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Rafael Correia (e outros “homens do Sul”)

  1. 1 Quase peço desculpa, mas é bom distrair o espírito das pessoas, nesta época de crise). Uma crise como nunca havíamos passado. Mas que tem algo de paralelo com aquilo que viveu a imensa Classe Média portuguesa entre Abril de 1974 e 1976-77, na interminável espera de que as Esquerdas Radicais fossem completamente desalojadas do Poder político-militar e do controlo total dos Media, onde diariamente infernizavam o dia-a-dia da maioria dos portugueses. Situação que, já ninguém o supunha, pode mesmo voltar a repetir-se, se o barco for mal guiado nas tempestades sanitária e económica que se adivinham. E este aviso está feito…
  2. 2 Morrer antes da “Crise do Covid 19”). Aqueles que Deus Nosso Senhor quis que morressem nas últimas semanas ou meses, antes da revoltante Pandemia que nos ameaça agora, esses partiram para o “outro mundo” sem imaginar a tragédia de que (de alguma maneira) se livraram… Lembro-me p. ex., de dois cantores de esquerda, o ribatejano (de Riachos) Pedro Barroso e o basco Pátxi Andión; o primeiro, de doença; o 2.º, de acidente de automóvel (como Carlos Paião, há tantos anos). Ou agora, o notável radialista Rafael Correia.
  3. 3 Lembram-se de Rafael Correia?). Com certeza que há-de haver muita gente que não o terá esquecido. Que terá gravada para sempre na sua memória alguns dos muitos programas radiofónicos que ele realizou desde a RDP Faro, sob o título “Lugar ao Sul”. E que, nos últimos anos (até 2008) passavam, salvo erro ao sábado de manhã, na citada emissora. Foram cerca de 3 décadas a viajar pelo nosso País, especialmente pela metade-sul, sobretudo pelo Alentejo e Algarve. É claro que não havia imagens, mas a realização era tão bem feita, que o ouvinte as criava na sua mente, às vezes como se lá estivesse efectivamente presente. Sem conhecer as pessoas com quem entrava de súbito em contacto, Rafael Correia irrompia no mundo privado delas com uma afabilidade, tacto, cortesia, camaradagem e frequentemente também com um ar de admiração sincera ou de surpresa própria (que alguns visados percebiam que não o era…), como ninguém mais conseguiria até hoje. R. Correia nasceu em St.ª Bárbara de Nexe (conc. de Faro) e faleceu agora, também no Algarve, aos 82 anos, na 6.ª f.ª, 6-3-2020, de doença prolongada. A sua biografia detalhada é difícil de encontrar na Internet. Mas apurei que entre 1972 e 74 esteve na BBC inglesa e na França. O seu “Lugar ao Sul” vem-nos dos anos 80; e que ele, tão querido e popular que era, se reformou inesperadamente em 2008. O que foi uma surpresa total para os “fans”, que imploravam que não acabasse. Correia não gostava muito de se expor e a sua cara era conhecida de poucos.
  4. 4 Correia desvenda ao Mundo a viola campaniça e o “canto de baldão”). O recém-falecido não teria, talvez, para a música, um “ouvido” à altura dos seus outros méritos. Interessava-se mais pela graça dos velhotes do Alentejo e Algarve (que são realmente gente de muita inteligência e piada). Porém, quando andou por Ourique, Castro Verde e seus entornos, deu a conhecer a extraordinária graça e poder das antigas melodias do Baixo Alentejo, daquelas que são acompanhadas pela viola campaniça. E que alegravam as tabernas, os bailes e as feiras anuais de Castro e da Sr.ª do Colo. Desde a “Marianita” ao “Laranjal” e à fabulosa “Ilha dos Vidros”… E seus intérpretes maiores, os agora já falecidos Fr.º Ant.º Bailão e um casal, mestre Manuel Bento e Perpétua Maria.
  5. 5 Um dia telefonei a Rafael Correia). “O quê? Você conseguiu contactar-me? Olhe que é a 1.ª pessoa que o consegue, eu estou reformado, doem-me muito as articulações, fujo muito ao contacto, não imagina que se saio à rua, as pessoas não me deixam em paz”. Foi por 2012 (?) e o que eu pretendia era gravações em CD ou fita, do trio de músicos acima citado. Disse-me que fosse ao “site” da RDP.
  6. 6 Na Beira Baixa, faleceu Manuel Caldeira, um “pastor-latifundiário”). Nascera em 13-4-1933, no “monte sagrado” de Monsanto, uma das capitais dos Lusitanos. Homem de grande ironia e piada, estatura média, olhos claros e rosto anguloso. Nasceu pobre, mas deixou em herança mais de 300 hectares, divididos por sobreirais, pastos e olivais, desde Monsanto à mais romana (e algo caldaica) aldeia vizinha de Medelim. Conheci este Caldeira, atravéz dos Balhaus (da Mata, terra de Vasco Lourenço), que tinham um restaurante em Castelo Branco. Vale a pena recordar que esta zona fica logo a sul de Penamacor, a terra de José Seguro. E que a modesta Medelim é irmã-gémea de Medellín (prov. de Badajoz, pátria de tantos conquistadores das Américas) E que deve o seu nome ao político e general romano (pró-Silla), Quintus Caecilius Metellus Pius (m. 63 a. C.), que lá teria estabelecido quartel, na última fase da conquista da Lusitânia. E se Cortés, o conquistador do México, nasceu em Medellín (Badajoz), a hoje tão famosa cidade da Colômbia é “filha” daquela.

Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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31 março 2020