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A bofetada de luva branca

Sendo Portugal um país pequeno e a cidade de Braga ainda menor, onde as relações de proximidade são grandes, há situações extremas em que a honestidade intelectual que, para mim, tem de ser inerente ao comentário político, custa e não é fácil quando são menos favoráveis para com pessoas de quem somos amigos.

No entanto, nos meus textos – meramente de opinião – há dois princípios fundamentais: seguir a minha consciência e oportunidade política nos assuntos que analiso, sem um deles condicionar o outro.

E, sendo assim, vamos lá :

O resultado das eleições para o PSD que teve o seu epílogo este final de semana foi, para a seção de Braga, absolutamente clarificador.

Tendo Rui Rio vencido com alguma folga as eleições na secção face a Santana Lopes há cerca de dois anos, seria muito provável que voltasse a ganhar.

Nisso, pelo menos, Rui Rio tinha uma vantagem acrescida e os seus apoiantes, legitimamente, esperavam isso.

No entanto ressalvava outra questão, muito interessante do ponto de vista político:

Além das eleições para a Presidência do Partido, houve também a eleição para Delegados ao Congresso, tendo concorrido duas listas, apesar da tentativa de Hugo Soares para fazer uma lista de unidade, como sempre ocorreu no passado.

Assim uma das listas foi encabeça por Firmino Marques, apoiante de Rui Rio e outra lista foi encabeçada por Hugo Soares, apoiante de Luís Montenegro.

O militante Firmino Marques – ex-vice presidente da Câmara de Braga – que foi escolhido deputado por Rui Rio também como representante da secção de Braga, encabeçou uma das listas.

Encabeçava a outra lista o militante e Presidente da Comissão Política Hugo Soares – ex líder parlamentar – que foi preterido por Rui Rio a deputado e que era o candidato da seção de Braga escolhido pela Comissão Política com o apoio, na ocasião, do Presidente da Câmara.

Estas eleições iriam também confirmar – do ponto de vista político – o acerto ou desacerto da decisão de Rui Rio na escolha do deputado por Braga.

Assim, além da escolha do Presidente do PSD, estas eleições em Braga iram atestar duas coisas:

1.º - A relevância relativa interna destes dois militantes, que chegaram a um ponto muito alto nos lugares de estado que desempenharam, um como autarca e o outro como líder parlamentar, tenho ambos saído dos mesmos com um trabalho de muito mérito.

2.º - E, nessa sequência, a escolha acertada ou não do deputado da seção de Braga por parte do Presidente do Partido.

O confronto foi claro e direto e o seu resultado também!

O resultado foi absolutamente clarificador tendo a lista de Hugo Soares elegido 5 delegados ao congresso e a lista de Firmino Marques 3 delegados e até com menos votos do que os votos que Rui Rio teve para a Presidência do Partido.

Assim, em Braga estas eleições não foram apenas uma vitória de Luís Montenegro – que apoiei – mas também uma vitória indiscutível de Hugo Soares que ganhou as eleições numa seção que anteriormente tinha dado a vitória indiscutível a Rui Rio face a Santana Lopes .

Se outro tivesse sido o resultado, Hugo Soares, do ponto de vista político, teria tido a sua posição política em Braga enfraquecida. No entanto, assim, com este resultado, o futuro político em Braga de Hugo Soares é aquele que ele quiser ter e está até politicamente reforçado.

Firmino Marques – e não o deixo de o afirmar apesar da forte amizade que tenho por ele –, sendo um autarca ímpar na cidade e um grande ativo do PSD, poderia ter tido outro resultado, se não fosse o afastamento, por vontade própria, que tem tido da atividade partidária desde há bastantes anos.


Autor: Joaquim Barbosa
DM

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22 janeiro 2020