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APRENDER A LIÇÃO, COMBATER A POBREZA E VENCER O MEDO

Os dias que atravessamos são estranhos e incertos!

A cada dia que passa, avolumam-se dúvidas e incertezas e somam-se outras tantas interrogações a que ninguém com rigor e lucidez pode dar respostas perfeitas.

Efetivamente, a pandemia do Covid-19 veio impor-nos, há algum tempo atrás, um “modus vivendi” pessoal, familiar e profissional impensável. Ao mesmo tempo, as transformações sociais, económicas e culturais resultantes desta epidemia a nível global são causadoras de grande inquietação, insegurança e, principalmente, medo do futuro que teremos de enfrentar.

Na mais longa conversa, no mais breve diálogo, nas mais diversas vivências do quotidiano, o medo aflora claramente em cada palavra e no mais pequeno gesto.

O medo do incógnito amanhã, nas suas múltiplas dimensões, está constantemente presente a gerar ansiedade e outras perturbações.

O pavor ao que ainda possa vir a acontecer, como uma nova vaga da doença, se será igual ou ainda mais devastadora e como iremos resistir, são temas constantemente presentes. Do mesmo modo, questões sobre a viabilidade do aparecimento, em tempo útil, de uma vacina eficaz e segura, ou de um medicamento capaz de combater eficazmente a doença, são dúvidas igualmente geradoras de preocupação e alvoroço.

O receio da pobreza pelo emprego que está suspenso ou que já se perdeu, ou a dúvida sobre o funcionamento da escola no próximo ano letivo e as implicações que pode gerar na dinâmica familiar e profissional, são exemplos de indefinição causadora de muita angústia e de agitação emocional.

Na realidade, imergindo na abundante panóplia de informação sobre o novo coronavírus causador desta pandemia, concluiremos que o conhecimento sobre este agente infecioso é ainda exíguo e pouco consistente e não nos resta outro caminho senão continuar a resistir-lhe e a viver com ele.

Neste caminho que nos resta, há importantes princípios que devem ser rigorosamente cumpridos, sob pena deste catastrófico cenário se repetir ciclicamente: aprender a lição, combater a pobreza e vencer o medo.

Aprender a lição e alterar comportamentos a nível individual e coletivo. Individualmente, mudando hábitos de consumo, privilegiando produtos locais e mais sustentáveis, reciclando mais e utilizando melhor a energia. Coletivamente, exercendo o poder cívico, de modo a influenciar as decisões necessárias no combate às alterações climáticas e no respeito a ter pela natureza; projetar para o futuro imediato os ensinamentos impostos pela pandemia no aproveitamento das experiências com as novas tecnologias de comunicação nos campos do trabalho, da educação e de outras áreas onde possam ser viáveis e possam ser úteis para a alteração de paradigmas que poupem deslocações escusáveis e produtoras de mais poluição.

Combater a pobreza, quer a mais antiga, quer dando um combate sem tréguas ao surgimento de uma nova onda de pobres provocada pela pandemia, onde avulta o trabalho suspenso e o desemprego. Sensibilizar as autoridades competentes para este problema emergente na sociedade portuguesa e mobilizar os cidadãos e as instituições privadas de solidariedade social para um combate acutilante e permanente a esta chaga social, é um imperativo que não pode esperar.

Por fim, vencer o medo e manter os cuidados necessários para evitar contágios sem baixar a guarda e manter a esperança no aparecimento de soluções mais eficazes para combater o vírus. Vencer o medo para que, com as limitações inerentes a cada fase da pandemia, possamos regressar à normalidade possível e encarar o amanhã com esperança renovada num futuro onde se possa viver com mais tranquilidade e mais respeito pelo nosso planeta.

Mais respeito pelo planeta Terra, alterando comportamentos e atitudes que devem começar por cada um de nós, nunca mais esquecendo os ensinamentos trazidos pela pandemia que nos remeteu para a nossa pequenez no universo. Alterando comportamentos e atitudes que façam de cada um de nós não só um agente da saúde pública, como agora é expresso no “slogan” da Direção-Geral da Saúde espalhado aos quatro ventos, mas também um verdadeiro intérprete da mudança que não deve esperar.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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26 maio 2020