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As duas maiores preocupações dos portugueses

Segundo dados recentes, resultantes de ampla consulta popular, as duas maiores preocupações dos portugueses são, atualmente, a corrupção e a saúde; e, sem dúvida, qualquer delas a tirar o sono a todo o cidadão atento, consciente e responsável, não precisando de ser muito culto.

Assim sendo, a primeira delas porque mexe com os princípios da seriedade e da honestidade muitas vezes de governantes e gestores públicos, tendo como ponto de partida os padrões económicos e financeiros e a segunda porque a negligência, a falta de recursos e de meios e a má administração põem em constante perigo a eficácia e assistência na doença; obviamente, perante a necessária opção por uma ou por outra, que venha o diabo e escolha.

Pois bem, é demasiadamente conhecida de todos nós a polémica das relações familiares nos cargos e negócios do Estado, bem como dos desvios, lavagens e fugas de dinheiros de bancos e instituições públicas: envolvendo banqueiros e membros da Administração Publica; e esta situação leva a que sejamos um dos países mais corruptos do mundo; todavia, as medidas que ultimamente o Governo tomou para acabar com o flagelo não levam a lado nenhum e, a meu ver, mais eficaz seria juntar todos os corruptos de colarinho branco conhecidos e exigir-lhes que tomassem as medidas que julgassem necessárias para lhe pôr fim.

Ora, pensando bem, uma das razões fundamentais para a existência desta chaga social tem a ver com a instalação de famílias políticas na governação do país, seja a nível nacional, seja a nível regional e local, como igualmente com a prática política do compadrio e do amiguismo; já em tempos recuados, mais de duas décadas, António Guterres, como primeiro-ministro de um governo socialista, declarava alto e bom som a célebre frase no jobs for the boys (não há emprego para os rapazes), referindo-se a esta prática que, então, vigorava no recrutamento e nas nomeações para gabinetes ministeriais, empresas públicas e outros empregos estatais, sempre feitos à margem de concursos públicos e avaliação de currículos.

Daqui resulta uma teia de relações e de poder que domina o funcionamento de secretarias de Estado e de organismos públicos; e obviamente com os prejuízos daqui inerentes ao bom e sério funcionamento da máquina do Estado, bem como à necessária transparência e competência desejáveis nas tomadas de decisões para o bem coletivo.

Todos sabemos pelo que vemos que esta forma de ser e de estar faz com que sejamos um país de opacidades várias e falta de honestidade; sobretudo um país cinzentão, levando os portugueses a desconfiar e descrer de quem os governa e a concluir que nunca pelos dedos de uma só mão se pode contar os políticos que tratam o dinheiro de todos não conforme o deles; e esta idiossincrasia assenta que nem uma luva ao Homo Sapiens cujos dois traços da sua natureza são o egoísmo e a ganância.

Agora, relativamente à segunda preocupação dos portugueses, a saúde, esta tem na sua génese o mau funcionamento das instituições, mormente centros de saúde e hospitais que garantem o Serviço Nacional de Saúde (SNS); e este deficiente e mau funcionamento radica nas longas listas de espera para consultas e cirurgias, muitas vezes urgentes, e no tempo que demora a sua efetivação, como na falta de recursos humanos e materiais que, depois, se refletem, fundamentalmente na falta de pessoal, camas e centros de cuidados continuados e paliativos.

Assim, o SNS que tem sido vendido aos portugueses como a joia da coroa de sucessivos governos não passa de um embuste, dado o incumprimento dos objetivos e dos fins para que foi criado; e, até, a sua gratuitidade e universalidade, reconhecida e garantida na Constituição da República, são postas em causa pelos recursos que os doentes fazem junto dos serviços de saúde privados em hospitais e clínicas, onde não há listas de espera, nem escassez de meios.

Diz, claramente, a Constituição no seu artigo 64.°, que o SNS é universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais do cidadão, tendencionalmente gratuito; e igualmente exige a criação de condições económicas, sociais, culturais e ambientais que garantam a proteção da infância, da juventude e da velhice, permitindo o acesso de todos os cidadãos aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação.

Pois bem, qualquer cidadão sabe, porque já o sofreu na pele ou algum familiar seu ou vizinho, que este arrazoado não passa de uma declaração de boas intenções imbuída de carradas de demagogia; e a provar à saciedade que as promessas do 25 de Abril, que já leva 45 anos de existência, de mais justiça social e de mais igualdade de oportunidades no acesso e uso dos bens coletivos ainda não saíram da incubadora.

Todavia os políticos bem-falantes e bem pensantes não se cansam de prometer mundos e fundos e de apregoar à boca cheia que vivemos no melhor dos mundos; e, sobretudo, que o mundo cor-de-rosa porque todos anseiam está ao dobrar da esquina e ao alcance de todos.

O que nos leva a praguejar:

Porra, vai cá uma nortada!

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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8 janeiro 2020