunto de regras aprendemos para impedir a propagação e contágio da Covid-19 como a higienização das mãos durante vinte segundos e dos espaços ambientais, a prática da etiqueta respiratória ou seja tossir e espirrar com regras definidas e o uso generalizado de scara social em amontoados de pessoas e zonas fechadas e para pessoas vulneráveis sempre que saem de casa; ainda aprendemos a respeitar o cerco sanitário imposto às populações (aldeias, vilas e cidades) em estado de calamidade objetiva que assim impedidas são de se ausentarem das suas zonas residenciais.

Pois bem, todas estas aprendizagens que fomos abrigados a fazer e ativamente a pôr em prática e que, a todo momento, podem ter de ser reativadas como se verifica já com o retorno à situação de emergência, devido ao recrudescimento do surto, consigo arrastam problemas sociais, psicológicos e mentais que ainda não estão avaliados, mas que seguramente definirão um futuro de incerteza e instabilidade; e a que se juntam os dramáticos problemas económicos que já começaram a fazer enormes estragos na economia, quer familiar e laboral, quer empresarial e social.

E, para complementar esta nossa aprendizagem de novas regras e conceitos impostos pela pandemia, transcrevo, com a devida vénia, o que o Cardeal Tolentino de Mendonça, na sua função de presidente das comemorações do 10 de junho, proclamou: A pandemia expôs a urgência de um pacto ambiental e, por isso, precisamos de construir uma ecologia do Mundo, onde em vez de senhores despóticos apareçamos como cuidadores sensatos, praticando uma ética da criação que tenha expressão jurídica efetiva nos tratados transacionais mas também nos estilos de vida e escolhas quotidianas.

E eu acrescento: talvez, cumprindo este desiderato, nos preparemos melhor para enfrentar novas pandemias, resultantes de inopinados e insólitos desequilíbrios entre o Homem e a Natureza, que seguramente nos baterão à porta.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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16 setembro 2020