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Com ou sem escala?

A UCLG-United Cities and Local Governments, a Metropolis e a LSE-London School of Economics and Political Science acaba de distinguir Braga entre 57 territórios de 35 países pelas suas políticas de resposta ao Covid. O trabalho da cidade portuguesa foi o único distinguido em Portugal de acordo com os critérios daquelas entidades que analisaram as mudanças de governação e as acções inovadoras que permitiram minimizar os efeitos da Pandemia. É a terceira vez, num curto espaço que a cidade vê reconhecida a sua ação, depois da OCDE e da ONU já o terem feito recentemente. Este reconhecimento vem dar resposta a um dos quesitos que aqui tenho defendido, em diversas ocasiões, e que remetem para a necessidade das cidades portuguesas se abalançarem na internacionalização, mas não só. É importante, tal como acontece no mundo empresarial, que as urbes portuguesas sejam capazes de exportar as suas ideias, as suas ações e práticas, funcionando como catalisador para novas dimensões de intervenção que não aquelas que reconheceram Braga e outras autarquias durante a crise pandémica. Dimensões como a Mobilidade, Segurança, Sustentabilidade, onde ainda há um longo caminho a percorrer, merecem o mesmo destino, mas para que isso aconteça, é importante refletir sobre a necessidade de acelerar as políticas locais que, salvo melhor opinião, devem ter uma leitura integrada para fazerem sentido. Sendo este um aspeto vital, há um outro de que pouco se fala e que queria abordar com os(as) leitores(as): a escala das intervenções. Recentemente, Braga e Guimarães viram reconhecida a necessidade de criar um corredor (ex. metro de superfície) que estabeleça uma “ponte” rápida e segura, diminuindo o tempo, permitindo, inclusive, criar um elo de ligação entre os dois polos da Universidade do Minho. A questão que se levanta é: e Barcelos e Famalicão onde existe ensino universitário? O famoso quadrilátero não deveria estar a assumir uma estratégia comum não só nesta como nas outras duas dimensões que aqui referi. Vale ou não apena ter uma visão integrada deste território com uma área de influência sobre 800 mil habitantes. É ou não diferente apresentar e desenvolver projetos de curta dimensão, quando se pode alavancar uma escala diferente. O que falta? Pensar que as quatro cidades podem desenvolver políticas comuns, integrando os seus recursos numa visão estratégia a médio prazo (2030), possibilitaria não só desenvolver ações multidirecionais, como criar sinergias políticas capazes de influenciar cá dentro e lá fora, os decisores que abrem ou fecham as portas ao financiamento comunitário. Sem escala e de forma individual, todos perdem e muito dificilmente os cidadãos lucrarão alguma coisa se os respetivos autarcas gerirem os respetivos territórios como se fossem pequenas gálias, disputando primazias, que mais não servem que o deleite do orgulho municipal de curta duração e de pouco proveito. A oportunidade para nos reposicionarmos está à porta e desta vez não podemos falhar. Seria uma hecatombe que os fundos que Portugal conseguiu negociar em Bruxelas para responder à crise, se ficassem apenas pela dimensão da reindustrialização e não fossem capazes de atingir a governação dos territórios, da qual se espera, haja abertura e capacidade para modelar um novo entendimento sobre o modelo de gestão territorial. Apesar de existirem organismos onde se poderia pensar que estes esforços estariam a ser geridos, a verdade é que não passam de fóruns reivindicativos em que cada um puxa a brasa à sua sardinha, onde raramente alguém sai satisfeito e onde reina, por norma, mais divisão do que união. Pensar global e agir local nunca foi um hábito português, muito menos à dimensão regional e sub-regional onde se insere o Quadrilátero. Quando teremos um verdadeiro orçamento sub-regional e quando é que teremos capacidade executiva, para deixarmos apenas de planear, elaborar projetos, avançando para a execução como se exige. Se não começarmos por aqui, as ações de exportação e de internacionalização podem ser importantes, mas nunca terão a dimensão que precisamos, para alinhar com as políticas avançadas, que em muitas regiões europeias, têm permitido redesenhar qualitativamente os territórios. Destaque Pensar global e agir local nunca foi um hábito português, muito menos à dimensão regional e sub-regional onde se insere o Quadrilátero.
Autor: Paulo Sousa
DM

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9 agosto 2020