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A Imagem de Nossa Senhora de Fátima da Capela das Aparições

Como vimos, apesar da reserva da Igreja, a chama Divina avivava-se, sempre mais, no coração das gentes portuguesas, multiplicando-se por outros povos e nações, contra o poder do Estado que, a todo o custo, fazia tudo para apagar essa luz que brilhava no “Céu de Portugal”. Finalmente, após 13 anos das Aparições, como já se disse, a Igreja permitiu oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima com Roma a selar todas as conclusões do Bispo de Leiria. Entretanto, um dos milhares de peregrinos que sempre acreditaram nas visões de Fátima e na versão contada pelos pastorinhos, Gilberto Fernandes dos Santos, sentiu a falta de uma imagem reveladora e fiel àquela que as três crianças sempre descreveram. Partiu, em 1919, de Torres Novas, onde residia, para Lisboa na esperança de conseguir concretizar tal desejo, percorrendo várias lojas, mas em vão, pois não encontrou aquilo que pairava na sua alma. Gilberto, com o seu forte entusiasmo, fruto de uma incomparável crença nas Aparições, recorreu, então, à Casa Fânzeres, uma conhecida oficina especializada, muito prestigiada, na altura, em arte sacra, que existia na rua de Souto, na nossa cidade de Braga. O escultor escolhido foi José Ferreira Thedim, natural de S. Mamede de Coronado, Santo Tirso, com a colaboração do seu irmão, Guilherme. O Reverendíssimo Sr. Cónego Formigão, um grande testemunho dos acontecimentos de Fátima, relatou, em carta enviada, o retrato que os pastorinhos lhe transmitiram de Nossa Senhora. Vou transcrever algumas passagens da carta que Gilberto Fernandes enviou, no dia 20 de agosto de 1919, a informar o Cónego Formigão das caraterísticas da imagem contratada, tendo em vista a descrição das crianças: «…Sou a participar V. Ex.a que, conforme noticiei há dias, fui a Lisboa para comprar a imagem de Nossa Senhora para colocar na pequena capela existente no lugar de Fátima. Sou, pois, a dizer a V. Ex.a que nada encontrei que servisse. Tive, portanto, de mandar fazer aos Srs. Fânzeres, em Braga. Fiz a encomenda conforme V. Ex.a diz em sua carta. Se acaso há mais alguma coisa que V. Ex.a se esqueceu de dizer, agradeço que me diga para eu transmitir aos Srs. Fânzeres…» No dia 26 de abril de 1920, Teixeira Fânzeres envia a escultura executada primorosamente, entalhada em cedro do Brasil, através do comboio para ser levantada na estação de Torres Novas, remetendo, previamente, pelo correio, a guia de levantamento ao Sr. Gilberto. Nessa missiva, explica os pormenores da imagem e os cuidados a ter com ela:« …Espero que chegue bem e ao seu agrado…Peço o maior cuidado ao desencaixotar a imagem que vai aparafusada na base e leva uma travessa também aparafusada. Como as cores são claras e os bordados vão um pouco frescos, é preciso todo o cuidado e limpeza a pegar na imagem, só pela base e nas costas, isto com panos bem limpos. É pena se a sujam. Não esqueceu a caixa que aqui deixou, vai junta. Sempre ao dispor e espero que tudo chegue bem. Cumprimentos do meu filho e meus também ao Sr. Prior.» A imagem foi benzida, na paróquia, no dia 13 de maio de 1920, pelo pároco de Fátima, Manuel Marques Ferreira, deixando instruções bem claras sobre o seu manuseio, tal como foi recomendado pelo Sr. Teixeira Fânzeres. Segundo algumas fontes, foi mostrada e aprovada, ainda na sacristia, pela Lúcia, sendo colocada, no dia 13 de junho de 1920, na pequena Capela das Aparições, no local exato da azinheira onde Nossa Senhora apareceu. O Sr. Gilberto Fernandes dos Santos, assim como Ferreira Thedim, nunca imaginariam, com certeza, mesmo com o cuidado e com os conselheiros que tiveram, o alcance desta imagem, sendo, hoje, o centro das atenções e das orações de todo o mundo. O seu esculpidor ganhou fama internacional, de tal maneira que o Papa Pio XI, em 1931, atribuiu-lhe o título de Comendador da Santa Sé. As mulheres portuguesas pela fé depositada em Nossa Senhora de Fátima e pelas graças de Portugal não ter entrado na guerra, ofereceram as suas joias e suas pedras preciosas para se fazer uma coroa para a linda imagem venerada na Cova da Iria, sendo executada nas oficinas da Ourivesaria Leitão, em Lisboa. Logo a seguir, o Episcopado português pediu ao Santo Padre que se dignasse coroar a Imagem. Em 28 de abril de 1946, na carta de nomeação do Legado do Santo Padre, o Cardeal Aloysio Masella, Pio XII escreve: «Atendendo aos desejos e súplicas do Episcopado português, havemos por bem coroar solenemente a insigne Imagem de Nossa Senhora de Fátima. Confiamos que este fausto acontecimento contribuirá grandemente para intensificar a devoção do povo cristão à Celeste Rainha e atrair sobre ele maior abundância de graças.» Esse feliz acontecimento chegou no dia 13 de Maio de 1946. Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra; realização e propriedade de Augusto Dias Arnaut e Gabriel Ferreira Marques, composição e impressão - Companhia Editora do Minho, Barcelos, editada pela Ocidental Editora, Porto, em 1953, 1954, 1955. Papel fabricado especialmente pela Companhia do Papel do Prado em Tomar.
Autor: Salvador de Sousa
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24 junho 2020