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As presidenciais

Aproxima-se o tempo de falarmos sobre as eleições para a presidência da república : fizeram-se as primeiras sondagens e, sem qualquer admiração, o atual presidente Marcelo tem uma percentagem que só admira por não ser cem por cento. Mas uma vez que há alguns que não gostam da sua maneira de ser presidente, então estão dispostos a escolher outro presidente da república portuguesa. Isto é bom e vai ao encontro do que aqui disse há dias quanto à personificação do pensamento individual. Sabemos que há pessoas que não gostam de Marcelo pela sua maneira de ser presidente , acusando-o mesmo de ele ser um abusador da afetividade. Gostariam mesmo de ter um presidente mais senhor do seu cargo, não tão austero como Cavaco Silva, mas também não tanto popular como um cidadão comum. A sua maneira de estar é , para muitos, uma subversão do cargo, colocando-o num quarto comum em vez de o situar no suite presidencial. Querem dizer que o cargo de presidente desceu ao nível da rua quando deveria estar no olimpo. Há comparações com outros presidentes e estes senhores que não gostam dele, procuram em Mário Soares uma aproximação a Marcelo, ou melhor, querem comparar Marcelo a Soares. Salvo o devido respeito, nada há a comparar. Mário Soares não era popular, era o “rei numa democracia” e Marcelo é na democracia, um democrata sem ser “rei”. Mas ainda bem que não há unanimidade à volta de Marcelo. Se a houvesse, não haveria eleições, antes um plebiscito que se tornaria numa viagem triunfal pelo país do candidato Marcelo. Daí que os partidos maiores ponderem como meter-se nesta eleição, porque Marcelo ganhará sozinho, como aliás fez na primeira vez. A melhor escolha partidária será não dar apoio. Os pequenos partidos vão apresentar candidato porque precisam de aparecer para não esquecer e, desta maneira, fazer prova de vida. Segundo alguma comunicação social perfila-se desde já o candidato André Ventura. Certamente outros aparecerão. Oxalá que assim seja para termos alguma luta nestas eleições, quando não, os debates tornar-se-ão num aborrecido monólogo e correríamos o risco de se agravar substancialmente o fenómeno abstenção. Para quê votar se apenas houver um candidato? Marcelo, quer se goste ou não da sua personalidade, criou um estilo de presidente que dificilmente encontraremos outro que se lhe possa igualar. A naturalidade é uma marca indelével que, como as impressões digitais, sinalizam a individualidade. Por isso é que consegue ser popular sem ser demagogo. Está-lhe no sangue, como diz o povo. E não é fácil este equilíbrio entre popular e demagogo porque o fio da navalha é muito ténue e a resistência para não cair para uma das partes, faz-se em equilíbrio instável. Marcelo gostaria muito mais ser escolhido através dumas eleições disputadas do que ser novamente presidente por exclusão de partes. A democracia eleitoral é um ato de opções e não um ato de exclusões. Quem vier a disputar o lugar de presidente da república portuguesa tem de saber que Marcelo é o candidato presidente e eles serão futuros presidenciáveis. Toda a gente percebe que os desconhecidos de hoje aparecem hoje, para serem os conhecidos daqui a cinco anos. Ventura faz bem começar o jogo. Que mais alguém comece a jogar.


Autor: Paulo Fafe
DM

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17 fevereiro 2020