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E-lições desta pandemia

O tempo de confinamento tem sido um período de grandes aprendizagens para todos. A Escola, tantas vezes criticada pelos seus métodos, que muitos apelidam de retrógrados e ultrapassados, conseguiu em tempo recorde modificar cenários e tentar não deixar cair a sua missão.

Com novas estratégias e meios para o ensino à distância e mitigar a impossibilidade do ensino presencial.

O primeiro ponto de reflexão é que não sabíamos que, afinal, eramos felizes e a Escola faz-nos falta. É evidente que este trabalho da Escola precisa (como sempre precisou) de alunos empenhados, de encarregados de educação comprometidos, de meios apropriados e de professores eficientes. Este trabalho exige mesmo muito dos professores e dos alunos. Pode parecer que o ensino à distância é um método novo, mas não, é uma metodologia muito usada desde sempre.

Porém, o novo ponto desta equação é a massificação desta tipologia de ensino. E como todos já percebemos, existem algumas competências e formatos de intervenção que demoram e precisam de ser consolidadas. Pelo que, o segundo ponto a levar em consideração, nesta forma massificada de ação, é ter tolerância. Não poderá, nem vai ser perfeito. Devemos atender às dificuldades e aos constrangimentos que tudo isto poderá acarretar, mas teremos que ter a ambição, a humildade de melhorar e, acima de tudo, simplificar os processos.

O terceiro ponto, desta minha reflexão, é um aspeto fundamental da educação: atender ao contexto. Não podemos deixar nenhum aluno para trás, nem crucificar nenhum docente, porque todos estes formatos de intervenção pedagógica exigem meios e sistemas de interação tecnológicos adequados, que nem todas as famílias possuem, nem todos os professores dominam.

E aqui a intervenção do meio envolvente é muito importante. Juntas de freguesia, Câmaras Municipais e Associações têm um papel determinante em ajudar a minimizar as dificuldades neste desígnio.

O quarto ponto, é a constatação que esta forma de ensino à distância não resolve todos os problemas da escola e dos problemas sociais que estão emergentes, com a pandemia, ou que afligem a nossa sociedade.

A tensão provocada por todo este cenário de instabilidade, medo ou sofrimento, está a atingir muitas famílias, pelo que, o contexto social a que estas estão a ser sujeitas não ajuda a implementar estes novos conceitos de organização escolar.

Desta forma, temos que ter força para tentar não deixar cair os laços de relação dos nossos alunos com o conhecimento e a aprendizagem, mas também temos que reforçar os laços afetivos e emocionais com a comunidade. Simplificando.

Os professores, os alunos, os pais, vêm os seus horários devassados, com plataformas, telefonemas, aulas, emails a invadirem, a toda a hora e a qualquer hora, o seu ambiente. E este cenário entronca com o quinto ponto desta reflexão: a carga de trabalho.

A escola, os seus agentes, a família, os alunos, devem perceber que a carga de trabalho vai ser diferente, eventualmente maior, mas exige, de todos, alguns aspetos fundamentais para este projeto novo da Escola: melhorar a comunicação e o retorno do feedback das dificuldades, com humildade. Acabo com o sexto e último ponto, que o apelidei de “Factor R”.

Esta situação, esta pandemia, exige REPENSAR a sociedade que somos, REAGIR a este descalabro, que o RESPEITO seja máximo, que a RESILIÊNCIA nos invada e que nos crie uma oportunidade de RECOMEÇAR, com mais força, coesão social e esperança.


Autor: Carlos Dias
DM

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24 abril 2020