Rádio Sim: assim, não!
Nunca ganhei um cêntimo pelas centenas de programas por que fui responsável na Rádio SIM, emissores de Braga, “SER IGREJA”. Fi-los com muito gosto, muito sacrifício e por entender que, como cristão, teria e terei de estar ao serviço da Igreja e da comunidade. Foram muitos anos de presença com convidados ilustres e magníficos com os quais aprendi sempre muito. Quando o programa acabava, saía feliz e mais rico com o que tinha aprendido. E reconfortavam-me os inúmeros ouvintes que me abordavam para agradecer o meu serviço.
Soube pela comunicação social (Diário do Minho, 4.I.2020) que os estúdios encerravam e não haveria mais emissões. Se por um lado senti alívio, pois preparar semanalmente um programa de uma hora dá trabalho e canseira, por outro, senti que os dirigentes, de quem nunca recebi qualquer contacto, não tiveram o mínimo de gentileza de me terem avisado previamente do fim das emissões. Chama-se a isso GROSSERIA.
Vindo de onde vem, de responsáveis da Igreja Católica, é muito mais grave. Chama-se INGRATIDÃO. Mas os homens, mesmo os da Igreja, são o que são.
Mas não queria falar mais de mim. A minha vida não dependia da minha colaboração absolutamente gratuita, no programa radiofónico. Até ganhei, pois muitas vezes tive de pagar do meu bolso o estacionamento para fazer o programa e sempre usei o meu carro cuja gasolina eu pagava.
Outro colaborador gratuito e excelente, como eu não era, nem sou, creio que também não foi avisado do fim do programa e, também, não ouviu um simples: OBRIGADO. Refiro-me ao Padre Carlos Nuno Vaz.
Como se pode calcular, o programa precisava de técnicos, que eu não sou. Tinha o Fernando Fernandes, que era o meu braço direito, não só na técnica como nas conversas preparatórias que sempre tínhamos sobre as emissões semanais. Também a Glória Silva dava sempre a sua “mão”.
E para mim, as pessoas são o mais importante. Não são, assim o entendo, mera mercadoria que se recruta e despede como coisas. Não e não! Mesmo cumprindo estrictamente a lei, a que os empregadores são obrigados, há que olhar para cada funcionário como uma pessoa e pessoa com responsabilidades familiares e sociais. Sei que será cumprida a lei. Fria e anonimamente aplicada como carimbo com que se marcam os animais de abate.
Não se despedem os funcionários muitas vezes, mas, dão-lhes opções insultuosas, quando não se lhes dá transporte e os “convidam” a deslocações para locais distantes. Esquecem-se que há famílias e encargos por trás de cada trabalhador. Esquecem-se que estes trabalhadores não têm carro topo de gama com gasolina e portagens pagas! Não.
Como se pode falar de “MISERICÓRDIA” quando esta só sai da boca para ficar “bonito” e não brota do coração?
Como o leitor pode calcular, o fim dos Estúdios da Rádio SIM em Braga não me afecta rigorosamente nada. Aliviou-me de uma tarefa e eu já não sou uma criança! Lamento que se tenha perdido uma forma da Igreja estar presente no mundo da comunicação social.
À Arquidiocese de Braga e a Diocese de Viana do Castelo foi retirada uma oportunidade de estarem presentes na rádio.
Felicito o Senhor Arcebispo de Braga pela sua posição tornada pública, bem como o Cabido Primacial que se mostrou, igualmente, nada satisfeito com a decisão de se “descontinuar” (Ah! Os eufemismos!…) a Rádio Sim .
Pelo que li (cf DM supra) os euros pesaram mais. São opções que não me compete discutir. São opções, porém, que não me deixam indiferente, sobretudo, quando compagino aquelas com a Doutrina Social da Igreja, mesmo que toda a lei que regula as relações laborais em Portugal seja aplicada, a Igreja tem de aplicar a lei com o coração cheio de misericórdia e não a “seco”. Há pessoas cuja vida ficou em jogo. E isto é que deveria inquietar os decisores.
Agradeço à Glória e ao Fernando toda a amizade e apoio que há trinta e muitos anos me deram. Considero-os da minha família. Sofro com eles.
Egoisticamente escrevendo, deixem-me os leitores dizer, que me sinto aliviado por ter sido “corrido”, varrido como lixo. Que eu saiba aproveitar bem esta humilhação!