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Dia Mundial da Criança

1.Vem aí mais um Dia Mundial da Criança. Como habitualmente, a criança vai ser tema. Vai falar-se dela. Dentro dos condicionalismos que o Coronavírus impõe estou persuadido de que não vão deixar de ser promovidas atividades para ela, dentro do possível, vistosas e espalhafatosas. Vão ser feitas bonitas declarações a favor da criança. Para a servir ou para a usar? Para a servir ou para, através dela, multiplicar as vendas? Para a servir ou para, através dela, conquistar a simpatia e o voto (quando chegar a altura) de pais, de tios, de avós? 2.Não sei se muita gente da nossa sociedade poderá, em coerência e com boa consciência, celebrar o Dia Mundial da Criança. Com que coerência celebra o Dia Mundial da Criança quem a rejeita, votando a favor do aborto provocado? Com que coerência celebra o Dia Mundial da Criança quem, tendo possibilidades para o fazer, não cria mais creches, mais jardins de infância, mais parques infantis? Com que coerência celebra o Dia Mundial da Criança quem utiliza estruturas, que teoricamente existem para o serviço à criança, unicamente com fins lucrativos, colocando o amor aos euros acima do amor à criança? Com que coerência celebra o Dia Mundial da Criança quem se não empenha como devia na criação de um clima familiar saudável? Com que coerência celebra o Dia Mundial da Criança quem não cria espaços verdes para as crianças poderem viver ao ar livre, saltar, correr, brincar com outras crianças, permitindo a construção de habitações que não passam de gaiolas amontoadas mais ou menos harmonicamente, onde a criança quase não tem condições para viver e se expandir? 3.Na celebração do Dia Mundial da Criança não posso deixar de pensar na Valentina, aquela menina de nove anos, encontrada morta no passado dia 10, presumivelmente assassinada por quem tinha obrigação de a defender. Não posso deixar de pensar em tantas valentinas, filhas de pais separados, que andam no jogo de empurra. Não posso deixar de pensar em tantas valentinas que, em lugar de acarinhadas, são vítimas de maus tratos e testemunhas impotentes de cenas de violência verbal e física. Não posso deixar de pensar naquele bebé encontrado em 05 de novembro de 2019 num contentor do lixo em Lisboa. Não posso deixar de pensar nos bebés abandonados à nascença ou nos primeiros seis meses de vida. Em 2018, segundo as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens CPCJ, foram comunicadas 21 situações de abandono de crianças à nascença ou nos primeiros meses de vida. 4.A celebração do Dia Mundial da Criança deverá ser motivo para nós, os adultos, a começar pelos mais responsáveis, refletirmos seriamente sobre o que a criança é, a sua dignidade, os seus direitos. E à frente destes há que pôr o direito a ser feliz. O direito a viver num ambiente familiar alegre e acolhedor. A viver num clima familiar onde não haja gritaria, onde não haja palavrões, onde não exista qualquer tipo de violência doméstica. Toda a criança tem direito a uma educação integral. As creches e os jardins de infância não devem ser um privilégio de algumas mas um direito de todas. A começar pela mais carenciadas. Todas as crianças, também as que têm pouco hábitos de higiene ou não são filhas de papá, têm direito ao carinho das educadoras. Todas as crianças têm direito a um cuidadoso acompanhamento médico. Todas as crianças têm direito a ter pai e mãe, a receber o carinho dos pais desde que são concebidas e a poderem beneficiar, nos primeiros tempos de vida, de um privilegiado acompanhamento da mãe. Toda as crianças têm direito a ouvir uma estória e a receber um beijo antes de adormecerem. 5.Dia Mundial da Criança. E há tanto a fazer pela criança numa sociedade que a vê mais como um brinquedo, um empecilho ou um estorvo do que como um enriquecimento para a comunidade, que o deve preservar como o melhor dos seus tesouros!
Autor: Silva Araújo
DM

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28 maio 2020