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Igreja sinodal e samaritana

O programa pastoral da Arquidiocese Para 2020/23 tem por título «Uma Igreja Sinodal e Samaritana». Proponho-me fazer uma reflexão sobre cada uma destas três palavras.

1. Igreja. O vocábulo deriva, através do latim, do grego ekklesia e pode traduzir-se por assembleia convocada e reunida.

Hoje pode designar realidades como: a assembleia litúrgica convocada e reunida para o culto de Deus; a comunidade local dos crentes, também designada igreja particular ou diocese (a igreja de Braga, por exemplo); a comunidade universal de todos os fiéis (a Igreja Católica).

Chama-se Igreja a comunidade dos batizados, o Povo de Deus.

Povo de Deus foi a expressão preferida pelo Vaticano II que, na Constituição dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, intitula o capítulo II «O Povo de Deus». O Livro II do Código de Direito Canónico tem a designação «Do Povo de Deus».

Anexa à palavra igreja está a ideia de comunidade. Um cristão só não é um cristão.

É um erro identificar a igreja com o papa, os bispos, os sacerdotes. São esses e muitos mais. São Igreja todos os membros da comunidade crente; todos os batizados. Todos se devem sentir corresponsáveis pelo seu progresso ou pelo seu definhamento.

Os membros da Igreja designam-se fiéis: «Fiéis são aqueles que, por terem sido incorporados em Cristo pelo batismo, foram constituídos em povo de Deus e por este motivo se tornaram a seu modo participantes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo e, segundo a própria condição, são chamados a exercer a missão que Deus confiou à Igreja para esta realizar no mundo» (Código de Direito Canónico, Cân. 204 — § l).

Entre os fiéis há os clérigos, os leigos e os religiosos:

«Por instituição divina, entre os fiéis existem os ministros sagrados, que no direito se chamam também clérigos; os outros fiéis também se designam por leigos.

De ambos estes grupos existem fiéis que, pela profissão dos conselhos evangélicos por meio dos votos ou outros vínculos sagrados, reconhecidos e sancionados pela Igreja, se consagram a Deus de modo peculiar, e contribuem para a missão salvífica da Igreja; cujo estado, embora não diga respeito à estrutura hierárquica da Igreja, pertence contudo à sua vida e santidade» (Idem, Cân. 207 — «§ l. e 2).

Todos possuem a mesma dignidade: «Devido à sua regeneração em Cristo, existe entre todos os fiéis verdadeira igualdade no concernente à dignidade e atuação, pela qual todos eles cooperam para a edificação do corpo de Cristo, segundo a condição e a função próprias de cada um» (Cânone 208).

2. Sinodal. O qualificativo sinodal tem a sua origem no vocábulo sínodo.

Este deriva do idioma grego - sýnodos - e quer dizer “caminhar juntos”.

O sínodo é uma assembleia eclesiástica reunida para tratar de assuntos importantes para uma igreja ou para a igreja universal.

(Convém não confundir eclesiástico com clerical. Eclesiástico, que diz respeito à ekklesia, à igreja; clerical, respeitante ao clero, que é uma porção do Povo de Deus.

O Vaticano II referiu-se ao sínodo (dos Bispos) no número 5 do decreto Christus Dominus, sobre o Múnus Pastoral dos Bispos, e no número 29 do decreto Ad Gentes, sobre a Atividade Missionária da Igreja. O Código de Direito Canónico fala do sínodo dos bispos e do sínodo diocesano.

«Sínodo diocesano é a assembleia de sacerdotes e de outros fiéis escolhidos no seio da Igreja particular que prestam auxílio ao Bispo diocesano, para o bem de toda a comunidade diocesana (Cânone 460).

A missão do sínodo é aconselhar e não deliberar. Quem, após o sínodo – ouvidas as pessoas – toma decisões é o papa, no sínodo dos bispos, ou o bispo, no sínodo diocesano.

Sinodal é a igreja que funciona como sínodo; onde os membros da comunidade são ouvidos. Diretamente ou, o que é mais comum, através de representantes.

É uma Igreja em cujo seio se pratica o diálogo. É uma Igreja onde os membros caminham juntos, de mão dada. É uma igreja onde quem tem a responsabilidade de decidir ouve primeiro as pessoas. Onde o poder é exercido como verdadeiro serviço à comunidade.

É muito diferente da que pode chamar-se igreja piramidal, onde os de cima decidem e o comum das pessoas não é ouvido nem achado. E diferente da igreja do «eu posso, eu quero, eu mando»; da igreja do autoritarismo.

3. Samaritana. Samaritana é uma igreja cujos membros, no seu agir, procuram imitar o comportamento do Bom Samaritano referido por S. Lucas (10, 25-37).

Onde se diz não à indiferença e ao passar ao lado.

Onde os que podem disponibilizam tempo e dinheiro em benefício dos que precisam.

É uma igreja onde as pessoas são muito mais importantes do que as coisas. Onde os edifícios se constroem na medida em que são exigidos pelo serviço às pessoas. Onde cada um se preocupa com o bem do outro, seja ele quem for, servindo-o.

4. Conclusão: Igreja Sinodal e Samaritana é uma comunidade cristã cujos membros praticam um verdadeiro diálogo e se preocupam com o serviço aos mais carenciados, sejam eles quem forem.


Autor: Silva Araújo
DM

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30 julho 2020