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DE MAIO A JUNHO: DE MARIA AO CORAÇÃO DE JESUS

De acordo com aquilo que a Igreja nos ensina, se o mês de Maio, prestes a terminar, é dedicado a Nossa Senhora - Maio, Mês de Maria -, vamos entrar em Junho, o sexto mês do ano, que nos recordará uma realidade cristológica fundamental, pois nele prestamos especial atenção a um aspecto muito importante de Jesus Cristo, Deus Encarnado: o facto de ter um Coração, vibrante de amor e de complacência. Junho é o mês do Sagrado Coração de Jesus.

Deus dotou o homem de um coração, membro fundamental da sua vida, centro e fonte de todos os seus afectos. Que alguém tenha um bom coração, eis um bom sinal para com quem ele convive, pois dessa pessoa espera um bom trato, uma afabilidade atraente, uma compreensão para com os problemas complexos, enfim, uma companhia que não se evita. Mais: que se deseja..

Mas tudo isto não é um fruto “espontâneo” da nossa natureza. O coração necessita de ser educado para corresponder aos bom sentimentos que dele se esperam. Se fosse deixado ao “Deus-dará”, nele dominaria a ausência de contenção afectiva, que se manifesta sobretudo através dos caprichos, dos maus humores, das reacções destemperadas, das “paixonetas parvalhonas”, enfim, de tudo aquilo que não se deseja a ninguém, especialmente se é nosso amigo deveras.

Nosso Senhor, na sua pregação tão eficaz, convidava-nos a ter como modelo do coração o Seu: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”.(Mt. 11, 29) ) Nesta frase de indiscutível interesse para a orientação da nossa conduta, sobretudo moral, não pode esquecer-se que, sob o ponto de vista humano, o coração de Jesus não é um fruto espontâneo da sua natureza. Ele necessitou, como o nosso, de ser educado. E nesta tarefa pedagógica, certamente que temos de encontrar modelos que serviram ao Senhor na orientação das reacções deste órgão tão vital e relevante para determinar o seu tipo de comportamento.

Jesus nasceu - ainda que por um milagre do Espírito Santo (Lc.1, 35) - no seio de uma família. É nela que cresce e se faz homem adulto. Por isso, os modelos comportamentais mais relevantes são os seus pais: Maria e José. De ambos aprende a ser manso e humilde de coração. A mansidão que caracteriza a sua calma e a sua capacidade para enfrentar toda a injustiça e destempero da condenação à cruz, lembra-nos a serenidade de Maria, quando o Arcanjo S. Gabriel lhe anuncia o desejo divino de ela se tornar a Mãe do Messias prometido. Naturalmente que se perturba perante a notícia. Mas mantém-se serena, porque pergunta ao Arcanjo como deve proceder para cumprir claramente a vontade de Deus: “Como é isso, se eu não conheço varão” (Lc. 1, 34). E também se olharmos para José; não é que não se inquiete quando despertado a meio da noite por um anjo com o mandato divino de fugir apressadamente - imediatamente - para o Egipto, a fim de não ser alcançado pelos soldados de Herodes (Mt. 2, 13-15 ). A sua reacção é pronta e eficaz, pelo que alcança o êxito que Deus deseja.

A mansidão facilita a aceitação do que é vontade de Deus. A humildade leva ao seu cumprimento integral, apesar das dificuldades e do sofrimento que ela pode trazer. Jesus, na Cruz não é protagonista de uma comédia. Sofre atrozmente todos os ultrajes, todos escárnios e todas as dores físicas que a sua missão implica. Não Se queixa: salva o bom ladrão, pede ao Pai perdão e misericórdia pelos seus executores (lc. 23, 14) e morre com consciência de que “Tudo está consumado!” (Jo. 19, 30), ou seja, cumpriu integralmente o que era necessário fazer. Pouco antes, Maria, sofrendo com Jesus como ninguém, aceita ser mãe de todos os homens (Jo. 19, 26-27). A sua maternidade passa a ser dirigida a pessoas diferentes do Filho que criou por vontade divina: os seus novos descendentes são pecadores. E José: terminada a sua estadia terrena alguns anos antes, conforme se supõe, aguarda, no “Seio de Abraão”, que Jesus o leve para o reino dos Céus. Como sempre, é uma figura lateral, que vive a sua humildade sem chamar a atenção. E recebe o beneplácito divino.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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30 maio 2020