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Mães solteiras… heroínas não-reconhecidas?

Mais de metade das crianças nascidas, em 2018, são filhas de mães solteiras: das cerca de 87 mil crianças que viram a luz, mais de 48 mil foram de mães solteiras.

Segundo dados recentes (2019) e oficiais (INE), as famílias monoparentais – na sua maioria assumidas por mulheres com filhos a cargo – ultrapassam, em Portugal, os 400 mil casos de constituição familiar (459.344), enquanto o tipo de agregado ‘casal sem filhos’ atinge mais de um milhão de situações (1.030.116) e o item ‘casal com filhos’ é de quase um milhão e meio de casos (1.401.622)… isto já para não ter em conta as pessoas que vivem sós: mais de novecentos mil (934.108).

É claro e notório que a configuração da família no nosso país – e em toda a Europa – está a mudar acentuadamente, percebendo-se que a instituição família é, hoje, alvo de todos e dos mais insidiosos ataques, não só na teoria como na prática, numa ação quase concertada, que faz estremecer de medo e de preocupação sobre o nosso futuro coletivo.

Percebe-se facilmente que a estruturação da sociedade não tem na devida conta a família, parecendo esta mais um inimigo do que um parceiro e/ou um elemento estruturante da própria sociedade. Desde a organização do tempo até à qualidade com que este é gerido, tudo parece correr apressado. Outros fatores se sobrepõem à família: o emprego/trabalho, a habitação (desde o custo das casas até ao arrendamento ou mesmo a sua dimensão), o dinheiro (a ganhar, a gastar e talvez sem poupar), uma certa vida social, numa palavra, como dizem alguns entendidos: é caro ser e ter família…sem viver na nostalgia nem na ansiedade.

= Efetiva e afetivamente todos fazemos parte de uma família, que nos deu o ser, o estar e, sobretudo, o saber estar, sendo. E aqui entram muitos sinais que deveriam questionar a nossa sociedade, pois sabemos que uma pessoa desestruturada familiarmente pode tornar-se um foco de conflitualidade ou mesmo destabilização em potência. Torna-se, de facto, preocupante que as pessoas tenham cada vez menos tempo umas para as outras e que as relações efetivo-emocionais sejam, de algum modo, menosprezadas, senão na teoria ao menos na prática. Com indisfarçável proposta se vem criando as condições para que as pessoas não tomem as refeições em comum, promovendo antes a sua toma fora de casa, com os gastos económicos – dados conhecidos dizem que os portugueses gastam 35 milhões diários nas refeições extrafamiliares – e a diluição dos laços afetivos, humanos e até gastronómicos familiares.

É algo visível que as pessoas (homem e mulher) começaram a assumir laços com estabilidade – antes dizia-se pelo casamento (com ou sem vínculo de matrimónio) – cada vez mais tarde na idade. Em cinquenta anos passou-se, em média, dos vinte e cinco anos para os atuais trinta e três, fazendo-o sobretudo no registo civil; naquela data teriam, em média três filhos, agora quedam-se por um ou nenhum. A esta leitura deve acrescentar-se o facto de o recurso ao divórcio ter aumentado em mais de cinquenta por cento em meio século. Os homens são quem mais recompõem a sua vida familiar… casando-se. Desde 1995 que mais de trezentas mil crianças já tinham meios-irmãos, quando nasceram.

De referir ainda que, na última década, foram celebrados mais de quatro mil casamentos entre pessoas do mesmo sexo e que, desde 2016, estes mesmos ‘pares’ podem adotar crianças e jovens.

Além de tudo isto é notório que um número crescente de pessoas, de qualquer dos sexos, nem vive em vínculo de estabilidade legal, quedando-se pelo estado ‘de facto’, embora usufruindo idênticos direitos, quando não quiseram abraçar os deveres… Serão sinais da volatilidade das coisas dos nossos dias?

= Causas e consequências do relacionamento entre as pessoas continuam a ser vividos num quadro humano onde a lei precisa de não feita a gosto dos intervenientes, mas onde será preciso que as diversas partes saibam quem são e como se devem relacionar de forma adulta e amadurecida. Se a diminuição do número de casamentos se julgava ter acrescido a qualidade nem sempre isso se verifica, antes pelo contrário: a qualidade/maturidade parecem andar em proporção desencontrada em tantos dos episódios do dia-a-dia.

Como dizia alguém com saber e experiência: um bom casamento começa a ser preparado duas gerações antes de ele se vir a concretizar, isto é, nos netos se alicerça a fidelidade dos avós e vice-versa.

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Como dizia alguém com saber e experiência: um bom casamento começa a ser preparado duas gerações antes de ele se vir a concretizar, isto é, nos netos se alicerça a fidelidade dos avós e vice-versa.


Autor: António Sílvio Couto
DM

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16 março 2020