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Entre o Templo e o Quarto

  1. Seguindo as indicações do «semáforo epidemiológico» (María Ramírez), também nós, católicos, começámos a «desconfinar», celebrando comunitariamente a Eucaristia.

Foi possível aquilatar em alguns esgares — a par da alegria do reencontro — algum espanto pela reconfiguração das igrejas.

  1. É o caso das máscaras, do distanciamento de dois metros, das indicações da entrada e da saída e dos apelos a não tocar nas superfícies.

Não está a ser fácil para ninguém, mas a situação acabará por se entranhar. Esperamos que tudo decorra de forma serena e solidária, como é próprio de irmãos na fé.

  1. Para já, estamos a fazer uma espécie de conjugação entre o Templo e o Quarto.

Começámos a voltar ao Templo (oração comunitária), mas sem deixar completamente o Quarto (oração pessoal)

  1. No Templo, é onde se reúne a comunidade, embora nesta fase apenas parcialmente.

Na comunidade crente que reza, o próprio Jesus está presente. E nem é preciso que sejam muitos. O Senhor assegurou que «ondeestiverem dois ou três reunidos em Meu nome, Eu estounomeio deles» (Mt 18,20).

  1. Acontece que o mesmo Jesus articulou a oração comunitária com a oração pessoal.

Em parceria com o Templo, sobressai pois o Quarto como «locus orationis»: «Quando orares,entra no teu quarto […] e ora ateu Paiemsegredo; eteu Pai, que te vêem segredo, dar-te-á a recompensa» (Mt 6, 7).

  1. Não se trata de uma oração ensimesmada, em oposição à oração comunitária.

Pelo contrário, trata-se de uma oração fomentadora da abertura que há-de projectar-se na oração comunitária e na vida em missão.

  1. Talvez tenhamos falhado nesta oração silenciosa, tecida de escuta e emoldurada de disponibilidade pessoal.

Creio que, neste tempo, temos de continuar a optimizar a oração «em espírito e verdade» (Jo 4, 24).

  1. Por conseguinte, não são duas tipologias de oração que se excluam, mas duas vias que se podem articular na perfeição.

Este é o «kairós» providencial para não desperdiçarmos o recato a escuta silenciosa e disponível.

  1. O momento «Maria» — que não litiga com o serviçal momento «Marta» — foi, em boa hora, exaltado por Jesus (cf. Lc 10, 42).

Em devido tempo, o momento «Maria» há-de derramar-se inteiramente no Templo. E o momento «Marta» nunca dispensará o fecundo recolhimento no Quarto.

  1. A teor das orientações da Conferência Episcopal e das posteriores recomendações da Direcção-Geral de Saúde (v.g. «abreviar as celebrações»), entrar no Quarto despontará como primoroso complemento do Templo.

Os sinais deste tempo humano mantêm-se sedentos do eterno divino!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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9 junho 2020