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Os desafios do PSD II

Quem me conhece bem sabe que desde há anos existe algo que sempre me intrigou:

Como é que o PSD pode estar pelas ruas de amargura no Porto quando teve um competente Presidente de Câmara social democrata durante 3 mandatos?

A continuação do projeto social democrata para o Porto, após a saída de Rui Rio, não deveria ser nada difícil uma vez que foram excelentes mandatos.

Basta ver o que se passou em Lisboa, Vila Verde ou Famalicão, onde o partido maioritário da Câmara Municipal com facilidade continuou no poder após os mandatos dos seus anteriores Presidentes.

O que aconteceu então?

O que aconteceu, do meu ponto de vista, encontra-se bem resumido na ideia que Rui Rio expressou em Braga, em campanha eleitoral, esta última sexta feira quando afirmou que “pelo PSD não justificaria todo este sacrifício, todo este trabalho” … “a razão pela qual me candidato a Presidente do PSD é por Portugal”.

Esta afirmação, aparentemente muito patriótica, é coerente com a ideia do uso do PSD como mero instrumento e trampolim para apenas ganhar eleições.

Quando um líder partidário, estando ou não em funções de Estado, não tem estratégia continuadora para a sua saída, ocorre o que aconteceu no Porto, onde o PSD vive um dos períodos mais amargos da sua história. E isto apesar do grande valor dos mandatos de Rui Rio. É até uma grande lição para Braga.

O governo de Passos Coelho – do qual Montenegro foi um suporte essencial – aplicou o princípio que Sá Carneiro deixou de primazia dos interesses de Portugal em relação aos interesses do partido ou da situação pessoal de cada um. Em nenhum país do mundo uma fortíssima bancarrota – que ao mesmo tempo abalou o estado, a banca, as empresas e as pessoas – foi debelada em apenas 4 anos. O PSD, seguindo Sá Carneiro, teve custos políticos fortíssimos, mas não hesitou face ao interesse de Portugal.

No entanto, este princípio, essencial na vida do PSD, é apenas para aplicar em situações limite ou quase limite como aconteceu em Portugal no período do governo de Passos Coelho ou no período da governação de Sá Carneiro.

Qualquer dirigente do PSD tem de pensar e atuar estrategicamente em função também no interesse de partido porque, atuando assim, atua também no interesse de Portugal. Se assim não acontecer há uma completa contradição nos termos, como se o interesse de Portugal ou do PSD sejam constantemente contraditórios.

Se o interesse de um PSD forte para um líder é apenas residual como será sempre afirmativo o projeto social democrata para Portugal?

O interesse de um PSD grande não é pelo poder em si mesmo, mas para afirmação dos seus valores, princípios, atuação na sociedade e pela visão que tem para Portugal.

Quem não for dirigente do PSD com gosto, pode servir Portugal de outras maneiras, desde a educação dos filhos, no seu trabalho, na participação em várias entidades cívicas, socais, etc.. Não precisa de se sacrificar até porque, assim, nada lhe sairá bem.

A visão de Rui Rio para o PSD, que teve consequências muito nefastas no Porto, é um dos seus grandes erros. Mas não é o único:

A alternativa do PSD a este PS – muito mais à esquerda do que no tempo de Mário Soares ou António Guterres – não pode ser ténue ou deixar dúvidas, mas tem de ser claríssima como foi com Sá Carneiro, Cavaco Silva ou Passos Coelho. O PSD não pode dar condições para o PS se tornar o partido charneira sem precisar de ganhar eleições para governar.

O PSD não pode estar apenas acantonado à esquerda, confuso na distinção entre a sua social democracia e o socialismo do PS, limitando o seu eleitorado.

A conceção política de Montenegro, que rompe com o passado recente e projeta o PSD como oposição total ao PS – indo de encontro ao seu eleitorado desde o centro esquerda ao centro direita, integrante da social democracia genuinamente portuguesa – é a estratégia que posiciona politicamente o PSD com possibilidade de vitórias eleitorais do passado.

Cabe agora aos militantes escolher, sabendo que o futuro do partido dependerá da vitória de uma destas escolhas.


Autor: Joaquim Barbosa
DM

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8 janeiro 2020