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Sou a favor da tarja

O futebol é hoje um produto global. Apetecível. E ainda que sejam demasiado frequentes as notícias que vamos ouvindo deste ou daquele clube que faliu, ou de qualquer outro em sérias dificuldades financeiras, mostra-nos a evidência que os Organismos que o gerem (em Portugal e fora do nosso país) são entidades com uma tremenda saúde financeira. O que nos deve dar que pensar. Afinal, quem interpreta e possibilita esse mesmo produto, para milhões de aficionados o verem, são os próprios clubes, não obstante a importância (edeterminante mérito) de quem o organiza e difunde. Paredes meias, diria, no que ao contributo vs retorno diz respeito, porquanto um sem o outro não existiriam. Grandes clubes sem uma grande organização a promovê-los não seriam clubes de alcance mundial, e nem uma grande organização seria o que são hoje as organizações do futebol sem os grandes clubes que as servem. É neste particular que os clubes devem ser ouvidos: na sua importância incontornável para que o fenómeno do futebol se transforme no produto ímpar e milionário em que se tornou nos últimos 20 anos. Como ator principal de uma roda gigante, na qual qualquer engrenagem é preponderante, tem de ser inquirido e relevado. E é com esta inferência que introduzo o segundo ponto que considero indispensável a esta análise: o adepto. Entendo o adepto como a peça central de toda a lógica do futebol / desporto. É para ele que devemos direcionar o produto, por muito que atualmente os clubes sejam empresas, umas bem-sucedidas, outras nem tanto, como acontece no mundo dos negócios. O adepto é o cliente dos clubes. É o consumidor-mor. É quem oleia toda a máquina promovida por quem gere as competições. Sem ele, que faríamos? Interrogo-me sobre o que pensarão sobre esta temática personalidades tão fundamentais para o desenvolvimento do nosso futebol enquanto desporto para as famílias portuguesas, ele que serve tantas vezes de catalisador social. Que sirva de cabal exemplo a opinião e o sentimento dos adeptos do nosso benquisto clube. Segundo eles, chega de jogos durante a semana, de jogos a horas impróprias, de calendários atrofiados e reféns dos interesses... dos outros. O futebol são os clubes e quem por eles torce. Devemos olhar para as tarjas desta manifestação como um alerta, e como prova de que nem tudo está bem, de que há um caminho que devemos percorrer se queremos, aproveitando esta onda de desenvolvimento ímpar, redirecionar o nosso desporto aos seus apoiantes e à família. Promovendo jogos em horários convidativos, sobretudo ao fim-de-semana, horários que permitam uma deslocação tranquila das pessoas, um convívio prazeroso antes e depois dos jogos, sem a constante pressão que é posta nos clubes, porque há sempre mais um jogo a realizar ou mais uma competição a promover. É altura de deixar que mais uma prerrogativa económica se sobreponha à essência do desporto. E para que isso aconteça é essencial que haja nas direções dos clubes quem se oponha ao puro mercantilismo. Quem entenda que antes da televisão está o sócio e o adepto. Dirigentes preocupados na defesa daquele que não tem voz, ou não se faria ouvir através de tarjas silenciosas. Precisamos de pessoas que respeitem os clubes, não sendo subservientes a nada nem a ninguém, atuando de forma independentes e focada na intransigente proteção do principal elo que faz o futebol acontecer: o adepto.
É nesse sentido que teremos de trabalhar.

Autor: João Gomes
DM

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16 janeiro 2020