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Verdade ou mentira?

Descodificar aquilo que é verdadeiro do que é falso nas notícias publicadas em qualquer órgão de comunicação social ou outras plataformas noticiosas, é um trabalho de seleção mental que não parece nada fácil de fazer. Torna-se difícil por uma única razão: nós estamos preparados para acreditar naquilo que queremos ser verdadeiro e repudiamos tudo quanto seja contrário à nossa convicção. Daí que esta aceitação enviesada vai determinar uma verdade distorcida. Um pouco como se passa com a ideologia ou religião: quando cremos todos, os que não estão connosco são hereges e os seus seguidores são heréticos. “Em tempo de guerra mentiras como terra” assim diziam os meus avós e pais e assim o estou verificando durante este tempo de pandemia. Daqui e dacolá surgem números de doentes, infetados ou mortos, que depois se vem a verificar que não correspondem à verdade. Por exemplo: o que se dá com as notícias que nos dizem que já há vacina para a Covid-19? As descobertas começam a surgir dos quatro cantos do mundo e nós deveremos estar atentos para não as adotarmos sem recomendações dos organismos mundial e nacional de saúde. Este exemplo que é o mais recente serve para todo o resto: ninguém dá nada a ninguém nem ninguém é tão altruísta que nos ofereça seja o que for sem nos pedir uma recompensa. Acreditar sem ver, é como caminhar de olhos fechados. Em cada pedra uma topada. É igualmente verdade que se uma leve camada de mentira não cobrisse o apodrecido tronco da nossa sociedade, que imenso espetáculo não presenciaríamos de anjos de asas caídas! É preciso estar sempre de pé atrás para as mentiras que estes “anjos” nos apresentam; em tempos de pandemia, como a que estamos a lidar, a nossa sensibilidade está propensa para acreditar em milagreiros. Sabemos que há pessoas desconfiadas por natureza, não acreditando seja no que for. São os que estão na primeira linha dum combate contra todos e contra tudo, incluindo contra a verdade. Nunca voarão no sonho, repudiam as utopias, porque não têm asas para se elevar do chão. Como o carrapato sempre viverão debaixo dos lodos. Outros há que, por antítese destes, estão sempre prontos a acreditar em tudo; são os que, flutuando por espaços cor-de-rosa por eles criados, vivem na abundância de dias áureos. Babam-se por antecipação. Nas suas mentes estralejam foguetes de arraial a cada instante. Bem-aventurados porque nunca serão desesperados, mas serão sempre enganados. E depois lá vêm os do meio, os que nem são peixe, nem são carne, mas dos dois se alimentam. Mas são estes os bem-avisados porque eles encontrarão a verdade na dúvida metódica: finórios como Zé Povinho e crédulos como S. Tomé: ver para crer. A nossa mente tem, cada vez mais, de exercitar-se para saber selecionar as falsas notícias – se quiserem dar-se ares de intelectual, diga, “fake news” – das verdadeiras notícias. Prémio e castigo no eterno duelo entre o bem e o mal. Se aceitam um conselho ele aí vai: façam-se de Zé Povinho quanto farte e de S. Tomé quanto baste.
Autor: Paulo Fafe
DM

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11 maio 2020