Continuo com o tema do Domingo da Palavra de Deus.
7. A familiaridade com a Sagrada Escritura é muito recomendada aos catequistas.
É bom também que estes, diz O Papa, «atendendo ao ministério que desempenham de ajudar a crescer na fé, sintam a urgência de se renovar através da familiaridade e estudo das sagradas Escrituras, que lhes consintam promover um verdadeiro diálogo entre aqueles que os escutam e a Palavra de Deus».
8. A instituição do Domingo da Palavra de Deus não significa que a Bíblia seja objeto da nossa atenção apenas uma vez por ano. De forma alguma. A sua leitura deve fazer parte do quotidiano de cada um dos crentes. O teólogo protestante Karl Barth (1886-1963) afirmou que os teólogos devem ler a Bíblia, mas também os periódicos. Idêntica recomendação pode ser feita hoje aos cristãos: ler diariamente o jornal e a Bíblia. Procurar conhecer como o mundo anda e como é vontade de Deus que o mundo ande. É um convite a que, membro de duas cidades, a de Deus e a dos homens, tome consciência do dever de colaborar na construção de um mundo cada vez melhor: mais humano, mais fraterno, mais justo, mais solidário.
9. «Outra provocação que nos vem da Sagrada Escritura, escreve o Papa, tem a ver com a caridade. A Palavra de Deus apela constantemente para o amor misericordioso do Pai, que pede a seus filhos para viverem na caridade.
A vida de Jesus é a expressão plena e perfeita deste amor divino, que nada guarda para si, mas a todos se oferece sem reservas.
Na parábola do pobre Lázaro encontramos uma indicação preciosa.
Depois da morte de Lázaro e do rico, este vê o pobre no seio de Abraão e pede para Lázaro ser enviado a casa dos seus irmãos a fim de os advertir sobre a vivência do amor do próximo para evitar que venham sofrer os mesmos tormentos dele.
A resposta de Abraão é incisiva: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ (Lc 16, 29).
Escutar as sagradas Escrituras para praticar a misericórdia: este é um grande desafio lançado à nossa vida.
A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos, permitindo-nos sair do individualismo que leva à asfixia e à esterilidade enquanto abre a estrada da partilha e da solidariedade».
10. Para os católicos, adverte o Papa, a Bíblia não é a única fonte de revelação. Há verdades que nos chegaram por outro caminho. Escreve:
«Muitas vezes corre-se o risco de separar Sagrada Escritura e Tradição, sem compreender que elas, juntas, constituem a única fonte da Revelação.
O caráter escrito da primeira, nada tira ao facto de ela ser plenamente palavra viva; assim como a Tradição viva da Igreja, que no decurso dos séculos a transmite incessantemente de geração em geração, possui aquele livro sagrado como a «regra suprema da fé» (Ibid., 21).
Além disso, antes de se tornar um texto escrito, a Palavra de Deus foi transmitida oralmente e mantida viva pela fé dum povo que a reconhecia como sua história e princípio de identidade no meio de tantos outros povos.
Por isso, a fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro».
Autor: Silva Araújo