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Alegrai-vos sempre no Senhor! Lema dos dois novos bispos auxiliares de Milão

Os tempos de confinamento deram ocasião a que pudesse seguir o jornal da Conferência Episcopal Italiana 'Avvenire' e acabasse por subscrever a assinatura on-line. A informação que me oferece é de excelente qualidade nos vários âmbitos: actualidade política, social, cultural, religiosa. Apresenta cada dia uma boa quantidade de cartas dos leitores levantando questões de actualidade a que o Director responde, contextualizando e clarificando o mais possível, para que todos os leitores possam inferir os elementos de juízo e apreciação de uma informação esclarecida. Vários artigos de opinião vão muito para além do cometário simplista e de ocasião. Têm mesmo muita qualidade. Hoje queria realçar a informação referente à ordenação dos dois novos bispos auxiliares de Milão, no dia 28 de Junho. Desde logo, o facto de ambos, sem para tal terem feito qualquer combinação ou dialogado antes, terem escolhido o mesmo lema: «Alegrai-vos sempre no Senhor», extraído da Carta de Paulo aos Filipenses 4,4. Na homilia da ordenação episcopal, o arcebispo Mário Delpini glosou esse lema. Todos se perguntam: «onde está a alegria'? Que é preciso fazer para estar contentes e felizes? E a sede de felicidade é tal que, facilmente as pessoas se deixam enganar por propostas falaciosas: aproveitar a vida, disfrutar de todos os prazeres, etc. Não, a verdadeira alegria, aquela que dura para sempre está no encontro com o Senhor. Que significa esta resposta? Que os novos bispos nos dizem: «irmãos, se procurais de verdade a alegria, nós dizemo-vos que nós a encontramos no Senhor». Com essa resposta estão-nos a convidar a permanecer na intimidade com o Senhor, único caminho cheio de fascínio, de luz, de uma intensidade indizível. Não há palavra que consiga dizer a profundidade 'desta alegria no Senhor', pois só o Espírito de Deus torna possível conhecer e experimentar as coisas de Deus. Dizer: 'alegrai-vos sempre, no Senhor' indica que, à semelhança do ramo da videira que encontra vida permanecendo nela, assim o discípulo entra naquela comunhão com Jesus que nos torna filhos no Filho e participantes dos frutos do Espírito: amor, alegria, paz. Estais alegres no Senhor porque permaneceis na comunhão trinitária. Estabeleceis uma relação que fala de uma história de amor. E o Senhor mantém-se sempre fiel a esse amor. O discípulo, nem sempre. Mas a fidelidade do Senhor sara a infidelidade do discípulo, e o pecado conhece o perdão. Mais: a negação pode mesmo ser convertida numa profissão de fé, pelo que o afastamento pode ser recuperado pela comunhão reencontrada. A nossa alegria não pode ser plena enquanto não for total o nosso permanecer em Deus, partilhando os sentimentos de Jesus. É esse o segredo da oração, do permanecer sempre no Senhor. Quem assim faz, vive na alegria. A palavra 'sempre' é hoje uma palavra proibida para muitas pessoas, dado não serem capazes de um compromisso fiel e duradouro. Todavia, o 'permanecer sempre alegres, no Senhor', é também a garantia de que podem desencadear-se tempestades e adversidades, mas quem permanece no Senhor conserva uma fonte invencível de alegria, precisamente porque permanece no Senhor. Este permanecer sempre no Senhor é também um remédio para os que caem no mal-humor, na inquietação, na tristeza. Proferir estas palavras numa diocese tão flagelada pelo Covid, com bastantes sacerdotes falecidos por contágio, diz bem da estatura moral dos novos bispos e do arcebispo que dirige a maior Diocese do mundo. Nos agradecimentos, um dos novos bispos pedia rezassem uma Avé Maria à Virgem, para que ele não a fizesse chorar demasiado. E que, a ter de a fazer chorar, que seja de alegria! O outro bispo acrescentou: ' Peço ao Senhor, por intermédio da vossa oração, que saiba viver o meu ministério de bispo assim: sempre alegre e sendo testemunha de um cristianismo pleno de Alegria. Mostram bem os desejos e sentimentos de bispos com «cheiro a ovelha» e de uma Igreja em saída para anunciar a Alegria do Evangelho, como insistentemente o Papa Francisco nos pede a todos, e sobretudo aos sacerdotes e bispos. E um pensamento mais: «os direitos dos pobres não são pobres direitos». Só uma vida verdadeiramente espiritual, de encontro íntimo e permanente com o Senhor, é uma vida feliz.
Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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4 julho 2020