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Curiosidades sobre o grande Afonso Henriques

  1. Leituras em quarentena). Uma das coisas que tenho feito, neste período de miserável quarentena, tem sido ler ou reler alguns livros de História. Nomeadamente os relativos ao período da Reconquista e ao início da monarquia portuguesa. Ler pela 1.ª vez “Teresa, a condessa-rainha” (por L. C. Amaral e M. J. Barroca). E voltar a consultar duas biografias de D. Afonso Henriques, uma por Freitas do Amaral; e outra, mais elaborada, por José Mattoso. Além da volumosa História de Portugal, do meu ilustre amigo prof. Veríssimo Serrão, que Deus o conserve. E a História Concisa de Portugal (por Hermano Saraiva). E por último, o espesso “Portugal na Espanha árabe”, um livro de Borges Coelho feito à base de citações de autores muçulmanos medievais, naturais de Marrocos ou da metade-sul da Pen. Ibérica (que nos dão a perspectiva dos lugares e dos factos, vista desde o “lado de lá da barricada”).

  2. Genealogia paterna do nosso 1.º Rei). D. Afonso Henriques era, através de seu pai, o conde D. Henrique (m. 1112), bisneto de Roberto o Velho, duque de Borgonha (m. 1076); e trineto do pai deste, o rei de França Roberto II o Pio (c. 970-1031). Este último era, nada menos que filho de Hugo Capeto (938-996), fundador da dinastia francesa dos Capetos (e tetravô do nosso 1.º rei).

  3. Genealogia materna do nosso 1.º Rei). Já a mãe de Afonso Henriques, D. Teresa (ca. 1080-1130), era filha (natural) do grande rei espanhol Afonso VI o Bravo (1140-1109), que reconquistou Toledo. Este último era filho do famoso Fernando Magno, de Leão e Castela, “imperador” (1017?-1065), ao qual Portugal deve a reconquista de Lamego, Viseu e Tarouca (que eram do rei mouro de Badajoz); e a tomada efémera de Coimbra; deste rei se tornaram vassalos os mouros de Toledo, Sevilha e Saragossa. O pai de F. Magno era Sancho III Ximenes, que reinou em Navarra de 1004 a 1035 (trisavô pois, do nosso 1.º rei). E o sogro era Afonso V, que reinou em Leão e Castela de 999 a 1038 (outro trisavô).

  4. Ximena Moniz, a avó materna do Conquistador). O notável rei Afonso VI de Leão e Castela, foi homem de muitas mulheres: casou 5 vezes e teve várias amantes. Uma destas, a moura Zaida, deu-lhe um filho (Sancho), que era o seu preferido, mas foi morto pelos mouros, em Uclès. A outra grande amante que ficou para a História, era a filha do Conde do Bierzo (aquele vale imenso à volta de Ponferrada, bem a norte de Bragança). O romance do rei viúvo durou de 1078 a 80. O rei volta a casar e Ximena regressa ao Bierzo, onde foi “tenente” do castelo de Ulver (ou Cornatel), coisa de homens, até 1107. Era ela quem mandava no condado do Bierzo e no de Astorga. E muito ligada ao mosteiro de S. Pedro de Montes. Morreu em 1128 e jaz no most. de Espinareda. Sua mãe dava pelo curioso nome de Velazquita (bisavó do nosso 1º rei); seu pai era Mónio Moniz, o conde. Irmã mais nova de Ximena, foi Gontrode, que casou com Soeiro Mendes da Maia, o Bom.

  5. Local e data de nascimento, infância). Fundada por Vímara Peres (m. 873), 1.º conde de Portucale, ninguém tira a Guimarães a honra de ser o “berço da nacionalidade”. Porém, o local exacto do nascimento de Afonso Henriques é ainda algo duvidoso. Se, como parece (“Chronica Gothorum”, da sé de Coimbra), ele nasceu em 1109, o certo é que sua mãe passou a maior parte desse ano em Viseu (onde aliás há um lugar, em R. de Loba, Gumirães). E naquele tempo não havia auto-estradas para as grávidas viajarem até Guimarães ou Coimbra (as duas alternativas propostas). Anos agitados, aqueles de 1109-10: nova invasão moura toma Talavera, ataca Madrid e cerca Toledo; os víquingues tomaram Sintra e atacam a moura Lisboa; morre Afonso VI (aos 70 anos, avô do nosso 1º rei). Em 1111, D. Teresa vai a Palência fixar as fronteiras com sua meia-irmã, D. Urraca; e deixa o bebé ao cuidado de, não é certo, Egas Moniz de Ribadouro, o Aio. Este esconde o príncipe a sul do Douro (Resende), entre Cárquere e Britiande (Lamego). A isto está ligada a lenda (posterior)de que “o príncipe teria nascido robusto mas com um defeito nas pernas e que, por milagre regressaria curado”, o que levanta vagas dúvidas acerca da identidade do bebé que foi devolvido (mas é uma lenda).

  6. Os epítetos com que Afonso Henriques era brindado nas crónicas dos Mouros). O nosso 1.º rei passou a vida a batalhar contra leoneses e contra mouros. Tomou precariamente Tuy, Celanova, Cáceres e Trujillo. E ajudado por gente como G. Mendes da Maia ou o intrépido Geraldo sem Pavor, tomou Leiria, Lisboa (com os Cruzados), Santarém, Alcácer, Évora, Beja, Serpa, triplicando a área que herdara. Eis algumas passagens, tiradas de Borges Coelho (op. cit., pgs. 352 ss.), citando uma típica crónica, de Ibn Sahib Absallah. “O pérfido galego Afonso Henriques, senhor de Coimbra (o maldito de Deus!) conhecia bem a valentia do cão do Geraldo (sem Pavor)”. Os portucalenses são a “gente execranda”; o rei espanhol Fernando, é “o baboso”; Geraldo é o “pérfido galego”; e Ibn (filho de) Arrique (o nosso 1.º rei) é o “pérfido inimigo, o maldito de Deus; Deus o amaldiçoe e lance ao fogo do Inferno”.

  7. Resting places”). Afonso Henriques e Sancho I descansam em Coimbra. O conde D. Henrique e D. Teresa, em Braga. Afonso VI de Leão, em Sahagún. Ximena Moniz, em San Andrès de Espinareda, no Bierzo, Léon.


Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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14 abril 2020