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Vinho Verde quer conquistar os portugueses

Vinho Verde quer conquistar os portugueses
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Publicado em 01 de junho de 2020, às 12:49

Setor empenhado em criar nova dinâmica económica no pós-confinamento.

O Vinho Verde quer conquistar o mercado nacional, minimizando o prejuízo que a pandemia causou no setor. O crescimento das vendas foi interrompido pela quarentena, mas a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes e os produtores não baixam os braços. Em período de desconfinamento, está em marcha uma campanha de promoção, sendo o seu sucesso essencial para a economia da região.

Este ano prometia ser o melhor de sempre para os Vinhos Verdes, com as vendas a baterem todos recordes nos primeiros meses de 2020. A pandemia interrompeu esta trajetória, obrigando o setor a rever estratégias para fazer face à nova realidade mundial.

Para combater os efeitos nefastos da crise, com especial incidência nos produtores que escoam os seus vinhos através da restauração e das garrafeiras, a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) aproveitou a quarentena para trabalhar no relançamento do Vinho Verde nesta fase de pós-confinamento, apostando na dinamização do mercado nacional.

«Depois destas semanas, em que a parte comercial foi dificílima, este é o momento de incentivarmos os nossos compatriotas a provarem o Vinho Verde. Finalmente podemos gozar alguma liberdade com responsabilidade no espaço público e o Vinho Verde é o parceiro ideal para festejar essa liberdade», afirma ao Diário do Minho o presidente desta entidade, Manuel Pinheiro.

O responsável destaca que o relançamento do Vinho Verde só é possível neste momento porque os agricultores estiveram todos a trabalhar durante o período em que uma parte substancial do país parou. «Falamos muito da linha da frente, das equipas de saúde, e com toda a razão, mas também é justo reconhecer que milhares de agricultores por todo o país estivarem a trabalhar», lembra.

Este dirigente declara que «Portugal é o mercado número um» dos Vinhos Verdes, daí que a prioridade seja a sua dinamização. «O mercado nacional é muito importante, porque é aqui que estão todos os produtores. Para muitos produtores mais pequenos, este é o único mercado que têm», diz.

Vários produtores têm dado conta que a paragem do mercado português, com o encerramento dos restaurantes e das garrafeiras, foi particularmente devastadora para o setor dos vinhos, com diminuições de vendas a chegarem em alguns casos aos 98 por cento. Embora sentindo o impacto da pandemia, os exportadores revelam que o efeito tem sido mais diluído, uma vez que os mercados não fecharam todos ao mesmo tempo. Paralelamente, perdas em países como França, Itália, EUA e Brasil foram, para alguns, compensadas por ganhos na Suécia, Noruega e Holanda.

«A distribuição é, sem dúvida nenhuma, um desafio para os pequenos produtores. Os canais de distribuição são muito mais difíceis para os pequenos do que para os grandes produtores. Ter de negociar com os supermercados é difícil e ter que ir para a exportação com volumes pequenos também é muito difícil. Com a reabertura dos restaurantes e das garrafeiras, o escoamento da produção será mais fácil», refere.

Embora enfatizando que «Portugal é o objetivo número um», Manuel Pinheiro assegura que a região vai continuar a apostar na conquista do mercado externo. «De 2014 a 2019, aumentámos as exportações todos os anos. O vinho português no seu todo preparava-se para fechar 2020, pela primeira vez, com mil milhões de euros de exportação. Isso já não vai ser possível, mas precisamos de lutar para recuperar o que perdemos nestes dias de confinamento», afirma.

«No mercado externo, tivemos de cancelar ações em cidades tão importantes como São Paulo, Nova Iorque ou Moscovo, mas estamos agora a reformular o plano e a fazer ações diferentes nesses locais para não perdermos mercado na exportação, que representa metade do nosso negócio», acrescenta.

A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes tinha admitido a possibilidade de a pandemia provocar prejuízos que poderiam atingir os 76 milhões de euros. Manuel Pinheiro mostra-se, agora, mais otimista: «Começamos a ter alguma confiança que os prejuízos sejam menores do que o que esperávamos. De janeiro a março, as vendas estiveram muito bem. Em abril foram más. Em maio já estão a começar a crescer, seja no mercado nacional seja na exportação. Já podemos, com alguma confiança, dizer que fecharemos o ano com perdas bastantes mais baixas do que essas».

Vinho Verde combina com relançamento da economia

Em fase de desconfinamento, o Vinho Verde combina com liberdade, esperança, felicidade, reencontro e família. Uma campanha nacional orçada em 300 mil euros mostra que, neste momento de crise, Vinho Verde também é sinónimo de relançamento da economia.

O que combina com Verde?” é o mote da nova campanha de comunicação direcionada para o mercado nacional lançada pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV).

A diretora de Marketing da Comissão de Viticultura, Carla Cunha, explica que esta campanha representa uma continuidade em relação à anterior, que tinha como slogan “Há um verde para cada momento” e que se focava nos diferentes perfis dos vinhos da região.

Agora, tendo em conta o momento que se vive, a campanha centra-se «nas emoções da própria marca», de forma a criar um vínculo emocional positivo com os consumidores. «É tempo de fazer chegar a mensagem de liberdade e esperança que o Vinho Verde pode transmitir», acrescenta.

«Todos ambicionamos mais liberdade, todos desejamos conviver mais, e estes são os valores que os Vinhos Verdes representam. Portugal e os portugueses mostraram o seu melhor durante a fase mais crítica destes tempos extraordinários. É chegado o momento de brindar com um Verde a um regresso cor de esperança», afirma, por seu turno, o presidente da CVRVV, Manuel Pinheiro.

Para além da imprensa, televisão, meios exteriores e redes sociais, a campanha vai contemplar ações de divulgação dos Vinhos Verdes nas grandes superfícies.

Adicionalmente, vai ser lançado um programa de incentivo a visitas à Rota dos Vinhos Verdes, durante o período de férias, desafiando os portugueses a descobrirem a beleza natural e patrimonial da região.

Todos devem ser agentes da recuperação económica

O presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes recorda o papel que todos podem desempenhar para que o setor dos vinhos seja um motor que ajude a economia nacional a combater a crise profunda.

«Há umas semanas, a ministra da Saúde dizia que todos somos agentes de saúde pública, e é verdade, mas agora também todos temos de ser agentes da recuperação económica», refere Manuel Pinheiro.

«Na região Minho temos uma restauração e uma gastronomia maravilhosa», elogia, incentivando à preferência pelos Vinhos Verdes para acompanhar as refeições.

Por outro lado, lembra que os apreciadores de vinho têm a oportunidade de repor o stock das garrafeiras pessoais, que em muitos casos foram sendo esvaziadas durante o período de confinamento, com os vinhos premiados no concurso “Os Melhores Verdes”, cujos vencedores foram divulgados há dias. «É uma oportunidade para descobrir vinhos novos, de produtores pequenos, que vale a pena ficar a conhecer», diz.

Paralelamente, este responsável enfatiza que «o apelo que temos de fazer – até para o desenvolvimento da nossa própria região – é que os turistas de todo o país nos visitem, façam aqui algumas das suas férias e com isso valorizem os nossos vinhos e a nossa produção agrícola e animal».

Manuel Pinheiro destaca a importância do enoturismo, lembrando que «foi uma semente que se lançou há alguns anos e que tem vindo a crescer. Agora, ganhou uma importância muito grande, porque as pessoas procuram mais afastamento e turismo de qualidade. O Minho tem essa oferta, como se calhar muito poucas regiões do país».

Verba para setor vitivinícola precisa de ser reforçada

O presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes considera que o apoio de 10 milhões de euros para o setor vitivinícola anunciado pelo Ministério da Agricultura precisa de ser reforçado.

«Parece-nos que o orçamento é curto. Dez milhões de euros repartidos pelos produtores, dá muito pouco para cada um. Estamos, por isso, a apelar para que o Ministério reforce essa verba», afirma Manuel Pinheiro.

Este responsável adianta que também está a ser trabalhada com o ministério tutelado por Maria do Céu Albuquerque a forma como o apoio vai ser alocado, uma vez que tinha sido revelado que as medidas para minimizar o impacto da Covid-19 neste setor vão consistir em subsídios para a armazenagem de vinhos e para a sua destilação.

A Comissão de Viticultura está a ouvir os produtores da região no sentido de incorporar as suas sugestões nas negociações com o Ministério da Agricultura, já tendo passado pelas sub-regiões de Monção e Melgaço e Amarante.

«É muito importante falar com os produtores e ouvi-los. Em cada sub-região existem necessidades diferentes. Somos uma região muito diversa, com empresas grandes e pequenas, umas centradas na exportação e outras no mercado nacional. Por isso, é preciso perceber as necessidades específicas dos produtores», refere.


Autor: Luísa Teresa Ribeiro