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Um cristão que se afirmou

1.O aproximar-se do dia 04 de julho leva-me a evocar a figura de Bernardo de Vasconcelos (Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos, de seu nome completo). Nasceu em S. Romão do Corgo (Celorico de Basto) em 07 de julho de 1902 e faleceu na Foz do Douro em 04 de julho de 1932. Foi um cristão que se afirmou e cujo exemplo merece ser conhecido e seguido. 2.Como qualquer outro jovem Bernardo de Vasconcelos andou em busca do caminho. Praticou no comércio. Pensou na Escola Naval. Matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Teve o seu namoro. Concluiu, por fim, que o caminho era o sacerdócio na congregação beneditina onde professou solenemente em 29 de setembro de1928. Uma terrível doença impediu-o de concretizar este sonho. 3.O seu tempo de estudante na Universidade de Coimbra, a que me refiro em particular, foi marcado por um cuidadoso programa de vida, pela afirmação e defesa dos valores e dos princípios cristãos, pela assistência aos mais carenciados. Preocupou-se com uma séria vivência cristã alimentada pela frequência dos Sacramentos. Em 7 de dezembro de 1923 disse ter passado a confessar-se semanalmente ao P. Gonçalves Cerejeira. 4.Fundou a Liga Eucarística dos Estudantes, de que foi presidente. Sentia que a sua missão era proporcionar aos jovens o retorno à Fé viva da Igreja assente numa vivência autêntica da Eucaristia. «Confio cegamente na graça de Deus, declarou, que todos os dias vou procurar atrair na Sagrada Comunhão». Em 16 de novembro de 1931 confessou ter passado junto ao Sacrário, na Sé Velha de Coimbra, as melhores horas do ensaiar do voo para o claustro. 5.Em 14 de março de 1920 entrou para o Centro Académico da Democracia Cristã - CADC. Este foi para ele, e para muitos outros, uma grande escola de vida cristã, num contexto político e social marcado por uma grande instabilidade e uma profunda anticlerização que repudiava toda e qualquer reflexão ou atividade de cariz cristão. O CADC «era, ao tempo, no meio de um exacerbado laicismo da Universidade, um núcleo e um cadinho de militância cristã, uma espécie de alfobre intelectual católico para a animação e renovação cultural da sociedade portuguesa, que, desde 1910, vivia como que em letargia laica e republicana». Procurou colaborar na construção de uma sociedade democrática assente nos valores cristãos. Dedicou-se ao apostolado pela palavra falada e escrita, apoiado na oração e no testemunho de vida. Em 11 de maio de 1924 fez no CADC uma das suas conferências mais célebres, sobre o Ideal Cristão, apresentada como tese ao Congresso Eucarístico Nacional, em Braga, em julho do mesmo ano. 6.Entrou para a Conferência de S. Vicente de Paulo, de Direito, em 21 de fevereiro de 1923, aproveitando os momentos de recreio para visitar os pobres. Na família que lhe destinaram encontrou problemas difíceis a que procurou dar solução. Havia na casa um filho de 8 anos por batizar. Uma pequenita de 21 meses, de que veio a ser padrinho de batismo, nem ainda estava registada civilmente. O marido batia constantemente na mulher. As rendas da casa andavam por pagar... 7.Animou-o a preocupação de levar a Religião para a vida e não se esqueceu nunca do cumprimento dos próprios deveres e das suas responsabilidades apostólicas. «Penso que, sendo um bom católico, devo ser um bom estudante», escreveu. «Importa primeiro que tudo a piedade. Pois como poderá uma alma espalhar luz e irradiar calor sem que primeiramente se tenha inundado de luz interior e inflamado de amor sobrenatural?!... A verdadeira piedade, sobretudo em nossos dias, não pode esconder-se na penumbra dum oratório particular». 8.Soube ser cristão sem ser beato. Soube ser cristão alegre e não misantropo. Soube, como cristão, ser um cidadão interveniente. Não precisamos, hoje, de jovens cristãos da têmpera de Bernardo de Vasconcelos?
Autor: Silva Araújo
DM

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2 julho 2020